Embrapa realiza evento sobre eficiência alimentar na pecuária de corte
Embrapa realiza evento sobre eficiência alimentar na pecuária de corte
O Workshop “Eficiência Alimentar: ferramenta fundamental na pecuária lucrativa” reuniu, em 30 de novembro, na Embrapa Arroz e Feijão, em Santo Antônio de Goiás (GO), produtores, técnicos e criadores. O evento, que pela manhã contou com palestras no auditório e à tarde com visitas monitoradas ao campo, foi promovido pelo Núcleo Regional da Embrapa Cerrados (DF) e Associação Goiana dos Criadores de Zebu (AGCZ).
A eficiência alimentar está relacionada a uma pecuária de ciclo curto e lucrativa, pois reduz os custos de alimentação que representam a maior parcela das despesas no sistema de produção (56%-59% no período de cria), além de otimizar o desempenho animal. É considerada mais um critério de seleção para os programas de melhoramento genético das raças zebuínas.
A solenidade de abertura do evento teve a participação do superintendente executivo da Agricultura, Antônio Flávio de Lima representando o governador de Goiás, José Eliton de Figueiredo Júnior, e do presidente da Comissão de Pecuária de Corte da Federação de Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), Maurício Veloso. O diretor de Inovação e Tecnologia da Embrapa, Cleber Soares, foi representado pelo gerente de acesso a Mercados da Secretaria de Inovação e Negócio, Alessandro Cruvinel.
Também participaram da solenidade de abertura, os chefes gerais da Embrapa Cerrados, Cláudio Karia, e da Embrapa Arroz e Feijão, Alcido Wander, e o chefe-adjunto de Transferência de Tecnologia da Embrapa Cerrados, Sebastião Pedro Neto.
A importância da aproximação dos setores públicos e produtivos para alavancar o desenvolvimento da pecuária nacional foi ressaltada na abertura do evento. O Centro de Desempenho Animal foi considerado como um exemplo dessa integração e uma antecipação aos caminhos que devem ser percorridos para que a pecuária brasileira se torne mais sustentável e competitiva no mercado internacional.
O Centro de Desempenho Animal, mantido pelo Núcleo Regional da Embrapa Cerrados em área da Embrapa Arroz e Feijão, foi construído com investimento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg), do Fundo para o Desenvolvimento da Pecuária em Goiás (Fundepec) e da Superintendência de Desenvolvimento do Centro-Oeste (Sudeco). E ainda tem como parceiros a Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), a AGCZ, a Associação Nacional de Criadores e Pesquisadores (ANCP), Aval Serviços Tecnológicos e CRVLagoa.
Centro de Desempenho Animal
O pesquisador da Embrapa Cerrados e coordenador do Núcleo Regional, Cláudio Magnabosco, afirmou que o Centro de Desempenho Animal tem como objetivos a avaliação de animais em sistema de confinamento para características de eficiência alimentar, além das produtivas, reprodutivas e carcaças; a identificação de animais superiores; e a difusão do material genético nos rebanhos do Centro-Oeste.
Magnabosco explicou que um touro eficiente agrega valor ao rebanho, proporcionando maior produtividade, aumento do ganho em peso, diminui a idade do primeiro parto e do abate, melhora a qualidade da carne e carcaça, e, consequentemente, aumenta a lucratividade do pecuarista. Para melhor exemplificar um animal eficiente, ele citou resultados de pesquisas desenvolvidas no Centro de Desempenho Animal, no decorrer deste ano.
Os estudos de eficiência alimentar comparam a ingestão de matéria seca (MS) e o ganho de peso diário. O animal desejável, ou seja, o mais eficiente é aquele que com baixa ingestão de MS tem o maior ganho de peso. Os resultados apontaram uma diferença de 18% no consumo de matéria seca entre o animal que teve desempenho indesejável e o de desempenho desejável.
O pesquisador apresentou a avaliação de quatro animais. O de melhor desempenho ganhou 1,94 Kg/dia com consumo de 10,07 Kg de MS/dia. O outro animal, que teve praticamente o mesmo ganho de peso (1,90 Kg/dia), consumiu 14,90 Kg de MS/dia. O que consumiu menos matéria seca (9,89 Kg/dia) ganhou apenas 1,53 Kg/dia. O quarto animal ganhou 1,56 Kg/dia e consumiu 13,22 kg/dia de matéria seca.
Outro exemplo, destacado por Magnabosco, de animal com desempenho desejável (baixa ingestão de MS x maior ganho de peso) foi o que teve peso final de 635 Kg, com ganho de peso diário de 1,41 Kg/dia. O consumo alimentar esperado para esse animal era de 11,82 Kg/dia, no entanto, o consumo de alimento real foi de 10,45 Kg/dia e consumo alimentar residual (CAR) foi de 1,375 kg. Os animais que consomem menos que o estimado são mais eficientes.
“O produtor quer animais com maior eficiência alimentar e precocidade. Com os materiais genéticos desses animais em seus rebanhos, ele terá uma pecuária de ciclo curto, mais lucrativa, sendo mais sustentável econômica e ambientalmente”, ressaltou Magnabosco.
