Agricultores de Chapecó conhecem SAFs biodiversos na Embrapa Meio Ambiente
Agricultores de Chapecó conhecem SAFs biodiversos na Embrapa Meio Ambiente
Cerca de 43 agricultores familiares da Cooperativa Central de Credito Rural com Interação Solidária (Cresol Central SC/RS), e estudantes e técnicos extensionistas da região de Santa Catarina estiveram na Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP), em 9 de maio, para conhecer as pesquisas desenvolvidas com sistemas agroflorestais (SAFs) biodiversos e suas múltiplas funcionalidades.
No período da manhã foi realizado um dia de campo no Sítio Agroecológico da Embrapa Meio Ambiente, utilizando-se dois circuitos, em dois grupos.
No Circuito 1 os agricultores visitaram, inicialmente, o Meliponário e o SAF Abelhas e, em seguida, o SAF Medicinal e estratégias de recuperação em APP. No Circuito 2 eles percorreram o SAF Frutas e acompanharam demonstrações de estratégias de manejo de biomassa e do sistema de irrigação com captação de água de chuva. Os dois grupos se revezaram, de forma que todos puderam ter uma visão geral das tecnologias agroflorestais implantadas e dos avanços da pesquisa em SAFs.
Na parcela denominada SAF Frutas, os participantes visualizaram diferentes desenhos e arranjos agroflorestais voltados à produção de frutas, madeira e culturas anuais, adequados à realidade da agricultura familiar. Segundo o pesquisador Luiz Octávio Ramos Filho, essas parcelas, implantadas há 15 meses, foram desenhadas com base em diferentes experiências agroflorestais pesquisadas ou acompanhadas pela equipe de agroecologia. “Nestas parcelas simulamos e adaptamos alguns desenhos já praticados pelos agricultores familiares, visando desenvolver estudos mais aprofundados para otimizar esses SAFs quanto ao manejo da biomassa, uso eficiente da água, biodiversidade da entomofauna e insetos polinizadores, assim buscamos identificar e desenvolver melhorias para viabilizar ambiental e socioeconomicamente estes sistemas”.
Tecnologias para o uso mais eficiente da água de irrigação em SAFs, foram apresentadas pelo analista Waldemore Moriconi. Conforme o analista, foi enfatizado que o componente arbóreo dos SAFs, associado ao manejo da biomassa na cobertura do solo, contribui para reduzir as variações dos elementos microclimáticos. A redução da radiação solar no solo influi significativamente na taxa de evaporação de água, proporcionando a manutenção e um maior teor de umidade no solo. A irrigação, além de ser um seguro contra períodos de secas, possibilita melhorar as condições para que as plantas se estabeleçam. Contudo, em quantidades insuficientes ou excessivas pode prejudicar o desenvolvimento das plantas e, consequentemente a produtividade dos SAFs. A irrigação pode representar um importante custo de produção e ser, em muitas situações um recurso escasso, por isso faz-se necessário desenvolver melhorias incrementais nas técnicas de irrigação. Também foram apresentados os equipamentos que estão sendo usados para o monitoramento da água do solo, tensiômetros e sensores eletrônicos de umidade e temperatura, sendo explicitado que o trabalho de pesquisa visa estabelecer parâmetros para o controle do uso da água por irrigação e a verificação da conservação da água no solo, dentro e fora do SAF.
No SAF Abelhas e no Meliponário, os pesquisadores Kátia Braga e Ricardo Camargo falaram sobre a criação racional de abelhas sem ferrão, conhecida como meliponicultura, e sua integração com os SAFs, como fonte alternativa de renda, pela produção de mel e de outros produtos. Como a criação de abelhas depende diretamente da vegetação, principal fonte de recursos para elas, a Meliponicultura pode e deve ser integrada às atividades de restauração ambiental e em sistemas agroecológicos de produção, como os SAFs biodiversos visando, nestes últimos, também incrementar a produtividade dos cultivos pela melhoria no processo de polinização.
Os agricultores e técnicos também tiveram a oportunidade de conhecer um SAF medicinal que, implantado em 2009, hoje apresenta árvores bem desenvolvidas com importante função na proteção do solo e na conservação da biodiversidade. Eles conheceram algumas das 32 espécies de árvores medicinais existentes no SAF, seus principais usos e as partes da planta utilizadas. Segundo o pesquisador Joel Queiroga, esse SAF medicinal servirá de inspiração para sua implantação em áreas que se desejarem restaurar.
Em seguida, os participantes também conheceram um experimento que compara diferentes técnicas e manejos para a recuperação de APPs. Segundo Queiroga, esta pesquisa avalia a viabilidade ecológica e econômica de diferentes técnicas e manejos adotados em parcelas com mesmo desenho e espécies, com o objetivo de propor operações eficientes e de menor custo para implantação e estabelecimento da área restaurada.
No período da tarde, participaram da oficina “SAFs como estratégia de restauração ambiental e de serviços ecossistêmicos”, com o objetivo de aprofundar os temas tratados no período da manhã e abordar outros aspectos importantes para a viabilização dos SAFs. Foram realizadas palestras sobre a importância do manejo da matéria orgânica e da biomassa em SAFs (Luiz Octávio); os resultados do projeto de sistematização de experiências em SAFs no estado de São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Rio Grande do Sul (Joel Queiroga); os canais e as estratégias de comercialização dos produtos agroflorestais (Marcos Neves); o papel da agrofloresta na conservação da diversidade e abundância de abelhas nativas (Katia Braga) e a importância das redes sociotécnicas para viabilização dos SAFs (Francisco Corrales).
Na parte final, Francisco Miguel Corrales, do SITP, coordenou a avaliação dos trabalhos com o auxílio do método Zopp de comunicação visual, para que os visitantes pudessem refletir quanto a aplicabilidade da experiência vivida nesse dia em relação aos seus cotidianos. Nesse momento duas perguntas foram apresentadas: “O que é necessário para os SAFs, na sua realidade, sejam viáveis em termos de produção e de comercialização?” e “A partir de seu interesse em SAFs, o que você destaca da visita de hoje? O que encontrou e o que faltou?”. As respostas apresentadas foram registradas em fichas, expostas num painel, seguidas de compartilhamento dos pontos de vista e de propostas.
O produtor Josué Gregio Sanandura trabalha com SAFs desde 2016. "Meu interesse foi no SAF Medicinal, novidade para mim, com muitas informações que posso aproveitar, com adaptação para o nosso clima. Tenho mais de 50 tipos de frutas e hortaliças, de ciclo curto até o ciclo longo e por isso, gostaria também de me aprofundar mais em pesquisas nas abelhas sem ferrão".
O que despertou o interesse do estudante da 7ª fase de agronomia com ênfase em agroecologia Mauricio Kelmann foi a experiência com a umidade do solo, bem interessante para mostrar a eficiência do sistema e a diversidade, conciliando a flora e as abelhas.
Já para Vilceo Sehnem, técnico ligado a Cresol, o mais importante foi a apresentação do que a equipe da Embrapa tem em pesquisas sobre diferentes composições de SAFs, além da acessibilidade dos pesquisadores. "Conseguimos dialogar com facilidade, com proximidade e a visita valeu muito a pena pois podemos visualizar sistemas que podem ser implantados na Região Sul. Esses trabalhos podem ser usados como referência,já que existe a expectativa de se fazer transferência de tecnologias, interagir e aproveitar esse conhecimento que a Embrapa acumulou".
Cristina Tordin (MTB 28499)
Embrapa Meio Ambiente
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