Reduzir espaçamento entre bananeiras pode dobrar a produção da fruta no Amazonas
Reduzir espaçamento entre bananeiras pode dobrar a produção da fruta no Amazonas
Estudos conduzidos pela Embrapa Amazônia Ocidental no município de Iranduba (AM) comprovaram que a técnica de adensamento, que reduz o espaçamento no plantio de bananeira, é capaz de dobrar a produtividade de frutas por hectare no estado do Amazonas. A conclusão é resultado de pesquisas que testaram diferentes adensamentos no cultivo do plátano Pacovan, conhecido como banana-da-terra, um produto de grande importância socioeconômica para o Norte e o Nordeste do Brasil. A produção da fruta nessas regiões, estimada em cerca de seis mil toneladas, corresponde a aproximadamente 9% do volume total de banana no País e é insuficiente para atender às demandas dos mercados interno e externo.
De acordo com o pesquisador da Embrapa Luadir Gasparotto, a bananeira é tradicionalmente cultivada no Amazonas no espaçamento de três metros entre as fileiras por três metros entre as plantas, o que representa cerca de 1,1 mil plantas por hectare. Porém, os experimentos realizados na Fazenda Amazonas demonstraram que um menor espaçamento pode representar ganhos significativos em produção e produtividade. Entre os espaçamentos avaliados, o de 2 m x 2 m foi o que mostrou maior viabilidade produtiva e econômica. “Essas avaliações demonstram que, desde que se utilizem as tecnologias recomendadas pela Embrapa, ou seja, um manejo adequado, é possível aumentar significativamente a produtividade”, analisa Gasparotto.
Os resultados mostraram que o plantio no espaçamento de 2 m x 2 m, com 2.500 plantas por hectare, a produtividade aumentou por volta de 130% em relação à densidade de plantio mais comum no estado, de 3 m x 3 m. Segundo o pesquisador da Embrapa José Olenilson Pinheiro, da área de socioeconomia, a produtividade média com o plantio mais adensado foi de 23,3 toneladas de banana por hectare. Mais do que o dobro do volume médio obtido no estado, de cerca de dez toneladas por hectare, de acordo com registros de 2017 do Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável no Amazonas (Idam).
Os estudos nasceram da necessidade de aumentar a produção da banana-da-terra e, consequentemente, a renda dos produtores da região. Também conhecida como D’angola, Comprida, Ringideira ou Farta Velhaco em outros mercados do País, é uma das cultivares mais apreciadas no estado do Amazonas, onde participa de vários pratos da culinária local, seja frita, assada, cozida ou na forma de chip. Entretanto, a produtividade ainda é muito baixa e insuficiente para atender à demanda interna, levando à necessidade de comprar de outros estados.
O experimento
O adensamento foi a alternativa selecionada pela equipe de pesquisadores da Embrapa para incrementar a produtividade das plantações na região. O manejo cultural das plantas, assim como o cronograma de adubação na instalação e condução do experimento, foi realizado de acordo com as orientações técnicas já disponibilizadas pela Embrapa Amazônia Ocidental. Nesse ensaio experimental, foram avaliadas as densidades de plantio com 5.000 plantas ha (2 m x 1 m), 3.300 plantas ha (2 m x 1,5 m), 2.500 plantas ha (2 m x 2 m), 1.667 plantas ha (3 m x 2 m e 4 m x 2 m x 2 m) e 1.111 plantas ha (3 m x 3 m).
O estudo mostrou ainda que o espaçamento em que houve maior produtividade foi o de 2 m x 1,5 m. Porém, como o custo de produção foi muito maior, a melhor receita líquida obtida foi na configuração de 2 m x 2 m. De acordo com as avaliações econômicas, a receita líquida nesse modelo chegou a R$ 9,3 mil.
Para a realização desse cálculo foram avaliados todos os custos necessários para a implantação e a condução da área plantada. Foram considerados os desembolsos nas fases de despesa com o preparo da área e plantio (calagem, gradagem, marcação das covas, abertura e adubação das covas e plantio); insumos (mudas, calcário, adubos químicos, esterco de galinha, herbicida, fungicida e irrigação); tratos culturais (mão-de-obra para o desperfilhamento, desfolha, controle químico das plantas daninhas, adubação de cobertura e controle da sigatoka-negra) e colheita (mão-de-obra para a coleta dos cachos, despalma, sanitização e embalagem).
De acordo com Gasparaotto, os dados de produtividade coletados nos estudos de avaliação de diferentes estandes de banana Pacovan podem não ser suficientes para assegurar uma recomendação de plantio aos diferentes perfis de agricultores no estado. Dessa forma, associar aos dados de produtividade uma análise econômico-financeira da viabilidade e da rentabilidade dos adensamentos torna a ferramenta mais segura para o processo de tomada de decisão e adoção da tecnologia pelos agricultores do Amazonas. Para a análise econômica, foram determinados os seguintes parâmetros: produção de quilos de pencas, custo de produção, receita bruta (considerando o preço de R$ 2,00 por kg), receita líquida, considerando esses parâmetros por hectare, taxa de retorno em percentual do investimento em 12 meses e em um mês.