Sobre as atividades futuras do Centro de Desempenho Animal, o pesquisador destacou os trabalhos que serão desenvolvidos nos laboratórios de carne e nutrição. No laboratório de carne serão realizados estudos para maciez da carne, espessura de gordura, área de olho do lombo, marmoreio, expressão gênica e estudos de genômica, proteômica, transcriptômica e metagenômica. No de nutrição, os trabalhos serão sobre produtividade e qualidade, manejo de pastagens e conservação de pastagens (silagem).
Testes com Touros Jovens
O pesquisador Marcos Fernando Costa (Embrapa Arroz e Feijão) falou sobre o Teste de Desempenho de Touros Jovens (TDTJ), com provas de ganho de peso a pasto que antecedem a avaliação da eficiência alimentar. O objetivo do teste é identificar entre os participantes aquele de melhor desempenho global, ou seja, o que apresenta melhor ganho de peso diário, melhor avaliação de carcaça, de avaliação visual (Epmuras) e de avaliação reprodutiva (Perímetro Escrotal e Volume Testicular).
Os animais que se destacam pelo desempenho individual em características de crescimento, reprodução, funcionalidade, morfológicas e de carcaça durante as avaliações do TDTJ são disponibilizados em leilões ou para Centrais de Inseminação Artificial. Sete animais do último TDTJ foram contratados por Centrais. A incorporação desses animais ou de seus genes no rebanho reduz os custos dos sistemas de produção e aumenta a rentabilidade do pecuarista.
Eficiência alimentar
Desde início de julho deste ano, os animais participantes do TDTJ também são avaliados para eficiência alimentar. Os animais têm um período de adaptação de 21 dias, e em seguida, um período de 70 dias de avaliação, em que é feita a mensuração do consumo por animal (24 horas/dia) e fornecida uma dieta para ganho de 1,2 a 1,3 kg/dia. As pesagens ou mensurações ocorrem em intervalos de 14 dias, e também são feitas análise bromatológica do alimento fornecido e ultrassonografia
de carcaça.
O pesquisador Eduardo Eifert (Embrapa Cerrados) explicou como é calculado o consumo alimentar residual (CAR), que compara animais diferentes em peso, taxa de ganho de peso, grau de acabamento e estado fisiológico. Estima-se um consumo ajustado para determinado animal e compara com o consumo real, sendo o CAR diferença entre esses consumos. Quando o animal consome menos que o consumo esperado ele é eficiente. “CAR é uma característica diretamente relacionada com lucratividade”, enfatizou.
Nos resultados apresentados pelo pesquisador, a diferença média entre os grupos de animais mais e menos eficientes foi de 18,34%. A renda líquida do animal não eficiente (CAR positivo) foi de R$ 206,40 com custo de R$ 104 por arroba. Já com o animal eficiente (CAR negativo) obteve-se a renda líquida de R$ 316,40 com custo de R$ 85 por arroba. Ou seja, a diferença de renda líquida entre os animais é de 53%.
O professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp) Fernando Baldi também abordou o CAR em sua palestra. Ele ressaltou, principalmente, o impacto da seleção para CAR sobre os programas de melhoramento genético e destacou que um animal que precisa de menos alimento para se manter no sistema de produção é, além de mais eficiente, menos emissor de gases de efeito estufa.
Estações técnicas
Na visita ao Centro de Desenvolvimento Animal, os participantes do evento percorreram cinco estações técnicas. O pesquisador Cláudio Magnabosco falou sobre a pesquisa que tem o objetivo de determinar a influência da seleção para CAR na precocidade sexual de novilhas Nelore. Foi observado que as novilhas mais pesadas são as com maior precocidade sexual. Marcelo Garcia, da ABCZ, também ressaltou que a precocidade sexual é resultado do trabalho de melhoramento genético.
Na estação sobre nutrição estratégica para eficiência alimentar, o pesquisador Eduardo Eifert destacou a importância do planejamento alimentar para obtenção de novilhas em ciclo curto de produção. A nutrição de solo, as estratégias de forrageiras e a pecuária de precisão como uma realidade na pecuária de ciclo curto foram temas das demais estações. Os temas foram abordados, respectivamente, pelos parceiros das empresas Vitacal, Fertilizantes Tocantins, Agroquima, Aval Serviços Tecnológicos e Intergado.
Após participar do evento, o produtor Frank Orro se sente preparado para escolher um reprodutor para o rebanho que mantém em Costa Rica, município do Mato Grosso do Sul. “Em parte da fazenda tenho uma floresta e em outra tenho gado. Vou investir na aquisição de touros e agora tenho parâmetros para isso. No próximo ano, vou introduzir lavoura e iniciar um sistema integrado de produção”, comentou.
O criador de gado elite da raça Senepol, Luiz Antônio Chaves Júnior, acompanha com entusiasmo o trabalho realizado pela Embrapa com o gado Nelore. Sua expectativa é de que a raça Senepol possa também ser incluída nos testes de avaliação. “Os criadores buscam o melhoramento genético e as provas são importantes para melhorar a eficiência da raça”, afirmou. Nas fazendas em Mozarlândia e Jussara, municípios de Goiás, o criador tem atividades de cria, recria e engorda dos animais.
Liliane Castelões (16.613 MTb/RJ)
Embrapa Cerrados
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