Agricultores cooperativistas participam de capacitação na Embrapa
Agricultores cooperativistas participam de capacitação na Embrapa
Um grupo de 25 agricultores do Rio Grande do Sul participou, dias 20 e 21 de agosto, de uma capacitação sobre otimização do uso da terra na Embrapa Trigo (Passo Fundo, RS). As atividades fazem parte do convênio Embrapa e Organização das Cooperativas do Brasil (OCB e Sescoop). O treinamento contou com palestras, práticas de campo e visitas a propriedades rurais.
Através da parceria Embrapa-OCB-Sescoop, os profissionais dos departamentos técnicos das principais cooperativas de grãos do Brasil estão participando de um programa de qualificação em cereais de inverno e temas transversais. Já foram cinco turmas, com quase 150 técnicos, contabilizando mais de 800 horas de treinamento. Para ampliar o alcance das ações, foi elaborado um módulo direcionado aos agricultores cooperativistas. Foram dois encontros para agricultores no ano passado e uma nova edição aconteceu nesta semana, dias 20 e 21 de agosto.
De acordo com o chefe de transferência de tecnologia da Embrapa Trigo, Jorge Lemainski, a participação do agricultor cooperado vai estimular a adoção de novas tecnologias com maior segurança na tomada de decisão, apoiando o trabalho da assistência técnica da cooperativa.
No primeiro dia (20/08), o foco da capacitação foi a agricultura conservacionista. Além de palestras, os agricultores também visitaram a unidade da Embrapa Trigo que fica em Coxilha, RS, local que sofreu diversas intervenções nos últimos anos para assegurar a fertilidade do solo, com estratégias de descompactação, rotação de culturas, terraceamento e plantio em contorno, entre outras. Outra visita foi na Fazenda Falcão, em Sarandi, RS, onde os participantes puderam ouvir a experiência do produtor Humberto Falcão na adoção de práticas para conservar a fertilidade do solo e reduzir custos na produção de grãos.
A agricultura conservacionista foi motivo de reflexão para o produtor de Espumoso, RS, Felipe Broch: “sempre acreditamos que fazíamos o melhor pela lavoura, mas aqui vemos que podemos melhorar muito. Na nossa rotação com trigo, aveia e soja, precisamos de outras alternativas para fechar o solo de março a junho, entre a colheita de verão e a semeadura de inverno. Vamos tentar capim sudão, milho ou milheto. Aprimorar o plantio em nível, avaliar a possibilidade de alguns terraços. Não adianta investir no melhor fertilizante sem cuidar do solo. Esse foi o principal recado que aprendemos aqui”.
O tema Integração Lavoura-pecuária-floresta fez parte da programação no segundo dia do encontro (21/08). O uso de trigo de duplo propósito na pecuária chamou a atenção do produtor Fauro Loreto da Rocha, de Santa Bárbara do Sul, RS. Sempre atrás de novidades, veio à Embrapa em busca de atualização. “Trabalhamos com a cobertura permanente do solo, com a semeadura do milheto sobre a soja e aveia no inverno. Agora vamos experimentar o trigo duplo propósito visando a possibilidade de aumentar a lotação nos piquetes”, conta Fauro. Ele ficou inspirado com o depoimento do produtor Ivonei Librelotto, que tornou a propriedade em Boa Vista das Missões, RS, uma referência nacional em sistemas de produção de grãos e engorda de bovinos de corte: “o investimento em genética e planejamento forrageiro, somados a boas práticas de manejo, permitiram aumentar o rendimento de grãos em quatro vezes e aumentar a produção de carne em oito vezes”, conta Librelotto.
Modelo Americano
O analista da Embrapa Trigo, Giovani Faé, apresentou algumas informações sobre o sistema de produção agropecuária no estado da Pensilvânia, nos Estados Unidos, coletadas durante o curso de doutorado. “Vimos muitas semelhanças com as propriedades rurais do sul do Brasil. Apesar do período produtivo limitado de abril a agosto, os produtores mantêm os cuidados com a conservação do solo, como semeadura em contorno, rotação, consórcios. Outro destaque é a vigilância para a contaminação dos rios, principalmente com o cuidado na incorporação de adubo orgânico ao solo. Modelos de discussão, como o nosso Amigos da Terra, também são comuns por lá”, conta Faé.
O pesquisador destaca a parceria das instituições públicas e universidades com o setor produtivo para viabilizar as ações de pesquisa e transferência de tecnologias. Segundo Faé, 1% do valor sobre toda a soja comercializada é destinado a um fundo, gerenciado por uma associação, que define, junto com os pesquisadores e produtores, as prioridades de investimento.
Em 2018, Giovani Faé trouxe um grupo de 13 produtores americanos para conhecer a produção brasileira de grãos, percorrendo dez cidades do Brasil, do Rio Grande do Sul ao Distrito Federal. A ideia agora é levar um grupo de brasileiros para ver a produção agrícola nos Estados Unidos.
Cooperativismo em alta
No mundo, 1 em cada 7 pessoas está associada a uma cooperativa, seja do ramo agropecuário, financeiro, habitacional, entre outros. As cooperativas agropecuárias concentram 75% da capacidade de armazenagem no Brasil. Na última safra, quase 20 milhões de toneladas de grãos passaram pelas cooperativas gaúchas.
“As cooperativas do RS cresceram 24% no ano passado, fruto principalmente do aprimoramento na gestão”, conta o Presidente da Fecoagro/RS, Paulo Pires. Segundo ele, o setor cooperativista está cada vez mais preparado tecnicamente para não repetir os erros do passado, que levaram muitas cooperativas a encerrar as atividades. “Não podemos deixar que as empresas de insumos decidam o quê e como o nosso produtor vai plantar. Se o produtor vai mal, a cooperativa fecha as portas. Por isso este movimento para qualificar os quadros das cooperativas. O comércio de insumos é importante para o caixa da cooperativa, mas o fundamental é a agronomia. O critério técnico precisa estar bem fundamentado para garantir a tranquilidade e confiança do nosso cooperado”, afirma Pires.
Para o Gerente Técnico da OCB, Paulo Cesar Dias do Nascimento Junior, o programa de capacitações está sempre superando as expectativas: “Além do crescimento técnico, os dirigentes das cooperativas têm nos relatado o impacto emocional nos profissionais participantes da capacitação. Os técnicos voltam para o trabalho mais entusiasmados, com motivação para implantar os conhecimentos no campo”, conta Paulo. Ele lembra que o convênio Embrapa-OCB-Sescoop abrange as unidades da Embrapa Trigo, Soja e Gado de Leite. O projeto com a Embrapa Milho e Sorgo foi assinado agora e as ações deverão iniciar no próximo ano.
Os 25 agricultores cooperativistas foram trazidos por dez técnicos das cooperativas Camnpal, Coagril, Coagrisol, Coopatrigo, Cotribá, Cotricampo, Cotriel, Cotrisal e Coasa.
O próximo módulo da capacitação na cadeia produtiva de cereais de inverno terá como tema “Implantação e manejo de cultivos anuais produtores de grãos” e acontece de 27 a 29 de agosto, na Embrapa Trigo, em Passo Fundo, RS. A turma 2019 conta com 40 participantes.
Joseani M. Antunes (MTb 9693/RS)
Embrapa Trigo
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