12/05/19 |   Produção vegetal  Agricultura de Baixo Carbono  Convivência com a Seca

Importância da soja para cadeias produtivas é tema de palestra para jornalistas

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Foto: Breno Lobato

Breno Lobato - Sérgio Abud destacou o papel da soja para a sustentabilidade de outras culturas e a importância das plantas de cobertura para enfrentamento das adversidades climáticas

Sérgio Abud destacou o papel da soja para a sustentabilidade de outras culturas e a importância das plantas de cobertura para enfrentamento das adversidades climáticas

Tropicalizada pela Embrapa e parceiros, a soja tem forte contribuição para a sustentabilidade das diversas cadeias produtivas do agronegócio brasileiro. Esse foi o tema da palestra do supervisor de Transferência de Tecnologia da Embrapa Cerrados (DF), Sérgio Abud, realizada no dia 10 de maio para mais de 20 jornalistas de Brasília e região. A palestra fez parte da programação do tour pelo Parque Tecnológico Ivaldo Cenci, no PAD-DF, promovido pelos organizadores da Agrobrasília 2019, feira realizada de 14 a 18 de maio.

A região do DF e Entorno é uma das que mais impactam o cenário da produção agropecuária do Planalto Central, que abriga grande diversidade de culturas agrícolas, além da pecuária de corte e leite. Abud lembrou o papel da soja na transformação do desse cenário. Originária da China, a oleaginosa foi introduzida nos Estados Unidos antes de chegar ao Brasil. 

“As variedades cultivadas no Sul dos EUA foram plantadas aqui mais ou menos nas mesmas latitudes (Sul do Brasil). Não havia variedades que pudessem ser estendidas à região central do País porque a soja é extremamente influenciada pela diferença de horas de luz. Tivemos que encontrar uma forma de adaptá-la por acreditarmos ser uma cultura de grande importância para a interiorização da agricultura no País”, explicou.

Adaptadas à maior quantidade de horas de luz do Sul do Brasil, na região central do País, com menos horas de luz, as primeiras variedades de soja eram imediatamente estimuladas a entrar em florescimento. “As variedades daquela época produziam 10sc/ha e as plantas ficavam pequenas. Era preciso dar mais tamanho à estrutura da planta”, disse Abud.

Para isso, a pesquisa agropecuária realizou ações de melhoramento genético que alteraram algumas características da soja, a partir da década de 1970. Foi incorporado às cultivares um gene para período juvenil longo, o que gerou variedades adaptadas ao Brasil Central. Os primeiros lançamentos foram as cultivares Doko, da Embrapa, em 1980, e Cristalina. “Elas promoveram o desenvolvimento da região central do País, pois já podíamos plantar a soja no primeiro ano sem ter que passar por dois anos de plantio de arroz (para corrigir o solo)”, salientou.

Além do melhoramento genético, a pesquisa definiu os níveis de corretivos e fertilizantes, além das técnicas de manejo da cultura da soja, uma vez que os solos da região são ácidos e de baixa fertilidade. Por fim, a fixação biológica de nitrogênio realizada por bactérias (rizóbios) selecionadas pelos pesquisadores e utilizadas sob a forma de inoculantes dispensaram a necessidade de adubação nitrogenada na cultura.

A soja tropical pode atualmente ser usada inclusive na recuperação de pastagens degradadas em diversas regiões brasileiras, evitando a abertura de novas áreas. Com ela, a produção nacional disparou. Se em 1970 foram colhidas 1,5 milhões de toneladas, com área plantada de 1,3 milhões de hectares, em 2017, a produção alcançou 114 milhões de toneladas (76 vezes mais) e a área plantada foi de 33,9 milhões de hectares (26 vezes maior). “Aumentamos muito a capacidade de produção na mesma área. Esse foi um fator muito importante”, comentou Abud.

Em termos de produtividade, enquanto na década de 1970 a média alcançou 1.439 kg/ha, atualmente é de 3.394 kg/ha, sendo que alguns produtores já obtiveram cerca de 150 sc/ha (ou 9.000 kg/ha). “Nesta região, estão concentrados produtores que têm essa capacidade técnica de produzir mais na mesma área”, observou.

Influência

A soja também influencia e abre espaço para outras culturas no Brasil, segundo Abud. A cultura contribuiu para o incremento na produtividade do trigo – o recorde brasileiro de produtividade é de uma propriedade da região do PAD-DF, com quase 150 sc/ha. Junto com o milho, a soja responde atualmente por 88% da produção nacional de grãos. “O milho e a soja são importantes para o manejo de plantas daninhas, de pragas e doenças” disse.

A pecuária também é influenciada pela oleaginosa, que é matéria-prima na fabricação de rações. O Brasil é atualmente o segundo maior produtor de carne de frango (14,1 milhões de t) e o maior exportador; o segundo maior produtor de carne bovina (9,8 milhões de t) e o maior exportador; e o quarto maior produtor (3,8 milhões de t) e exportador de carne de porco.

O complexo soja exerce ainda um importante papel nas exportações do agronegócio brasileiro, respondendo por 40,2% do total comercializado. “A soja está dentro de um contexto nesse complexo. Ela está no uso comestível humano e animal, na indústria e no uso combustível para a produção de biodiesel”, citou Abud.

Outra influência é no crescimento do Indice de Desenvolvimento Humano (IDH) dos polos agroindustriais, como Rio Verde (GO), Luís Eduardo Magalhães (BA), Lucas do Rio Verde (MT) e Sapezal (MT). “Em todas essas áreas tidas como referências, o IDH subiu muito. São agrossociedades, em que a agricultura depende da sociedade e a sociedade depende da agricultura”, afirmou.

