Excursão técnica fala de experiências de diversificação agrícola em ambientes de montanha
Excursão técnica fala de experiências de diversificação agrícola em ambientes de montanha
Como parte das atividades do Mountains 2018, que ocorre em Nova Friburgo no período de 10 a 14 de novembro, cerca de 20 pessoas participaram de uma excursão técnica sobre iniciativas de sistemas agroflorestais e fruticultura orgânica em ambientes de montanha no Estado do Rio de Janeiro. O objetivo foi conhecer de perto estratégias produtivas e de mercado associadas principalmente à agroindústria e ao turismo rural.
“Pude observar opções viáveis e sustentáveis de produção agrícola em áreas montanhosas. Percebi que de fato a diversificação produtiva é uma estratégia eficaz para a garantia da eficiência de agricultura de montanha. Isso só consolida o que tenho pesquisado em meu Doutorado”, diz Elton Oliveira, técnico agrícola do Departamento de Agronomia da Universidade Federal Fluminense (UFF). Outra participante da excursão também expressou sua satisfação ao final do dia: “Participar dessas visitas técnicas foi muito gratificante e produtivo. Aprendi muito com essas experiências, e pretendo implementar esses aprendizados em meu sítio no município de Cunha, SP”, conta Marlene Rodrigues, produtora rural.
No total, foram realizadas oito visitas técnicas a experiências relacionadas à conservação ambiental na Região Serrana do Estado do Rio de Janeiro, com ênfase na valorização da paisagem e geração de renda de forma sustentável, a partir da integração harmônica das comunidades montanas com os espaços onde vivem.
Sistemas Agroflorestais e Fruticultura orgânica em região de montanhas
Aos pés de grandiosos afloramentos rochosos na Serra do Mar, o grupo visitou a Fazenda Monte Cristo, no município de Trajano de Morais, RJ. Fundada por colonos europeus durante o século 18 para a produção de café, a propriedade pertence a família há quatro gerações. Após 20 anos em desuso, há dois anos o engenheiro agrônomo Guilherme e sua família decidiram iniciar o plantio de alimentos orgânicos pelos sistema agroflorestal (SAF) e comercializar direto para o consumidor em feiras orgânicas e pela internet . “Percebi que o sistema tradicional de produção agrícola requer sempre o uso de insumos industriais. Com o SAF, conseguimos fechar o ciclo de nutrientes da produção com adubação orgânica e manejo agrícola. Uma das nossas principais preocupações é manter o solo coberto para garantir sua atividade biológica”, diz o agricultor familiar.
A recuperação dos solos degradados pelo plantio intensivo de café e criação de bovinos leiteiros em uma área de acentuado aclive é um dos maiores desafios da propriedade. Mas nas áreas onde o sistema agroflorestal foi implementado, a natureza responde rápido com a alta produtividade e conquista de aliados naturais à lavoura. “Observamos que as formigas começaram a atacar plantas daninhas, e não a nossa produção de alimentos. Então, começaram a trabalhar a nosso favor. Depois disso, percebi que precisamos entender melhor o comportamento das formigas e sua integração no sistema agroflorestal”, comenta o produtor.
Atualmente, a Fazenda Monte Cristo tem como foco a produção orgânica de hortaliças, fruteiras, raízes, palmito e café arábica. O retorno financeiro com o sistema agroflorestal veio bem rápido. “Não adianta apenas pensarmos no meio ambiente, em sustentabilidade, se não obtivermos lucratividade”, afirma Guilherme.
O almoço com comida natural e orgânica foi servido ao grupo na pousada Morgelicht, (Luz da Manhã, em alemão) em uma área de Mata Atlântica, na Serra de Macabu, município de Bom Jardim, RJ. E à tarde, a excursão seguiu para o Sítio Quaresmeira, no município de Duas Barras, RJ.
Há mais de vinte anos, o casal Mark Ferrez Weinberg e Nicole Doerrzapf mantêm produção orgânica de pêssego, maracujá, tangerina, figo amora, framboesa, banana, macadâmia, azeitona, dentre outros produtos. “O manejo é todo manual, pois não há como mecanizar a produção em região de montanha. Por isso, trabalhamos de forma menos diversificada, mas com produtos de alta qualidade e com uma produtividade no campo que chega a duas ou três vezes a média nacional”, conta Mark. Para ele, é preciso aproveitar as vantagens do microclima da montanha na produção de frutas orgânicas de alto valor agregado para contrapor à falta de infraestrutura e dificuldade de acesso a essas regiões.
Um dos lugares especiais da propriedade é a chamada “Casa de Doces”, que fica sob responsabilidade de Nicole Doerrzapf. Figada, bananada, goiabada, pessegada com certificação orgânica são algumas das delícias produzidas por uma equipe de cinco pessoas. Ao todo, 10 empregados trabalham no sítio.
Ao longo da visita, é possível observar o foco em sustentabilidade na gestão do Sítio Quaresmeiras: desde a geração de emprego e renda à produção orgânica e conservação ambiental, até o reaproveitamento integral das perdas de alimentos do campo e dos resíduos da agroindústria. “Não perdemos nada aqui na nossa propriedade. Mesmo aquele fruto mais feio que seria rejeitado pelo consumidor, vira doce em calda, compota ou geleia, por exemplo. E, tudo o que sobra de matéria orgânica, proveniente do campo ou da agroindústria, vai para compostagem”, relata. O casal também prefere manter uma relação direta com o consumidor final, participando de feiras orgânicas e estabelecendo o preço final do produto junto aos seus revendedores. Sucesso garantido!
Sobre o Mountains 2018 e as excursões técnicas
O Mountains 2018 aconteceu de 10 a 14 de dezembro, em Nova Friburgo/RJ. O evento foi organizado conjuntamente pela Embrapa, pela ONG Crescente Fértil, pelo Centro de Investigação de Montanha, pelo Instituto Politécnico de Bragança, pela Universidade Federal do Ceará, pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, pela Unesco, pelo Mountain Partnership e pela University of Highlands and Islands. Esta é a segunda edição do encontro – a primeira foi em 2016, em Bragança, Portugal.
A programação do Mountains envolveu ainda o III Workshop sobre Desenvolvimento Sustentável em Ambientes de Montanha e a II Conferência Internacional sobre Pesquisa para o Desenvolvimento Sustentável em Regiões de Montanhas. Entre o workshop e a conferência, os participantes puderam conhecer de perto algumas experiências bem-sucedidas em regiões de montanhas, durante excursões técnicas temáticas. “Buscamos oferecer oportunidades para que conhecessem atividades e experiências, produtos e serviços de qualidade e ambientalmente sustentáveis”, explicou o pesquisador Mauro Vianello, da Embrapa Agroindústria de Alimentos e membro do comitê organizador do Mountains.
Além de sistema agroflorestal, agricultura orgânica, socioagrobiodiversidade, educação do campo, turismo sustentável, agricultura familiar, sistemas agroflorestais, fruticultura orgânica, pecuária leiteira, cafeicultura, produção animal, serviços ecossistêmicos, artesanato, gestão de áreas de risco ambiental, recuperação de áreas degradadas e visitação em área de proteção ambiental foram alguns dos temas abordados nos sete roteiros das excursões oferecidas aos participantes do Mountains 2018.
Aline Bastos (MTb 31.779/RJ)
Embrapa Agroindutria de Alimentos
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