Evento de Plantas Medicinais e Fitoterápicos forma rede de articuladores e demandas à pesquisa agropecuária
Evento de Plantas Medicinais e Fitoterápicos forma rede de articuladores e demandas à pesquisa agropecuária
Foto: Paulo Lanzetta
A oficina do pesquisador Gustavo Schiedeck fez a extração do óleo do Chinchilho, planta que apresenta propriedades antibióticas, antifúngicas, vermífugo e repelente.
Encerrou na quinta-feira desta semana, o I Encontro Intermunicipal de Implantação de Programas de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, uma alternativa para retomar o conhecimento tradicional, ao vincular-se às áreas de saúde e agrícola, apresentando experiências exitosas em diversos municípios gaúchos. O encontro de três dias, de 28 a 30/05, realizado nas dependências da Estação Experimental de Cascata da Embrapa Clima Temperado (Pelotas, RS) congregou mais de cem participantes. O resultado do Encontro indicou a formação de uma rede de articulação de atores em plantas medicinais, incluindo os mais de 15 municípios representados. O evento foi uma realização do Movimento do Pequeno Agricultor (MPA), UFPel, Instituto Padre Josimo, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e Embrapa.
O frei Sérgio Gorgen, do MPA, explicou que este Encontro estava previsto após a primeira fase de um ciclo de cursos básicos feitos em todo o estado do RS. "Estamos há dois anos ministrando treinamentos de saúde, alimentação e qualidade de vida, dentro de uma visão sistêmica, aonde recolhemos sabedorias populares, e temos aprendido muito. A expectativa é de muita troca por que todas as pessoas sabem muitas coisas e guardam informações bem diferentes", falou Gorgen.
O chefe-geral, Clenio Pillon, manifestou a sua satisfação em receber os agricultores para partilhar conhecimento. "A pesquisa não é maior ou melhor do que a cultura do agricultor, por isso, estamos nos unindo para valorizar e fazer uso do saber popular e o saber entre gerações. A Embrapa pode e quer contribuir muito na construção do dia a dia da saúde pública", falou Pillon.
O representante do Mapa, José kleber, da Comissão de Produção Orgânica, se dirigiu aos participantes lembrando que ao longo do século XX se perdeu a interação entre as pessoas,e das pessoas com a natureza, e essa atividade, pode e deve envolver a produção de plantas medicinais de uso na Agricultura, minimizando a dependência de químicos para solução de problemas de saúde. "Procuramos soluções fora, enquanto dentro de nossos ambientes temos algumas delas", disse Kleber. Ele completou: "o trabalho de resgate do uso das plantas medicinais é uma das formas de aproximar o público rural do público urbano".
Para o coordenador do evento, o pesquisador e engenheiro agronômo Gilberto Beviláqua a realização do I Encontro foi a celebração da retomada do conhecimento tradicional, de toda a riqueza que há em nossa volta, de resgate dos guardiões de sementes e plantas medicinais. "Queremos que eles, os agricultores, voltem para seus municípios e sejam elaborados os programas municipais e tracem estratégias para os próximos anos", ponderou Beviláqua.
Encaminhamentos do Encontro
Ao final do terceiro dia foram feitos alguns encaminhamentos do I Encontro como a formação de uma rede de articulação de atores em plantas medicinais, envolvendo os representantes dos municípios e as prefeituras municipais. Além disso, como tarefa às representações ficou acordado que cada município irá buscar apoio para formação de Hortos Biodiversos, um banco local de germoplasma de plantas medicinais em cada cidade (especialmente em Pedras Altas, Hulha Negra, Rio Grande, Piratini). "Vamos nos articular para engajar as Prefeituras Municipais para que seja feito este trabalho. Pois isso, não vai requerer grandes investimentos, vai requerer organização", comentou Beviláqua. Os municípios de Canguçu e São Lourenço do Sul já produzem suas plantas medicinais e repassam para o serviço de saúde municipal.
Segundo o pesquisador, foi demandado também pela Secretaria Estadual de Saúde à Embrapa a produção de plantas medicinais, incluindo mudas e sementes, a identificação botânica das plantas, a realização de análise de solos para verificação de resíduos de agrotóxicos e o uso de marcadores moleculares para verificação de qualidade das plantas medicinais produzidas.