Manejo

Abud, no entanto, apontou os riscos para a cultura da soja no País, como a resistência a agrotóxicos por doenças como a ferrugem asiática, plantas daninhas e pragas. “O que propomos para tentar solucionar esse problema é um manejo mais responsável e sustentável, com conservação e manejo do solo, estratégias antirresistência, rotação de culturas, manejo integrado de plantas daninhas, de pragas e de doenças, além de tecnologia de aplicação. Hoje, o Brasil é um dos países que menos usam tóxicos por hectare por termos muitas estratégias”, apontou, acrescentando que esses serão temas bastante abordados durante a Agrobrasília 2019.

Entre as tecnologias que facilitam o manejo da cultura do soja, Abud citou o Sistema Plantio Direto, em que não há o revolvimento do solo e a palhada residual das culturas anteriores é aproveitada, amenizando os impactos dos veranicos durante o período da safra. “Temos alternativas de plantas de cobertura para melhorar o perfil do solo, conferindo-lhe mais qualidade química, física e biológica pra que o sistema radicular possa se aprofundar mais, retirar mais água e nutrientes, e para que os produtores sofram menos com essas adversidades climáticas”, explicou.

Ao falar sobre as cultivares adaptadas às condições brasileiras, ele destacou que estão disponíveis variedades geneticamente resistentes aos principais problemas da cultura da soja no País. Além da correção e adubação do solo, da fixação biológica de nitrogênio e do manejo integrado de pragas, foram apontadas outras tecnologias que se aliam às cultivares geneticamente melhoradas. 

O zoneamento agrícola de risco climático (ZAR) mostra a época mais favorável ao plantio, minimizando os riscos climáticos. O uso de plantas de cobertura promove a descompactação e a ciclagem de nutrientes do solo, sem revolvê-lo. Os sistemas de Integração Lavoura-Pecuária (ILP), atualmente em 15 milhões de hectares no País, têm sido usados para recuperar pastos degradados e intensificar a produção agropecuária nas mesmas áreas, proporcionando até quatro safras no mesmo ano agrícola: soja, milho, boi e palhada para o Sistema Plantio Direto da cultura seguinte.

Abud lembrou que as plantas, para se desenvolverem, fixam na parte aérea e nas raízes o carbono retirado da atmosfera. Segundo ele, isso tem grande importância para a agricultura tropical, pois viabiliza o negócio de produtores que estão com produtividades médias estagnadas em 50 a 55 sc/ha. “Se eles fizerem a ILP usando as plantas de cobertura, vão recuperar o solo, aumentar o armazenamento de água e a qualidade química, física e biológica do solo, dando mais sustentabilidade para toda a produção de grãos e para o restante da cadeia produtiva na região central do Brasil”. 

Plantas de cobertura

Para ilustrar uma medida de manejo sustentável para enfrentamento de adversidades climáticas, Abud convidou os jornalistas a observarem quatro trincheiras expondo o perfil do solo sob o cultivo de plantas de cobertura e outra sob milho solteiro. Para o enfrentamento dos veranicos, que podem reduzir em até 50% ou mais a produtividade da soja, a recomendação é permitir o aprofundamento das raízes das cultura no solo.

“Isso depende da genética da planta e de darmos condições para que a raiz consiga penetrar no solo. É comum encontrarmos compactação na camada a 15 cm de profundidade, e o sistema radicular não consegue atravessá-la”, observou, acrescentando que após 10 dias sem chuva a água fica indisponível a 5 cm de profundidade.

Como o Sistema Plantio Direto não contempla a aração ou o gradeamento do solo devido a perdas na produtividade, uma prática alternativa é o uso de plantas de cobertura, como a braquiária, que tem sistema radicular agressivo, capaz de romper a camada compactada. 

“Quando a planta de cobertura é cortada, a raiz vai ficar ali. A cultura subsequente aproveita essa raiz como um canalículo para que a sua raiz desça e leve para baixo os nutrientes que estão na camada superior do solo e transporte os nutrientes das camadas mais profundas para as mais superficiais”, disse Abud. Além de melhorar a qualidade física do solo, a medida também melhora a qualidade biológica e química do solo.

Ele mostrou trincheiras sob milheto evidenciando as raízes da cultura, que têm grande capacidade de ciclar nutrientes no solo; e sob braquiária, mostrando a descompactação do solo promovida pelo sistema radicular (no local funcionava um estacionamento) e o potencial de formação de palhada da gramínea, que propicia o desenvolvimento das culturas agrícolas. 

Outra questão abordada foram os nematoides, pragas do solo difíceis de serem controladas com produtos químicos. “Temos que usar a biologia em favor da recuperação do solo para não precisarmos usar produtos químicos no solo”, afirmou, apresentando uma trincheira sob crotalária, uma planta de cobertura.  “A raiz da crotalária produz um exudato que reduz a população de nematoides e outras pragas do solo”, ensinou. Ele mostrou ainda uma trincheira sob trigo mourisco, outra planta de cobertura também utilizada nessas práticas.

Segundo Abud, com a integração de plantas de cobertura como as mostradas, a qualidade biológica do solo é melhorada, propiciando a multiplicação dos microrganismos benéficos à agricultura em lugar das pragas. Ele chamou a atenção para a última trincheira, sob milho solteiro, evidenciando a pequena quantidade e o pouco aprofundamento das raízes em relação ao observado nas plantas de cobertura.

“Assim, quando integramos as plantas de cobertura com a soja ou com o milho, melhoramos a qualidade biológica do solo, aumentamos e aprofundamos o sistema radicular, proporcionando um melhor enfrentamento às condições adversas e aumentamos a produtividade de grãos no País”, concluiu.

Breno Lobato (MTb 9417-MG)
Embrapa Cerrados

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