Montanhas têm importância cada vez mais reconhecida, mas ainda são carentes de políticas públicas
Montanhas têm importância cada vez mais reconhecida, mas ainda são carentes de políticas públicas
Na véspera do Dia Internacional das Montanhas, 11 de dezembro, a necessidade de elaboração e implementação de políticas públicas específicas foi ressalvada na abertura do III Workshop sobre Desenvolvimento Sustentável em Ambientes de Montanha, durante o Mountains 2018, que segue até sexta-feira em Nova Friburgo. “O Brasil tem 16% de seu território em áreas de 600 metros ou mais de altitude, somos signatários de vários documentos importantes e não temos políticas públicas para as montanhas. Esperamos durante este evento gerar elementos para a criação de normas que diferenciem o uso de ambientes planos de outros montanhosos”, afirmou na abertura do evento a pesquisadora da Embrapa Agrobiologia Adriana Aquino, presidente da Comissão Organizadora do evento.
A convergência do discurso dos representantes das organizações presentes à mesa de abertura expressou a crescente percepção sobre a importância que as montanhas têm para o meio ambiente, para a humanidade e para as populações que nelas residem e trabalham para seu sustento. O diretor de P&D da Embrapa, Celso Moretti, também integrante da solenidade, reafirmou a importância do Mountains para a discussão de políticas públicas para as montanhas e ressaltou que a área de floresta preservada no Brasil, com toda sua competitividade na produção de alimentos, fibras e bioenergia, equivale à da União Europeia. Ele lembrou ainda que o Brasil saiu da condição de importador de alimentos para ser um dos maiores atores do mundo na produção de alimentos com sustentabilidade.
O prefeito Renato Bravo, que também compôs a mesa de abertura do evento, destacou o aniversário de Nova Friburgo, hoje com 184 mil habitantes e 200 anos de fundação, e agradeceu à Embrapa pela parceria de mais de dez anos com o Núcleo de Pesquisa e Treinamento de Agricultores (NPTA), mantido no município pela Empresa. Ele se comprometeu a formalizar apoio a políticas públicas de cuidado com montanhas, citando a presença dos secretários municipais de Agricultura, Ciência, Turismo e Meio Ambiente como evidência da importância atribuída ao evento pela prefeitura.
Representante da Aliança das Montanhas (Global Mountain Partnership), órgão vinculado à Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), Rosalaura Romeo incentivou a participação dos presentes no movimento #MountainsMatter, criado como resultado de um conjunto de documentos e articulações originados na conferência da ONU Rio 92 e seus desdobramentos (Rio+5 Rio+20, entre outros). “Todos estamos conectados às montanhas, elas importam a todos”, afirmou, acrescentando que é preciso um trabalho conjunto para elaboração de políticas públicas e aprovação de investimentos.
Também compuseram a mesa a coordenadora do Centro de Investigação de Montanhas do Instituto Politécnico da Universidade de Bragança, em Portugal, Isabel Ferreira; o professor Martin Price, da University of Highlands and Islands, da Escócia; a professora Mônica Amorim, da Universidade Federal do Ceará; Luís Felipe César, da ONG Crescente Férti; Fernanda Gripp, do Sebrae de Nova Friburgo; Rosalaura Romeo, da Aliança das Montanhas (Global Mountain Partnership), vinculada à FAO; e o prefeito de Nova Friburgo, Renato Bravo.
Além do Workshop, o Mountains 2018 engloba também a II Conferência Internacional de Pesquisa para o Desenvolvimento Sustentável em Regiões Montanhosas, para a qual foram selecionados 211 resumos de trabalhos de 29 países de todos os continentes. Esta é a segunda edição do evento, que foi realizado pela primeira vez em Portugal, em 2016, quando impulsionou a criação da Rede Lusófona de Montanhas e a Rede Ibérica de Pesquisa em Montanhas. Para Isabel Ferreira, a expectativa é de que a próxima edição ocorra em um terceiro continente.
A importância das montanhas para o desenvolvimento sustentável
O professor Martin Price (Centre for Mountains Studies, do Perth College, e University of Highlands and Islands, da Escócia) brindou o Mountains 2018 com a palestra de abertura A importância das montanhas para o desenvolvimento sustentável. Segundo Martin, 24% das terras do mundo podem ser consideradas montanhas e nelas residem de 13% a 26% dos humanos. A importância das montanhas, entretanto, não provem tanto da área que ocupam ou da quantidade de população humana que abriga, mas de aspectos culturais, como considerá-las lugares sagrados, a exemplo do Nepal e Japão;aspectos físicos, como fonte de recursos minerais, ou biológicos como a alta biodiversidade e ponto de origem de diversos cultivos básicos – trigo,quinoa, chá, batata, uyuco – para diferentes povos.
A importância das montanhas no aspecto da biodiversidade também se expressa por meio da variedade de outras espécies de animais e fungos (cogumelos), por exemplo. Também conferem relevância às montanhas, as águas que nelas se originam para irrigação, fonte de energia, abastecimento urbano; e múltiplas oportunidades de recreação e turismo.
O professor também tratou das ameaças às montanhas oriundas das mudanças climáticas. Estas têm provocado a redução das geleiras, a migração de espécies vegetais para locais mais altos, o risco de extinção de anfíbios; aumento do número de deslizamentos e o maior gasto com a remoção de entulhos; aumento de períodos de secas e de incidência de doenças. Price ponderou que as mudanças climáticas também trazem oportunidades.
Ele lembrou que muito das definições políticas e conceituais tem origem nos documentos aprovados na Rio 92, especialmente o capítulo 13 da declaração aprovada na Rio Earth Summit, e historiou um conjunto de posicionamentos internacionais. Como documentos preparatórios para a Rio 92 An Appeal for the Mountains e State of the World´s Mountains, e após, de 1997para a Rio + 5, Mountains ofthe World – Challenges for the 21th century e Mountains of the world – A Global Priority, e de 2015, Managing the vulnerability of mountains people to food insecurity, que apresenta informações preocupantes como a de que 329 milhões de pessoas que habitam regiões de montanha estão em situação de insegurança alimentar e que esta aumentou 30% desde o ano 2000.
João Eugênio Diaz (MTb 19276/RJ)
Embrapa Agroindústria de Alimentos
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