Jovens Puyanawa participam de oficina de comunicação comunitária
Jovens Puyanawa participam de oficina de comunicação comunitária
Com o objetivo de ampliar conhecimentos sobre o uso de mídias digitais, 30 jovens da Terra Indígena Puyanawa participaram de oficina sobre comunicação comunitária, no início de junho (4 e 5). Realizada na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Ixubay Rabui Puyanawa, por meio do projeto “Etnoconhecimento, agrobiodiversidade e serviços ecossistêmicos entre os Puyanawa”, com apoio do Projeto Integrado da Amazônia, a capacitação faz parte das estratégias implementadas pela Embrapa para fortalecer as práticas de comunicação nas aldeias.
A Terra Indígena Puyanawa é formada pelas aldeias Ipiranga e Barão e está localizada no município de Mâncio Lima, região do Juruá (AC), há cerca de 60 quilômetros de Cruzeiro do Sul. Desde 2017 a Embrapa executa ações de pesquisa, transferência de tecnologias e comunicação na Terra Indígena Puyanawa, com o apoio da Fundação Nacional do Indio (Funai) e em parceria com a Universidade Federal do Acre e outras instituições, para fortalecimento da agricultura, fruticultura e da cultura desse povo. O projeto também investe em ações para melhoria do acesso à informação e da comunicação indígena, como a realização de palestras e oficinas sobre temas escolhidos pela comunidade.
A atividade contemplou estudantes e jovens que já concluíram o Ensino Médio. Os conteúdos envolveram dicas para a elaboração de textos informativos, produção fotográfica e uso do celular e Facebook, além de práticas de cobertura de temas como o artesanato Puyanawa, farinhada na aldeia, pontos turísticos e belezas naturais da Terra Indígena entre outros assuntos presentes no cotidiano das aldeias com potencial para divulgação.
Segundo a professora Maria Alice Martins, gestora escolar da Terra Indígena, as mídias sociais são ferramentas importantes para a comunicação, mas é preciso utilizar essas tecnologias de forma consciente e responsável. “A capacitação agregou conhecimentos sobre o uso das redes sociais para a divulgação de eventos realizados na escola e nas aldeias. Temos muitos jovens com talento e capazes de fazer bem esse trabalho. Aproveitar essas habilidades vai nos possibilitar maior liberdade em relação à comunicação que queremos. Ainda enfrentamos dificuldades no acesso à internet, mas é possível captar o sinal em alguns pontos das aldeias”, afirma.
Demanda da comunidade
De acordo com o pesquisador da Embrapa Acre, Moacir Haverroth, líder do projeto, preparar o público jovem para a comunicação comunitária é uma demanda é uma demanda da comunidade, em função da necessidade de alternativas para melhorar a autonomia de moradores da Terra Indígena Puyanawa nas práticas comunicacionais. “O uso de tecnologias digitais facilita esse processo de visibilidade. Além de fortalecer a cultura e identidade indígenas, essa comunicação mais popular, feita pelos próprios habitantes das aldeias, também permitirá reivindicar melhorias para a comunidade”.
Na opinião da professora Edevânia de Araújo Alves, os avanços tecnológicos são uma realidade também em muitos territórios indígenas e os moradores dessas localidades precisam se preparar para acompanhar essa evolução. “Os jovens têm uma habilidade nata para as tecnologias e isso favorece o uso, mas precisamos ter domínio das mídias sociais. Além de proporcionar novos conhecimentos, a oficina serviu para reforçar a importância das tecnologias digitais para a comunicação. O mundo utiliza essas ferramentas para se comunicar e os povos indígenas também podem fazer parte desse processo. Estar integrado ao universo tecnológico é uma necessidade”, enfatiza.
Para o cacique Puyanawa, Joel Ferreira Lima, é por meio da sua cultura e na forma de comunicar que um povo se fortalece. Segundo o líder comunitário, a juventude tem o desafio de utilizar as tecnologias da comunicação para registrar e divulgar as tradições e eventos culturais e o próprio território indígena. “Sempre que queremos divulgar algo precisamos buscar esses serviços fora da comunidade. Acredito que cada participante da oficina vai se esforçar para aplicar os conhecimentos adquiridos em prol da comunidade e para ajudar a valorizar o que temos”, afirma.