Palestras
Ao apresentar a Conjuntura das Práticas de Saúde Integrativas na Visão dos Movimentos, o Frei Sergio Gorgen apresentou o médico Ronald Selle Wolff, de Porto Alegre/RS, que contou sua experiência em prescrever o uso de fitoterápicos e plantas medicinais para os pacientes. "As plantas medicinais tem seu valor até porque os medicamentos são retirados, seus princípios ativos, das plantas. Não tem porque usá-los de forma isolada. As plantas medicinais estão aí na natureza, de forma gratuita. Nós estamos devolvendo à sociedade o conhecimento que foi retirado e trocado pela indústria farmacêutica.É preciso que continuem as oficinas para resgatar o conhecimento dos nossos antepassados para que esse saber tradicional não morra com elas", disse Wolff.
A UFPel apresentou o trabalho que vendo feito junto à Academia no resgate do conhecimento tradicional junto às famílias rurais e a conscientização da definição de cuidado em saúde, através da professora Rita Heck e do Núcleo de Pesquisa em Enfermagem. A professora dirigiu o grupo a aprofundar-se sobre uma visão sistêmica do cuidar do outro. "O cuidado é presença, e ele é diário. Vai muito além, de procedimentos de saúde", considerou Heck. Ela e o grupo de acadêmicos relataram os trabalhos realizados pelo Núcleo: Desafios, Avanços e Perspectivas de Cuidado às Famílias Saudáveis no Sul do Brasil, e ainda, Famílias Rurais e Plantas Bioativas: estimulando o vínculo e a produção do conhecimento científico.
Foi programada a palestra sobre a Política Estadual de Plantas Medicinais e Medicamentos Fitoterápicos e Política Estadual de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICs) por Silvia Czermainski, responsável pela política intersetorial de plantas medicinais e fitoterápicos da Secretária Estadual de Saúde do RS. Ela mostrou que esse trabalho de resgate e reconhecimento de plantas medicinais está sendo feito pelo Governo do Estado desde 2011. "Estamos realizando há muitos anos a implementação da Política, com muitas ações, dentro do papel do Estado, não ainda, com a intersetorialidade que gostaríamos, pois cada Secretaria tem que programar suas ações", pontuou Czermainski. Conforme ela, atualmente o Estado do RS já tem 266 municípios que possuem uma relação de plantas medicinais para tratamento de saúde municipal em suas Secretarias.
As palestras Resgate do conhecimento tradicional e das plantas utilizadas e partilha de receitas e Relatos de caso dos municípios participantes foram ministradas pelo Frei Wilson Zanata. Em sua fala, Zanata falou sobre a importância da partilha do saber tradicional e a respeito dos benefícios das ervas medicinais e remédios caseiros. Já os relatos foram realizados pelos participantes do curso Produção e Uso de Plantas Medicinais na Saúde Comunitária, promovido pelo Instituto Cultural Padre Josimo. Esse curso é realizado em etapas, no primeiro módulo os participantes escolhem uma erva de sua região para ser pesquisada e no último acontece a apresentação dos resultados da pesquisa. Assim, o evento foi uma oportunidade para a realização dessa última etapa, que é destinada à exposição dos relatos adquiridos com base nas experiências e pesquisas. Foram ouvidos relatos de várias partes do RS, como das cidades de Candiota, Canguçu, Hulha Negra, Panambi, Pedras Altas, Pelotas, Piratini, Pinheiro Machado, Progresso, Rio Grande e Santa Maria. Algumas plantas e seus benefícios foram citados como: a corticeira do banhado, angico vermelho, capim limão, casca de cebola roxa, mimo do Brasil, cacto da índia, orelha de gato e feijão sopinha. Essas plantas podem ser utilizadas através do óleo ou xarope, e atuam no combate de doenças como bronquite, doenças de estomago, dores no nervo ciático, queimaduras e depressão.
O pesquisador Gilberto Bevilaqua, ministrou a palestra Conhecimento Tradicional e Cientifico em Plantas Medicinais e Fitoterápicas, em que ele apresentou os resultados das de avaliações de plantas medicinais nativas da região realizados pela pesquisa da Embrapa e também falou sobre a manutenção e resgate do conhecimento tradicional e das plantas nativas no sentido de conservação para que esse conhecimento não desapareça.