Benefícios também para o meio ambiente
A pesquisadora da Embrapa Mirza Carla Normando Pereira, que também participou dos experimentos e das análises, ressalta que, além dos ganhos de renda e produtividade, o maior adensamento também traz vantagens para o meio ambiente. Segundo ela, ao aumentar a produção em uma mesma área, diminui a necessidade de abertura de novas frentes para a produção, contribuindo para a redução da pressão sobre o desmatamento de novas áreas de floresta e capoeira no estado do Amazonas.
Como a Pacovan é suscetível à sigatoka-negra, e não há cultivar similar resistente e produtiva para substituí-la, a única alternativa para a produção comercial é a aplicação de fungicidas. O controle químico foi efetuado com o auxílio de uma seringa dosadora e as aplicações iniciaram em plantas a partir dos quatro meses de idade, quando o pseudocaule apresentou pelo menos 40 cm de circunferência medida à distância de 1,5 m do solo. As aplicações foram repetidas em intervalos de 60 dias e cessadas quando as plantas emitiram o cacho. Quando a planta-mãe floresceu, o fungicida passou a ser aplicado na planta-filha, e assim sucessivamente.
Segundo Luadir Gasparotto, atualmente está sendo conduzida a avaliação do segundo ciclo de produção, o que vai proporcionar mais subsídios para repassar aos produtores. O pesquisador ressalta ainda que na região, os plantios de Pacovan são explorados normalmente até o terceiro ou quarto ciclo devido ao afloramento do rizoma. Por isso, é imprescindível a adoção de todas as tecnologias recomendadas, como a adubação e a condução correta do sistema de desperfilhamento. Com isso, se proporciona condições ideais de luminosidade, o que mantém a eficiência fotossintética das plantas, a produtividade e a viabilidade econômica da atividade ao longo de todo o período de exploração comercial do bananal. “O plantio da cultivar Pacovan, associado a técnicas adequadas de manejo, como cultivos mais adensados, são alternativas sustentáveis e viáveis economicamente para o aumento da produtividade e da longevidade dos cultivos no estado”, afirma Gasparotto.
Técnica proporciona maior eficiência no controle da sigatoka-negra
Identificada há cerca de 20 anos em plantações no estado do Amazonas, a sigatoka-negra se espalhou por diferentes regiões do País trazendo enormes perdas para produtores de banana. Causada pelo fungo Mycosphaerella fijiensis, a doença caracteriza-se por manchas escuras nas folhas da planta, que parecem estrias, o que dificulta a realização de fotossíntese, prejudicando a formação de frutos e assim causando prejuízos que chegam à perda total da produção. Em 1998, a sikatoga-negra foi registrada pela primeira vez no Brasil, identificada pelos pesquisadores da Embrapa Luadir Gasparotto e José Clério Rezende Pereira em plantios nos municípios de Tabatinga e Benjamin Constant (AM), na fronteira com a Colômbia e Peru.
De acordo com Gasparotto, há duas formas de reduzir as perdas com a doença: o plantio de cultivares resistentes ou o controle por meio da utilização de fungicidas. No caso da banana Pacovan, que é suscetível ao fungo, o controle deve ser feito por meio da utilização de fungicidas. Estudos realizados pela Embrapa indicaram que, nas condições do estado do Amazonas, onde o clima é quente e úmido, seriam necessárias 52 pulverizações por ano com fungicidas protetores, ou 26 com fungicidas sistêmicos, para controlar a sigatoka-negra. “Esse tipo de controle por pulverização não seria viável na região amazônica, em razão do alto custo econômico e impacto ambiental”, explica o pesquisador Gasparotto.
Em busca de alternativas para viabilizar a produção de cultivares suscetíveis ao fungo, uma equipe da Embrapa Amazônia Ocidental, coordenada pelos pesquisadores Gasparotto e Rezende Pereira, desenvolveu uma técnica que usa de forma eficiente menor quantidade de fungicida, reduz riscos na aplicação e oferece maior controle na aplicação em locais específicos da planta. Depois de inúmeros testes, verificou-se que com a aplicação do fungicida em um local específico de cada bananeira, chamada de axila da segunda folha, é possível obter maior eficiência do produto e diminuir consideravelmente o número necessário de aplicações.
Para uso dessa técnica, foi elaborado um equipamento adaptado a partir de uma seringa veterinária, mangueira de silicone ou látex e um cano com uma das pontas curvadas. O equipamento permite colocar gotas do fungicida no local específico, com uma dose recomendada, dependendo do fungicida utilizado de um a dois mililitros por planta. “Isso evita a dispersão do produto no ambiente e torna possível controlar a doença com apenas três aplicações por ciclo produtivo, que seria em torno de dez a 12 meses”, ressalta Gasparotto.
Foto: Siglia Souza
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