Produção sustentável e mudanças climáticas são tema de palestra na Expozebu 2019
Produção sustentável e mudanças climáticas são tema de palestra na Expozebu 2019
Foto: Breno Lobato
Luiz Adriano Cordeiro falou sobre os impactos das mudanças climáticas que podem ocorrer na agricultura
A produção agropecuária sustentável como forma de amenizar os efeitos do aquecimento global e das mudanças climáticas foi destacada pelo pesquisador Luiz Adriano Cordeiro, da Embrapa Cerrados (Planaltina-DF), em palestra realizada no dia 3 de maio, em Uberaba (MG), durante a Expozebu 2019. A palestra fez parte da programação do 10º Encontro Rural Jovem, promovido pela ABCZ Jovem em parceria com a Sociedade Rural Brasileira, e foi acompanhada por cerca de 600 pessoas, entre estudantes e jovens produtores rurais.
O pesquisador salientou que as mudanças climáticas são um problema ambiental real que vai afetar as gerações mais novas, mas que já existem soluções tecnológicas para que a agropecuária possa conviver com esse cenário. “A agropecuária é uma atividade econômica 100% dependente do clima. Se o clima mudar, a agropecuária vai mudar. Para melhor? Não sabemos”, disse, apontando a incerteza quanto ao que vai acontecer com o clima.
Ele lembrou que a humanidade depende dos recursos naturais para gerar energia, alimentos, minerais, fibras, entre outros materiais, além de fazer a utilização direta para a manutenção de processos fundamentais à vida, como os ciclos do ar, da água e do carbono. “De uma forma ou de outra, precisamos de tudo o que está à nossa volta. Precisamos cuidar do meio ambiente para que esses recursos não acabem”, salientou.
O pesquisador apontou os principais desafios contemporâneos da agricultura, mais complexos que os do passado: diminuição da disponibilidade de recursos naturais, desmatamento e menos áreas de expansão, mudanças climáticas e gases de efeito estufa (GEE), comprometimento da biodiversidade e necessidade de uso eficiente do solo e da água, por um lado; e aumento da população mundial, demanda crescente por alimentos e bioenergia, mudança no padrão do consumo e competição por espaço, pobreza, por outro lado.
“No caso da agropecuária, a tentativa de equilibrar essas demandas é aumentar a eficiência sistemas de produção com a intensificação do uso da terra, como ocorre com os sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta. Precisamos de, no mínimo, aumentar em 40% a 50% da produção de alimentos daqui 20 a 30 anos”, explicou Cordeiro.
Efeito estufa
Com o aumento da demanda de energia e recursos naturais para as atividades econômicas, também aumenta a poluição. O principal reflexo da atividade econômica – e o mais problemático – é a queima de combustíveis fósseis, que além de poluir a atmosfera, gera gases de efeito estufa (GEE). “O efeito estufa é um fenômeno natural, estamos vivos graças a ele. Mas se a concentração desses gases é muito aumentada pela atividade econômica, o calor fica mais preso na atmosfera. Isso está causando o aquecimento global. O planeta está mais quente”, apontou.
Segundo o pesquisador, aumentos de 1º C, 2 º C ou 3º C na temperatura média mundial já fazem diferença, pois é a temperatura que coordena o clima do planeta: “A temperatura comanda vento, chuva, evaporação do solo, a dinâmica de água. Se aumentarmos a temperatura, o clima pode mudar”. Presentes na composição do ar atmosférico, o dióxido de carbono (gás carbônico), o metano e o óxido nitroso são os três principais gases que causam o efeito estufa. “Toda vez que um pasto, uma floresta ou combustível fóssil são queimados, a fumaça tem gás carbônico, que fica 200 anos retendo calor na atmosfera até se decompor”, disse, mostrando dados do aumento da concentração estimada de gás carbônico na atmosfera em 1750, quando se iniciava a Revolução Industrial (280 partes por milhão - ppm), em 1998 (365 ppm) e atualmente (403 ppm).
