Artigo - Qual a decisão que você tomou para sua recria este ano?
Artigo - Qual a decisão que você tomou para sua recria este ano?
Recentemente fui convidado para falar sobre como fazer uma recria lucrativa, no contexto de recria e engorda de gado de corte. Particularmente, em numa das reflexões sobre o assunto, me assustei ao lembrar como falta atenção dos produtores à fase de recria e como tal comportamento é determinante para os resultados da propriedade.
Em “andanças” por aí, frequentemente encontramos situações ilustrativas do que estou falando. Pasto bom e ração para a boiada que está “saindo”, pasto ruim e o “sal mais barato que tem” para a bezerrada que está “chegando”. Bezerrada de compra chegando pesada na fazenda em maio e a mesma bezerrada mais leve depois de passar a seca. É acreditar que na seca pouco precisa ser feito, pois quando vier a chuva, tudo vai se resolver.
As pesquisas realizadas há anos pela Embrapa já mostravam o perigo destas crenças e comportamentos. Idades de abate elevadas por uma recria longa, baixa produção de arrobas por hectare pela categoria que poderia ser a mais eficiente da fazenda, susceptibilidade às flutuações do custo da reposição e a seu ágio. Somados a outros não mencionados, estes fatores resultam em margens econômicas baixas ou negativas e um distanciamento dos modelos de abate mais precoce (exemplos: Embrapa +Precoce e Boi 7-7-7), que consideramos ser o caminho para melhor competitividade e sustentabilidade.
É até verdade que no período das águas muito se melhora. Há pouco, a Embrapa lançou a cultivar BRS Zuri para sistemas mais intensivos de pastejo, com entregas potenciais de até 17 arrobas por hectare nas águas. Em pesquisas para a suplementação mineral, encontramos aumentos de até 80 g por cabeça por dia com o uso de determinado aditivo e uma economia de aproximadamente 15% na suplementação mineral com o uso de tecnologia que diminui desperdícios. Tudo isso mostra que não é difícil alcançarmos alguns dos maiores benefícios da recria benfeita, a produção de arrobas baratas e a melhor preparação do animal para a fase final de engorda.
Neste último ponto está algo que poucos se atentam: a importância de se elevar o peso do animal ao início da engorda final. Obviamente há sempre exceções, porém a engorda no modelo precoce (abate perto de dois anos de idade) tem elevado o teor energético da dieta, muitas vezes pelo uso de semiconfinamento e confinamento. Isso certamente ajuda a aumentar o desempenho da engorda e o acabamento da boiada, porém aumenta os desembolsos e a necessidade de ser eficiente no processo.
Este é outro contexto em que se fazer uma recria bem feita ajuda a melhorar os números. Os benefícios de se realizar uma recria melhorada na conta de engorda têm sido demonstrados recentemente pelas pesquisas (APTA-Colina e Embrapa) e estão sustentados, principalmente, no abate de um animal mais pesado e no maior ganho de carcaça no processo final de engorda. Os dois modelos ajudam a diminuir os riscos de uma nutrição mais intensiva e também diluem os custos do ágio da reposição, principalmente em períodos de relação de troca baixa.
Porém, há outra parte da história que também merece atenção. Apesar do protagonismo das águas, é a primeira seca após a desmama que muitas vezes define se um boi vai ser abatido precoce ou não. E ferramentas para melhorar o desempenho deste período não faltam. Há tempos mostrou-se o benefício da reserva de pastagem (diferimento ou vedação) somada à suplementação proteica de baixo consumo para ganhos pequenos (entre 200 e 300 g por dia), porém baratos.
Atualmente, temos demonstrado os benefícios da técnica de condicionamento de desmama ou transição, que pode adicionar 50 ou até 100 g por cabeça por dia no período seco. Sem mencionar, ainda, o uso de pastos safrinha em sistemas de integração lavoura-pecuária ou até mesmo o chamado “sequestro” em confinamento.
Em última instância, o exercício de analisar a recria e o que a faz mais lucrativa nos induz a uma mudança de mentalidade. Passamos a pensar que ela é, na verdade, a sustentação do processo de engorda e o divisor de águas entre uma pecuária de ciclo curto (modelo precoce) ou tardio. Talvez ela seja a imagem da escolha já feita pelo produtor: evoluir e se sustentar na atividade ou ficar no século passado e deixar que outros tomem o seu lugar. E você, qual a decisão que tomou para sua recria este ano?
Rodrigo da Costa Gomes
Zootecnista, Pesquisador da Embrapa Gado de Corte
Embrapa Gado de Corte
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