Outro tema apresentado foi Estudo de Demanda e Prática Agrícola para a Produção de Matéria Prima Vegetal. Essa abordagem foi tratada pelo pesquisador da Embrapa Gustavo Schiedeck, que mostrou os resultados da dissertação A Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos no município de Turuçu-RS: contribuição para sua implantação e inclusão de agricultores familiares na cadeia produtiva, de Eduardo Reis Souto Mayor. Entre as colocações propostas pelo pesquisador está a união dos conhecimentos acadêmico e tradicional, que segundo ele, não são excludentes entre si, e sim complementares, e juntos, geram múltiplas possibilidades para a sociedade. O pesquisador ainda apresentou um panorama sobre o potencial de produção de fitoterápicos no Brasil e as principais dificuldades desse processo de produção, como a escassez de informação sobre demanda de mercado, condições de cultivo e legislação vigente. Ainda em sua fala o pesquisador apontou quais as reflexões iniciais que devem ser adotadas para a valorização da produção de fitoterápicos e apresentou o estudo de caso da tese de Eduardo Mayor.
Oficinas
A oficina Extração de Óleos Essenciais foi ministrada pelo pesquisador Gustavo Schiedeck, ele mostrou uma explicação técnica sobre a extração de óleos essenciais, e abordou quais as plantas que podem ser utilizadas e como as pessoas podem realizar essa extração em sua casa ou nas comunidades. Como exemplo prático foi realizado a extração do óleo do Chinchilho, planta que apresenta propriedades antibióticas, antifúngicas, vermífugo e repelente.
Outra oficina foi a de Terapias Alternativas em que o Frei Wilson Zanata realizou uma atividade prática, mostrando como são feitas tinturas e pomadas. Na oficina foram feitas duas pomadas: uma com o propósito de curar problemas de pele como micoses, feridas fungos, feita de plantas de guaçatonga, chá de bugre, Cipó mil homens, Calêndula, baleeira, penicilina, espinheira santa e lanceta; e a segunda, indicada para dor, contém ervas de bracatinga, moirão, arnica, nó de pinheiro, guaçatonga, caroço de abacate, mentruz, gelol, capim guine e cânfora. Essas tinturas quando incorporas à uma gordura vegetal formam uma pomada.
Contribuições ao evento
Duas contribuições foram atrações no evento: a oficina/exposição Sem Sentir, do Curso de Enfermagem da UFPel e o livro Plantas Medicinais do Bioma Pampa no Cuidado em Saúde, com autoria de profissionais da UFPel e Embrapa.
A oficina/exposição Sem Sentir aconteceu durante o primeiro dia do evento, onde individualmente, os participantes poderiam fazer a experiência pessoal de percorrer um caminho às cegas e descalços, e experimentar através dos sentidos (olfato, degustação, audição e tato) a presença de elementos da natureza, os mais simples e reconhecidos localmente, tornando cerca de oito minutos, um momento de troca infinito. Cerca de 35 pessoas percorreram o trajeto, adaptado em uma sala, com divisória de panos.
O livro Plantas Medicinais foi distribuído a todos os participantes com o intuito que após lerem obrigatoriamente o volume precisa ser repassado à outra pessoa. "Queremos que o conhecimento não fique guardado, então, precisamos começar por nós, que ao lermos esta obra, não a guardemos somente pra nós", pediu a professora Rita Heck, uma das editoras técnicas. A obra traz a definição de plantas medicinais, as plantas medicinais nativas do Bioma Pampa, as plantas medicinais e o processo de oficialização no SUS e muitas fotografias desses materiais. A obra foi escrita por Camila Almeida, Crislaine Bracellos de Lima, Márcia Vaz Ribeiro e Rita Heck pelo Curso de Enfermagem da UFPel e pelos pesquisadores Gustavo Heiden, Marene Marchi e Rosa Lia Barbieri, da Embrapa.
Cristiane Betemps com colaboração de Thais Boa Nova (MTb 7418/RS)
Embrapa Clima Temperado
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