Cordeiro comentou que, segundo muitos pesquisadores e relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), é bem provável que a situação atual de aquecimento global tenha como uma das causas do aquecimento global. “É um assunto polêmico. O fato é que temos mais gás carbônico na atmosfera”, apontou. De acordo com dados do IPCC, a temperatura já aumentou 1º C desde 1905, embora tenha sido mais ou menos estável nos últimos 15 anos. Para não haver grandes mudanças no clima, segundo os pesquisadores do IPCC, o aumento da temperatura deve ser de no máximo 2º C. “Se a temperatura aumentar 3º C ou 4ºC, talvez a abundância de recursos naturais se vá. Mas não se sabe com certeza, é imprevisível”.
Um estudo de 40 anos da Embrapa Cerrados analisou variáveis climáticas a partir dos dados colhidos da principal estação climatológica na Unidade entre 1973 e 2013. Enquanto a média anual de precipitação nos primeiros 10 anos foi de 1.574 mm, nos últimos 10 anos do levantamento diminuiu 23,7%, para 1.201,5 mm no local. Na comparação entre o primeiro e o terceiro decênio, houve diminuição de 28,3% ou 444,7 mm de chuva. “Isso é mais da metade de uma safra”, observou o pesquisador. A média anual de temperatura máxima subiu 1º C entre os primeiros e os últimos 10 anos, passando de 27,1º C para 28,1º C. Entre o primeiro e o terceiro decênios, o aumento foi de 1,2º C.
Imprevisibilidade
As mudanças do clima se referem às mudanças no padrão do clima atribuídas direta ou indiretamente a atividades humanas que alterem a composição da atmosfera global. “Ou seja, é a alteração o que 1º C, 2 º C ou 3º C a mais podem fazer em todos os processos atmosféricos”, completou Cordeiro, apontando alguns exemplos de mudanças climáticas no Brasil, como eventos de seca na Amazônia, ciclones em São Paulo e tornados no Sul do País. “O problema da mudança do clima não é 1º C a mais, é não saber se vai chover muito ou pouco. Podemos ter o mesmo prejuízo se não chover ou chover o dobro do esperado. Perde-se a previsibilidade. E isso interessa à agricultura”, pontuou.
Entre as ameaças das mudanças climáticas à agricultura, estão o aumento da temperatura, afetando a fisiologia das plantas; secas e enchentes; maior incidência de pragas e doenças; perda de produtividade e salinização. Por outro lado, a agricultura também pode ser uma ameaça ao clima, com mudanças no uso da terra, desmatamento, degradação dos solos, emissões da agropecuária, uso excessivo de fertilizantes nitrogenados, entre outros. Mas existem soluções tecnológicas que diminuem as emissões de GEE e permitem que o produtor possa conviver com as mudança climáticas, como o sequestro de GEE pelas diferentes culturas; plantio direto e demais boas práticas agropecuárias; Reserva Legal, Áreas de Preservação Permanente e Unidades de Conservação.
“Tudo que fazemos inadequadamente na atividade agrícola pode gerar emissões de GEE. Pasto degradado, ruminação dos bovinos, gradear solo e fogo são emissores”, apontou Cordeiro. Ele mostrou uma simulação de mapas da área apta para a produção de café em Minas Gerais, que segundo pesquisa tende a diminuir com o aumento da temperatura. “Com 5º C a mais de temperatura, o café não tem mais viabilidade no Estado”, completou.
Segundo Cordeiro, há duas formas de convivência com as mudanças climáticas: a mitigação e a adaptação. A mitigação consiste em reduzir os efeitos com medidas como o sequestro de carbono ou remoções de gás carbônico pela vegetação, pela biomassa e pelos solos, reduzir as emissões de GEE, diminuir a origem do problema e adotar sistemas sustentáveis como ILP, ILPF e plantio direto.
Já a adaptação é a redefinição ou adequação das atividades produtivas aos impactos, com o uso de melhoramento genético e biotecnologia para tolerância ao aumento de calor e de gás carbônico, por exemplo; a adaptação dos sistemas produtivos e comunidades; reduzir vulnerabilidades e aumentar a resiliência.
