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Inseticidas botânicos: uma nova visão para um velho problema

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Foto: Alberto L. M. Júnior

Alberto L. M. Júnior - Infestação de pulgão em melancia

Infestação de pulgão em melancia

A agricultura brasileira vê-se diante de um problema dicotômico. Por um lado, consumidores demandam produtos livres de resíduos, com maior qualidade e que respeitem o meio ambiente. Por outro, produtores rurais precisam produzir alimentos em grande quantidade e com baixo custo.

Atualmente, o uso de agrotóxicos é uma ferramenta necessária à produção de alimentos em larga escala, entretanto, deve ser utilizada em conjunto com outros métodos de controle fitossanitário. Seu uso indiscriminado por décadas implicou num aumento progressivo na toxidez de plantas, resistência de insetos e contaminação do ambiente. Outro problema importante que surgiu foi a passagem de alguns insetos que antes eram considerados pragas secundárias à categoria de pragas primárias, causando sérios prejuízos às áreas cultivadas. Isso ocorre quando inimigos naturais são quase completamente eliminados de uma área e pragas que eram naturalmente controladas por eles têm uma explosão populacional.

A sociedade atual exige processos menos agressivos ao homem e à natureza de forma geral. Sendo assim, a descoberta/criação/adoção de métodos alternativos de controle de pragas em culturas agrícolas é imperativa, principalmente em hortaliças, onde a fiscalização social e da mídia é mais forte em função de muitos desses alimentos serem consumidos sem cozimento.

Sabe-se que algumas plantas produzem compostos secundários em seu metabolismo. Esses compostos podem ser considerados mecanismos de defesa da planta, uma vez que possuem substâncias bioativas que podem ser repelentes, causar intoxicações, deformidades físicas ou, até mesmo, morte em insetos que tiverem contato com elas. Chama-se ecologia química o ramo da ciência no qual são examinadas as relações planta-inseto com substâncias que atuam sobre funções biológicas.

Essas substâncias pertencem, geralmente, a algumas classes químicas como terpenos, fenilpropanoides, alcaloides, entre outros. Algumas famílias de plantas presentes no Brasil já são conhecidas fornecedoras de substâncias com potencial inseticida, como a Piperaceae, a família da pimenta-do-reino, e Asteracea, a família das flores cravo-de-defunto (Tagetes sp.)

A prospecção de plantas com potencial para fornecer novos compostos para uso fitossanitário torna-se premente na agricultura. Esses compostos, contudo, não devem prejudicar o ambiente e devem estar de acordo com os ideais ecológicos de sustentabilidade do sistema produtivo.

O conhecimento empírico sobre o uso de plantas com potencial inseticida tem passado entre as gerações de forma verbal nas comunidades rurais. Muitas plantas possuem propriedades não totalmente elucidadas pela ciência, carecendo de informações precisas sobre os compostos bioativos presentes e tornando sua eficácia insuficiente. Os efeitos inseticidas dessas plantas podem ser obtidos pela moagem de determinadas partes da planta, extratos obtidos a partir de solventes como hexano, diclorometano ou metanol, ou mesmo oriundos de extratos aquosos e óleos essenciais.

Não obstante, a metodologia aplicada ao isolamento e à caracterização dos princípios ativos ainda é deficiente e não se conhecem as doses exatas a serem utilizadas, uma vez que esses compostos bioativos têm a tendência de serem generalistas, ou não seletivos, afetando igualmente pragas e inimigos naturais. Inseticidas botânicos podem, também, causar fitotoxidade das plantas nas quais são utilizados, o que levaria a uma redução na produtividade.

A ampliação do uso de inseticidas botânicos depende, portanto, da identificação das substâncias e destas serem testadas em dosagens seguras. São necessários inúmeros testes para que se conheçam efetivamente as propriedades dessas plantas e a maneira como elas afetam os sistemas biológicos das pragas de plantas cultivadas.

Espera-se que a prospecção dessas plantas aumente o conhecimento adquirido e que novos métodos de controle fitossanitário possam ser utilizados na olericultura, reduzindo o uso de agrotóxicos e ampliando a função de técnicas mais naturais na agricultura de base ecológica.

Caroline Pinheiro Reyes
(Engenheira Agrônoma - Analista)
Embrapa Hortaliças

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