Dia de Campo da Agroecologia dá um show de pesquisas sustentáveis
Dia de Campo da Agroecologia dá um show de pesquisas sustentáveis
Foto: Paulo Lanzetta
Um público atento e curioso buscou técnicas para melhorar a sustentabilidade da agricultura, e mais do que isso, enxergar o que o ambiente oferece e está ao alcance do homem. O foco do evento foram dez estações tecnológicas que garantiram novas formas de diversificar a propriedade rural.
A Embrapa Clima Temperado (Pelotas,RS) dedicou toda esta quinta-feira (6/12) a apresentar as novidades tecnológicas à agricultura familiar, especialmente, soluções para a agricultura de base ecológica em busca da sustentabilidade ambiental e segurança alimentar durante a edição do seu 13º Dia de Campo da Agroecologia, evento de transferência de tecnologias tradicional na Unidade de pesquisas. Este ano participaram 18 caravanas da Metade Sul do RS, totalizando cerca de 800 participantes. Os diferenciais do evento foram a celebração dos 15 anos do Projeto Quintais Orgânicos, inauguração da Casa de Sementes Maneco Portantiolo, apresentação de duas promissoras cultivares para grãos e fruticultura, mostra de frutas nativas do RS e dez estações técnico-didáticas, que encantaram curiosos, agricultores, estudantes, técnicos e professores.
Um conhecimento técnico-didático
As dez estações, simultaneamente apresentadas durante seis horas de duração, das 9h às 15h, traduziram um conhecimento técnico-didático que fez com que o público participante pudesse ver, tocar, experimentar, afinal "sentir" de perto o que é tecnologia agropecuária. A temática central do evento Alternativas para Diversificação da Agricultura Familiar de Base Ecológica, foram apresentadas em estações com os seguintes temas:
Estação 1 - Minhocultura
A estação Minhocultura apresentou a maneira de preparar e aplicar, na prática, o húmus líquido, uma técnica que visa potencializar o uso de húmus de minhoca como estimulante de crescimento. Os agricultores foram estimulados a construírem minhocários em suas propriedades, a partir de uma nova compreensão sobre as propriedades bioestimulantes e fitoprotetoras do húmus de minhoca.
Para o estudante do curso técnico em agropecuária de Santa Rosa, Claudiomar Silva, a estação foi bem produtiva.“É um método mais tradicional e ecológico, e volta a se usar o húmus na produção ecológica. Acredito que é uma técnica que dá para implantar. Foi um conhecimento muito válido", disse Silva.
Estação 2 - Insumos para a agricultura familiar de base ecológica
Este espaço apresentou os estudos realizados com a caracterização de microorganismos que podem beneficiar o desenvolvimento de insumos. Foram apresentadas as possibilidades de uso de pós de rochas a partir da exploração de mineração; reaproveitamento do uso de lodos de estações de tratamento de água e tratamento de esgoto, neste caso, em parceria com a Corsan; e o uso de agentes de controle biológico para plantas invasoras, os bioherbicidas. Os resultados obtidos através da pesquisa são novos produtos granulados à base de rochas e uma política pública que reconhece a exploração e uso dos minerais. Os lodos tratados de contaminantes no uso de fertilização do solo demonstraram ter o dobro de nutrientes em relação ao uso de esterco bovino e o uso de agentes de controle biológico para plantas invasoras apresentou 600% de incremento radicular de uma planta em produtividade. Em 2019, será encaminhada a apresentação de dois bioherbicidas ao mercado.
O agricultor e feirante Luiz Cassal veio de Passa Sete/RS e disse que o que viu nesta estação é possível aplicar. "São técnicas de primeiro mundo, que os agricultores vão gostar. Agora é esperar chegar", disse Cassal.
Estação 3 - Apicultura
A estação apontou os principais fatores para a mortandade de abelhas e o zoneamento apícola no Rio Grande do Sul. Nela também foram apresentadas as melhores e piores áreas para a apicultura no Estado, como o uso de agrotóxicos está afetando a produção de mel e a importância de manter uma nutrição adequada para as abelhas.