“Não adianta haver um grande esforço para reduzir as emissões de GEE se o problema vai demorar muito a ser resolvido. Temos que propor ao setor produtivo brasileiro estratégias para ele se adaptar daqui para frente”, disse o pesquisador, acrescentando que existem várias formas de aumentar a resiliência dos sistemas produtivos, ou seja, de dotá-los de maior capacidade de resistir aos impactos das mudanças climáticas e depois retornarem à condição normal. “A adaptação passa a ser muito importante para a agricultura pela sua alta vulnerabilidade”, completou.
Agricultura sustentável
Nesse sentido, deve-se buscar uma agricultura sustentável, que conserve melhor os recursos naturais e continue gerando alimentos para as gerações atuais e futuras. Uma das estratégias para isso é a intensificação sustentável, ou seja, aumentar a produção na agricultura com menor pressão ao ambiente. “É produzir mais com menos. Todo mundo quer isso, mas não é fácil, principalmente quando se fala em produzir mais com a mesma área existente”, lembrou Cordeiro.
Ele comentou sobre a expressão Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (ABC), que embasa uma política pública. São tecnologias agrícolas que promovem menos emissões de GEE, além de mais sequestro desses gases, principalmente o gás carbônico, pelo solo e pela biomassa (fotossíntese pelas plantas e acúmulo no solo, formando matéria orgânica).
“Esse carbono no solo é o que viabiliza a agricultura tropical. Se um sistema que sequestra carbono e o deixa na forma de carbono no solo, a qualidade do solo será melhor. Mas quando se queima uma pastagem, esse carbono é retirado do solo e retorna à atmosfera na forma de gás”, explicou, citando o Sistema Plantio Direto como prática mitigadora de emissões de GEE que favorece a formação de matéria orgânica e o acúmulo de carbono no solo.
Ao falar sobre os sistemas de Integração Lavoura-Pecuária, Cordeiro destacou que eles potencializam o Sistema Plantio Direto com a introdução do capim, que incorpora mais matéria orgânica ao solo. Ele citou o caso da Fazenda Santa Brígida, em Ipameri (GO), onde a elevação do teor de matéria orgânica do solo proporcionou incrementos anuais na produtividade de soja e milho, na taxa de lotação nas pastagens e na produção de carne. Outro exemplo é o da Fazenda Triunfo, em Formosa do Rio Preto (BA), que com cerca de 10 anos de ILP em solo arenoso, colheu 82,3 sc/ha em média de soja em 9.800 ha, valor muito superior à média da região, em torno de 50 sc/ha.
Com a introdução do componente nos sistemas de integração, as emissões de GEE podem ser ainda menores, pois além do solo, as árvores também acumulam carbono, equilibrando as emissões de GEE pelos animais. O pesquisador citou a marca-conceito Carne Carbono Neutro, uma certificação sustentável da Embrapa e parceiros à carne bovina por ter volumes de emissão de GEE emitidos pelos animais neutralizados pela presença de árvores, e com alto grau de bem-estar em sistemas ILPF ou IPF.
Com base nas tecnologias mencionadas pelo pesquisador, o governo brasileiro estabeleceu a Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC, Lei Federal 12.187/2009). O País assumiu o compromisso nas reuniões sobre o clima na Organização das Nações Unidas de ampliar a adoção dos sistemas de produção sustentáveis.
O pesquisador apresentou um gráfico mostrando que desde o início da década de 1990 a produção agrícola cresceu 259%, principalmente devido ao uso de tecnologia, enquanto a área plantada aumentou apenas 57%.
Ao finalizar a palestra, Cordeiro salientou que o problema das mudanças climáticas é real e que a atividade agropecuária sofre impactos. “Mas o mais importante é que temos soluções tecnológicas que permitirão não só ajudar a enfrentá-los, como também adaptar os sistemas produtivos a esse problema”, concluiu.
Breno Lobato (MTb 9417-MG)
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