Visitação e produção sustentável em áreas montanhosas podem contribuir para conservação ambiental
Visitação e produção sustentável em áreas montanhosas podem contribuir para conservação ambiental
Conciliar preservação ambiental, produção rural e turismo ecológico é um desafio inerente às regiões montanhosas. Mas, segundo especialistas que participaram do III Workshop sobre Desenvolvimento Sustentável em Ambientes de Montanha, em Nova Friburgo, é uma tarefa perfeitamente possível. “A visitação nesses espaços não é antagônica à conservação. É preciso mudar essa visão e entender que elas andam juntas”, afirmou a escaladora e montanhista Kika Bradford, presidente da Confederação Brasileira de Montanhismo e Escalada (CBME), durante mesa-redonda sobre visitação e produção em áreas protegidas.
Com mais de 15 anos de experiência em terrenos montanhosos, Kika já escalou montanhas nos Estados Unidos, no Canadá, no México, no Chile, na Argentina e no Brasil, e é favorável à diversidade para o turismo de montanha. “Hoje há uma ‘turistização’ das montanhas, com pressão para que haja mais conforto, mais trilhas mapeadas, mais estrutura para receber turistas. Isso é importante”, disse, lembrando que o turismo gera renda e promove uma espécie de ativismo de conservação mundial. “Mas há uma minoria, que é muito grande, que quer o ‘perrengue’, que tem habilidade e experiência para isso. Então tem que ter investimento em trilhas sinalizadas, suporte e estrutura, mas também em trilhas com pouca ou nenhuma intervenção humana”, completou.
No Brasil, o montanhismo e o trekking vêm ganhando cada vez mais adeptos – e especialmente no Rio de Janeiro isso foi ainda mais estimulado com a inauguração, em 2017, da trilha Transcarioca, com 200 quilômetros de extensão. Trata-se da primeira trilha de longo curso no Brasil e a maior urbana da América Latina. De acordo com o coordenador-geral de Uso Público e Negócios do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Pedro Menezes, as trilhas de longo curso são a essência dos pilares da instituição: asseguram o uso público, como direito inalienável da sociedade; geram emprego e renda; e estimulam a conservação ambiental.
Pedro falou sobre o processo de implantação da Transcarioca e de outras trilhas de longo curso no País. “Atualmente estamos com 39 trajetos em implantação, com 1,9 mil quilômetros já implementados. Esperamos mais 20 mil quilômetros para os próximos dez anos”, revelou. De acordo com ele, um percurso de longa distância é uma importante ferramenta de conservação: “Se for bem planejado, vai juntar áreas núcleo, áreas de preservação permanente e reservas legais, permitindo a geração de emprego e renda.”
Como exemplos de contribuições econômicas desse modelo de trilha, o profissional do ICMBio citou o aumento de guias de turismo, o transporte de bagagens, a montagem de acampamentos, a venda de mapas e guias de trilhas, o aluguel de equipamentos, entre outras atividades geradoras de renda. Hoje, mais de cem países têm trilhas de longo curso – só nos Estados Unidos são mais de mil, com cerca de 95 mil quilômetros sinalizados em todo o país.
Produção sustentável em áreas de alta biodiversidade
Além do turismo em ambientes de montanha, outra perspectiva para estimular a conservação é incentivar a produção sustentável de artigos artesanais, manufaturados e locais. É o que destacou o diretor-executivo da Fundação ProYungas, da Argentina, Sebastián Malizia. “Os produtos Yungas têm foco na produção ambiental e socialmente responsável, sendo mais artesanais e feitos a partir de mel, fibras de lã, fibras vegetais. Os princípios são: trabalhar com sustentabilidade, com respeito aos direitos da comunidade e conservando a biodiversidade”, contou.
Sebastián também falou um pouco sobre os ambientes montanhosos da Argentina e de sua configuração: parte baixa, onde se situa a área produtiva; parte média, em montanhas de altitude intermediária e geralmente de conservação particular, com média biodiversidade; e parte alta, quase sempre parques estaduais de conservação pública, com alta biodiversidade. A busca por soluções que impactem o menos possível o meio ambiente é uma constante, mas, enquanto profissional focado em ambientes montanhosos, ele lança uma reflexão: “Fala-se tanto de água, de aumento da população, de produção, mas é preciso questionar: as mudanças climáticas originam-se nas atividades que estamos promovendo nas montanhas ou em ambientes de superfície plana?”
Liliane Bello (MTb 01799/RJ)
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