Para a produtora Josélia Camargo, de Santa Clara/RS, a estação foi interessante e esclareceu suas dúvidas sobre a produção. "Quero expandir a criação de abelhas para agregar valor à produção orgânica e gerar mais renda para família", falou Camargo.
Estação 4 - Cultivo de batata-doce
Nesta estação foram explicadas as técnicas de multiplicação de mudas, e também apresentada as características de cada espécie produzida na Embrapa e os resultados de seu plantio em áreas indígenas e quilombolas. A técnica de multiplicação de mudas foi a que mais surpreendeu os participantes, pois apresentou a possibilidade de fazer até 300 mudas a partir de uma matriz. Cada folha pode dar origem a uma planta, o que torna o cultivo da batata doce uma prática barata e de grande potencial. Embora a batata doce esteja ligada apenas à alimentação humana, na estação também foram exploradas variações: álcool em gel de batata doce, chips, granola, etanol, produção de ração animal entre outros.Além disso, foram apresentadas as características nutritivas das cinco cultivares registradas pela Embrapa Clima Temperado. BRS Cuia, BRS Amélia, BRS Rubissol, BRS FEPAGRO Viola e BRS Gaita.
A nutricionista Rosane Demarco, participante do Grupo RAMA (Rede Agroecológica Metropolitana de Porto Alegre), afirma que achou a estação inovadora. "Focada na questão de alternativas para a alimentação e nutrição, tanto do ser humano quanto para os animais. A batata-doce é tudo de bom”, avaliou Demarco.
Estação 5 - Milho Farináceo
Foi apresentada a cultivar de milho farináceo BRS 015FB e suas características de produção, destacando o seu ciclo precoce, trazendo vantagens em relação aos milhos crioulos, além de seu potencial para a panificação. Possui também uma vinculação cultural com origens açorianas, desenvolvido nos arredores do município de São José do Norte/RS. As sementes serão multiplicadas e possivelmente a cultivar lançada no segundo semestre de 2019. Durante a estação foi demonstrada uma pequena lavoura da cultivar de milho plantada no local.
"Este milho é menos sucestível ao gorgulho e a outras doenças, ele é muito bom", declarou a estudante do curso de Agroecologia da EFASUL, Iasmin Rollof, que produz em sua propriedade para vender na feira de sementes, em Canguçu/RS.
Estação 6 - Quintais Orgânicos de Frutas
O projeto explicou que privilegia técnica e conceitualmente os princípios da produção de base ecológica, agregação de valor aos produtos produzidos e aborda questões culturais, étnicas, ambientais e medicinais das cultivares implantadas nos quintais. A estação também falou sobre as espécies oferecidas, seu potencial nutricional e de valor agregado, incluindo 20 espécies frutíferas, 12 espécies medicinais, feijão, milho, batata-doce e a forrageira BRS Kurumi. Foi apresentado também as possibilidades de pós-produção e agregação de valor aos 38 produtos produzidos nos quintais, transformando-os em geleias, sucos e em outros produtos que o agricultor pode garantir segurança alimentar, gerar renda e emprego.
Estação 7 - Fruticultura
A estação mais saborosa do evento. Nela foi apresentada a cultivar de amora-preta BRS Cainguá, que será lançada em breve pela Embrapa, e ainda técnicas para o cultivo do mirtilo. As pequenas frutas são uma oportunidade para o agricultor diversificar a sua produção e obter bons lucros, espécies como a amora-preta e o mirtilo são capazes de dar um alto retorno em pequenas áreas. A cultivar de amora-preta BRS Cainguá foi desenvolvida para a comercialização, por ter um sabor mais doce que agrada os consumidores. Já sobre o mirtilo, foram apresentadas técnicas de plantio, manejo e colheita visando fazer com que mais produtores plantem a cultivar.
Segundo o agricultor de Rio Grande/RS, Pedro Renato dos Santos Pinto, a cultivar BRS Cainguá parece ser uma boa alternativa., “A pesquisadora disse que produziu bem em área que não foi muito bem tratada. Para nós, isso é bom, se plantarmos em uma área boa e cuidar bem, vai produzir bem mais. É viável para quem gosta e também pra nós, que já plantamos outros tipos de cultivares. Nós plantamos amora apenas para consumo, e essa se torna uma boa alternativa por ter um sabor melhor”, declarou Pinto.
