Embrapa e sociedade discutem bioeconomia e inovação para o setor agroindustrial
Embrapa e sociedade discutem bioeconomia e inovação para o setor agroindustrial
A bioeconomia, que tem como base o uso de recursos biológicos e renováveis em processos industriais, reuniu Embrapa, Governo Federal, empresas privadas e associações de produtores para discutirem os principais desafios e oportunidades para o agronegócio brasileiro. O tema é novo e tem várias definições, mas é consenso o seu grande potencial para a inovação e agregação de valor aos produtos da biodiversidade. Durante dois dias (25 e 26/09), este foi o principal assunto que reuniu cerca de 300 pessoas na Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, em Brasília, durante o I Seminário em Bioeconomia.
“No agronegócio temos várias cadeias que se utilizam dos insumos biológicos, desde microrganismos utilizados no controle biológico de pragas até a utilização de plantas como biofábricas para a produção de medicamentos”, explica o pesquisador da Embrapa Emanuel Abreu, um dos organizadores do seminário.
Dados recentes mostram que as tecnologias produzidas a partir da bioeconomia já movimentam 2 trilhões de dólares no mundo. O Brasil possui a maior diversidade biológica do planeta e o uso sustentável dessa “matéria-prima” é de grande interesse para a indústria, o comércio e a economia como um todo. “A base da nossa economia está saindo do mineral/fóssil para a bioeconomia, e quem está impulsionando isso é o consumidor final”, afirmou o Chefe-geral da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, José Manuel Cabral.
Atualmente, entre 50 e 65% da economia brasileira ainda é baseada em combustíveis fósseis e, portanto finitos, a chamada economia “linear”, e entre 35 e 40% em recursos biológicos e renováveis, uma economia circular, que é a base da Bioeconomia. “Os esforços mundiais estão caminhando para uma economia mais sustentável”, alertou Cabral.
Agronegócio brasileiro carece de infraestrutura e conectividade
No painel “Desafios e Oportunidades da Bioeconomia”, o presidente executivo da Associação Brasileira de Biotecnologia Industrial (ABBI) Thiago Leite falou dos desafios relacionados à logística para a utilização dos produtos da biodiversidade. “Se começarmos a tentar buscar matéria-prima da Amazônia não teremos infraestrutura de transporte para trazer esses insumos a um custo competitivo”, afirmou. O executivo da ABBI sugeriu que a Embrapa monte um núcleo estratégico de bioeconomia, com o envolvimento de diversos cientistas e promoção de diálogo para o desenvolvimento de uma visão comum.
O diretor da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG), Ingo Plöger, destacou que o Brasil é uma potência econômica e energética, mas que não existirá desenvolvimento tecnológico se não houver interação entre a pesquisa e a indústria.
No painel “Inovação em Bioeconomia", o pesquisador da Embrapa Elíbio Rech falou que a domesticação sintética da biodiversidade tem relação direta com a conservação. “Não precisaremos mais tirar espécies da biodiversidade, pois poderemos fazer “mímica” das estruturas”, disse Rech.
O diretor do Departamento de Inovação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) Luís Cláudio Rodrigues, falou da emergência da agricultura 4.0, em que a tomada de decisão ocorre em tempo real. Segundo ele, o maior desafio hoje é levar conectividade ao campo para que as tecnologias já existentes cheguem ao produtor. Ele também falou da inovação trazida pelas startups brasileiras ligadas ao agronegócio, e que em breve será lançado o Programa Nacional de Bioinsumos, para complementar o Programa Bioeconomia Brasil-Sociobiodiversidade, lançado em junho deste ano.
O assunto é financiamento
No painel “Cenários internacionais e fontes de financiamento”, a coordenadora da Conferência “Green Rio” Maria Beatriz Martins Costa destacou que a Embrapa é peça fundamental para projetar a imagem do Brasil e da bioeconomia no exterior. “O governo da Alemanha lançará em breve um edital com R$ 20 milhões para iniciativas na área de bioeconomia”.
A representante da SwissNex Brasil, Maria Conti, falou das oportunidades oferecidas pelo governo suíço para A pesquisas brasileiras, tanto em forma de financiamento quanto pelo intercâmbio entre pesquisadores. Conti explicou sobre o Programa de Treinamento Academia-Indústria (AIT), uma plataforma para o intercâmbio de conhecimentos e ideias em ciência, educação, pesquisa e inovação e do apoio para startups inovadoras.
Demandas do setor produtivo
Representantes da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (ABRAPA), da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (APROSOJA), da Comissão Nacional de Pecuária de Corte da Confederação da Agricultura do Brasil (CNA), da Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (ABRAFRUTAS) e do Consórcio Pesquisa Café expuseram suas principais demandas para o desenvolvimento de uma agricultura baseada na bioeconomia.
Márcio Portocarrero, da ABRAPA, destacou que o custo de produção, especialmente dos insumos (61% do total) é hoje o principal desafio da cadeia produtiva do algodão. “No passado, fomos excluídos do mercado pelo bicudo do algodoeiro e hoje somos o 2º maior exportador e o 4º maior produtor de algodão do mundo. A maior produtividade de algodão sequeiro é do Brasil, e reconhecemos a importância da Embrapa neste cenário”, disse Portocarrero.