Troca de experiências
Participaram como mediadores da oficina jovens agricultores familiares, moradores da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Nascentes Geraizeiras, Unidade de Conservação localizada no município Pardo de Minas (MG), no Alto do Rio Pardo (MG), que atuam com comunicação popular em suas comunidades. A mineira Edianilha Ribas acredita que fortalecer a comunicação popular nas comunidades tradicionais contribui para o empoderamento da juventude e de proteção para essas populações.
“A comunicação é uma arma muito poderosa e pode resultar em conquistas valiosas, se bem utilizada. Embora as mídias sociais facilitem a visibilidade de pessoas e lugares, sabemos que em muitas comunidades rurais a exclusão digital ainda é uma realidade. Entretanto, a comunicação comunitária se faz para além das plataformas digitais. Aqui na Terra Indígena é possível divulgar de forma eficiente demandas da comunidade tanto por meio de mídias tradicionais, como o rádio, como pelas mídias sociais”, ressalta a ativista.
Para o comunicador popular Valdir Dias, morador de uma comunidade rural localizada em Rio Pardo de Minas (MG), produzir seus próprios conteúdos e ser protagonista dessa comunicação ajuda a valorizar a cultura e as tradições locais. Além de possibilitar um olhar diferenciado sobre a comunidade, é uma forma de motivar a juventude a permanecer no seu território. “Na Terra Indígena há muitos jovens com habilidades para escrever, fotografar e filmar e, após esse exercício, a tendência é que passem a praticar cada vez mais. Isso é positivo não só para as aldeias, mas para a própria identidade indígena. Poder trocar experiências com essas pessoas e contribuir com esse aprendizado me deixou muito feliz”, afirma.
Um dos resultados práticos da atividade foi a produção de denso material audiovisual durante a oficina sobre alimentação saudável, realizada na primeira semana de junho (6). Após seleção, as fotos e vídeos produzidos serão compartilhados com a comunidade e poderão ser utilizados para divulgar a culinária indígena, o uso de Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) existentes nas aldeias Puyanawa e as novidades culinárias que serão oferecidas durante o Festival da Mandioca (Festival Atsá), que acontecerá no mês de julho.
Multiplicadores de conhecimentos
O estudante Eluan Pinheiro França, aluno do terceiro ano do Ensino Médio, um dos participantes da oficina, utiliza o Facebook apenas para se comunicar com parentes e amigos, mas deseja ampliar as práticas com a ferramenta para ajudar a divulgar a sua cultura. “Quero produzir e postar vídeos sobre nossas festas. Acredito que essa é forma mais simples de passar uma compreensão sobre o que acontece na comunidade e transmitir aquilo que sabemos fazer. Espero poder colocar em prática o que aprendi na oficina já no próximo Festival da Mandioca, mas além das festividades, temos nosso artesanato, nossas matas conservadas, nossos igarapés e muitas outras belezas que podem ser compartilhadas com pessoas de diversas partes do mundo por meio das redes sociais”, destaca.
Segundo o analista da Embrapa Acre, Fabiano Estanislau, coordenador da atividade, a ideia é que os conhecimentos adquiridos sejam repassados para outros moradores da comunidade. “A Terra Indígena oferece uma riqueza de temáticas e histórias que podem ser contadas e compartilhadas com o mundo via redes sociais. Como nas aldeias o computador ainda é pouco utilizado, reforçamos o uso do telefone celular como principal ferramenta para acesso à internet, para viabilizar as práticas de comunicação comunitária. Os participantes da oficina também poderão atuar como multiplicadores de conhecimentos, para formação de novos comunicadores nas aldeias”, explica.
Projeto Integrado da Amazônia
A oficina de comunicação comunitária contou com o apoio do projeto Amazocon, componente do Projeto Integrado Amazônia, executado no âmbito do Fundo Amazônia, iniciativa gerida pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) em cooperação com o Ministério do Meio Ambiente.
Composto por 19 projetos, o Projeto Integrado Amazônia atua nos diferentes estados amazônicos, por meio das Unidades da Embrapa. São contempladas ações de pesquisa e desenvolvimento, transferência de tecnologias e intercâmbio de conhecimentos, com foco na redução do desmatamento, recuperação de áreas degradadas e uso sustentável dos recursos naturais e fortalecimento da produção familiar em comunidades rurais amazônicas. O Amazocon busca desenvolver e implementar estratégias de comunicação para divulgação das atividades e resultados dos diferentes projetos.
Diva Gonçalves (Mtb-0148/AC)
Embrapa Acre
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