Estação 8 - Técnicas de restauração ecológica para a agricultura familiar
Com a instituição do Cadastro Ambiental Rural (CAR) as propriedades rurais terão que adequar seus passivos ambientais. Nesta estação foram demonstradas alternativas para facilitar este atendimento à legislação com o uso de Sistemas Agroflorestais (SAFs) e técnicas de nucleação. Foi apresentado o retorno que o uso de SAFs promove: a recuperação ambiental, o retorno econômico e a não dependência de suportes externos. Já as técnicas de nucleação mostraram os benefícios da formação de capões e de outras formas variadas de restauração ecológica através de galharia, puleiro artificial, chuva de sementes, grupo de Anderson. Além disso foi indicado também o uso de SAFs em plantio de linha, uma técnica mais barata e mais fácil de fazer a recuperação ambiental.
O estudante de Gestão Ambiental, de Sentinela do Sul/RS, Diego Gelinski, já tinha este conhecimento pela própria formação educacional, mas leva para casa técnicas que desconhecia sobre a recuperação ambiental. "A linguagem utilizada pelos instrutores é muito boa e eles nos passam essa mudança necessária de pensamento do agricultor, por que se ele pensa que vai perder aquela área fazendo essas técnicas, ou até mesmo, ele pode pensar que vai ganhar uma área da propriedade, não importa, das duas formas que estiver pensando, no final, ele vai estar preservando. Isso é sustentabilidade", disse Gelinski.
Estação 9 - Noz-Pecã
A estação apresentou detalhes importantes e dicas técnicas sobre o cultivo da nogueira, abordando o ciclo de produção da nogueira e as técnicas corretas para o replantio de mudas. Outra possibilidade mostrada foi a inclusão do cultivo em um modelo de produção consorciado com outras culturas como milho, erva-mate, batata-doce, amendoim e com a pecuária, permitindo a integração lavoura-pecuária.
A engenheira agrônoma e técnica da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) Solange Tonietto contou que pretende fomentar a pesquisa sobre o cultivo da nogueira-pecã dentro da UFPel, pois “o cultivo da noz pecã é promissor para a agricultura familiar e diversificação de renda”.
Estação 10 - Energias Renováveis
Nesta estação foi apresentada a tecnologia do Seguidor solar, ou tracker, e o aumento da eficiência na captação de energia. Foi apresentado o uso de paineis fotovoltaicos que acompanham a movimentação solar para maximizar a eficiência de insolação. Foi observado pelo estudo que o rendimento dos painéis fotovoltaicos é reduzido com o aumento da temperatura e com a inclinação solar. Então o uso de sistemas de inclinação móvel, ou trackers, seguem o movimento do sol no sentido de manter a face do painel o mais perpendicular possível aos raios de sol durante a maior parte do dia. O estudo está comparando diferentes sistemas e avaliando a eficiência deste sistema. Pois, a energia gerada na propriedade é uma fonte de renda importante, já que é comprovada a redução de forma significativa dos gastos com energia.
"A gente aprende mais coisa, é a segunda vez que já venho aqui, neste dia de campo, e vou levar mais ensinamentos para casa. Sempre que tiver eu vou vir, por que é um evento muito bom, pois aprender nunca é demais. A agricultura ecológica deve ser estimulada, pois o veneno traz muitos problemas, todo mundo se queixa de problemas por causa dele. Eu venho para buscar melhorias para a minha propriedade, e acabo levando coisas novas para implantar”. Arlei Otto, agricultor de Segredo/RS.
Ao final do evento, todos os participantes puderam levar para casa o documento 467 da Embrapa intitulado Alternativas para diversificação da Agricultura Familiar de Base Ecológica - 2018 e ainda, mudas de espécies nativas de frutíferas, uma amostragem de humus de minhoca, sementes de milho.
Cristiane Betemps e a colaboração de Catarine Thiel e Thais Boa Nova (MTb 7418/RS)
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