Lucas Tadeu Ferreira, da Embrapa Café, ressaltou que o Brasil domina mais de um terço da produção mundial de café e que, para continuar mantendo essa liderança, terá que chegar ao patamar de 70 milhões de sacas por ano. Atualmente, a expectativa é que o Brasil colha 50,92 milhões de sacas de 60 kg de café beneficiado em 2019.
Em relação à soja, commodity que, ao lado do café, tem o Brasil como maior exportador mundial, o consultor Fabrício Rosa também falou do desafio do custo e que a perda da rentabilidade está nos insumos. Ele citou a tecnologia de edição de genomas como uma das possíveis soluções para o avanço da soja no País.
Antônio Pitangui de Salvo, representante da Pecuária de Corte, disse que o setor pode se beneficiar da bioeconomia por meio de uma melhor regulamentação, redução dos custos de produção, transferência de tecnologia e produção sustentável. “O Brasil só é o que é na pujança do agronegócio pelo trabalho realizado pela Embrapa”, afirmou.
Por fim, o representante da ABRAFRUTAS Jorge Souza destacou a posição protagonista do Brasil como produtor e exportador de frutas para o mundo. “Somos o 3º produtor mundial mas cada vez mais iremos precisar dos modernos recursos da biotecnologia, pois temos dificuldades técnicas para fazer fruticultura num País que sofre muito com o estresse ambiental”, afirmou. Souza também destacou o desafio de exportar frutas e fazê-las chegar em boas condições na Europa e na Ásia. “É muito importante oferecer um produto diferenciado e a Embrapa pode nos ajudar nisso”.
Políticas públicas e empreendedorismo
O Coordenador Geral de Sistemas Produtivos e Inovativos do Ministério do Desenvolvimento Regional (SNDRU/MDR), Vitarque Coêlho, também participou do evento e apresentou as Rotas de Integração Nacional. Com o intuito de contribuir para os objetivos da Política Nacional de Desenvolvimento Regional (PNDR), esta iniciativa tem por objetivo promover a estruturação de cadeias produtivas estratégicas e a integração econômica das regiões menos desenvolvidas do País aos mercados nacionais e internacionais de produção, consumo e investimento.
Com contribuição ativa da Embrapa, atualmente estão sendo estruturados dez Arranjos Produtivos Locais - APLs, por meio das rotas do cordeiro, do mel, do açaí, do leite, do cacau, da economia circular, da biodiversidade, dentre outros. "A identificação das rotas prioritárias para cada região do País é importante para promover não somente o desenvolvimento regional de forma planejada e estruturada, mas também a bioeconomia nacional", disse Coêlho.
O poder legislativo brasileiro foi representado no seminário pelo líder da Frente Parlamentar da bioeconomia, deputado Paulo Ganime (NOVO - RJ). Ele falou sobre os setores-chave para a bioeconomia, tendências tecnológicas e da necessidade de se formular políticas públicas específicas para o tema. “É fundamental que a gente aproveite essa onda. Se o Brasil não entrar nisso com muita força vamos perder a oportunidade”, disse o deputado.
O gerente da Secretaria de Inovação e Negócios da Embrapa, Rafael Vivian, destacou alguns projetos da empresa que utilizam estratégias biotecnológicas tais como plantas resistentes a fatores bióticos e abióticos e plantas e animais utilizados como biorreatores para a produção de biomoléculas. Ele também afirmou que o cenário brasileiro é favorável para a bioeconomia. “É preciso mudar a visão predominante no agronegócio como fonte somente de bens primários (commodities) e considerar o imenso potencial na geração de valor agregado a partir dos seus recursos naturais renováveis”, disse Vivian.
Mercado privado e startups
O último painel reuniu representantes da Corteva Agriscience e das startups PANGEIABiotech e 3DThinkBio. Welcimar Cunha, da Corteva, falou sobre as formas de buscar parceria com a empresa. “Ninguém consegue mais ser o primeiro do mundo trabalhando sozinho. Construir parcerias é fundamental”, afirmou. Ele citou exemplos de parcerias Embrapa/Corteva na área de edição de genomas e agricultura digital.
O fundador da PANGEIABiotech Paulo De Lucca falou das dificuldades de ser uma pequena empresa mas também abordou a parceria de sucesso com a Embrapii/Embrapa Agroenergia para o desenvolvimento de uma cana-de-açúcar resistente a glifosato e broca com tecnologia do DNA 100% desenvolvido pela PANGEIABiotech. “Queremos desenvolver uma super cana-de-açúcar”, disse. Ele citou como principais desafios para as startups no Brasil a burocracia, a carga tributária e o financiamento.
Por último, a biotecnologista Beatriz Santos falou dos desafios para vencer o “Vale da Morte” das empresas (termo que se refere à dificuldade dos negócios em ter caixa para segurar períodos de pouca ou nenhuma entrada de dinheiro da empresa no início das operações) e a experiência da 3DThinkBio.
Criada para fabricar estruturas 3D e equipamentos a baixo custo, o embrião da empresa surgiu no Laboratório de Nanotecnologia da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, coordenado pelo pesquisador Luciano Paulino. “Para vencer os desafios é preciso apoio, parcerias com institutos de ciência e tecnologia, financiamentos alternativos, espaço para pesquisa e desenvolvimento e para a fabricação dos produtos. Com isso, é possível transformar o “Vale da Morte” em “Crista da Vida”.
Irene Santana (MTb 11.354/DF)
Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia
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