09/10/19 |   Agricultura familiar  Transferência de Tecnologia

No Pará, assentados recuperam áreas e colhem benefícios

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Foto: Ana Laura Lima

Ana Laura Lima - Agricultores e técnicos planejam como recuperar áreas no assentamento

Agricultores e técnicos planejam como recuperar áreas no assentamento

Recuperar áreas degradadas, diminuir o passivo ambiental e ao mesmo tempo obter renda com frutos, óleos e sementes é o que buscam as famílias do assentamento Mamuí, em Itupiranga, no Sudeste Paraense. O local é um dos pontos de implantação das ações do projeto Inovaflora, coordenado pela Embrapa com o apoio do Fundo Amazônia.

De acordo com a engenheira florestal Michelliny Bentes, da Embrapa Amazônia Oriental, o objetivo maior do trabalho é reduzir o desmatamento e melhorar a condição produtiva das áreas da agricultura familiar na Amazônia. “Levamos tecnologias e construímos alternativas com os agricultores para que eles possam se adequar à legislação e produzir mais em suas áreas, de forma legal”, explica a especialista.

O Inovaflora atua em quatro municípios da região Sudeste do Pará: Marabá, Itupiranga, Novo Repartimento e Ipixuna, com o apoio de uma rede de instituições governamentais e não-governamentais (Ideflor, Emater, associações de produtores, secretarias de agricultura, entre outras). Com mais de 500 assentamentos, a região traz elementos da antiga e da nova fronteira de ocupação da Amazônia e com isso, de acordo com a pesquisadora, grandes problemas socioambientais, “como desmatamento e queimadas intensivas para uso do solo”, exemplifica.

O agricultor João Francisco Pinheiro, conhecido como “Seu Sadia”, é um dos pioneiros do assentamento Mamuí, localizado em Itupiranga. Chegou na área em 2005, antes mesmo da criação do assentamento, em 2009. Tem 22 hectares no local, onde faz “de tudo um pouco”, como ele mesmo diz.

“Gado de corte, de leite, produção de queijo, mandioca, produção de farinha, milho, hortaliças, cupuaçu, açaí... aqui a renda é diversificada”, conta. Ele conta ainda que a principal dificuldade no lote é recuperar as áreas de preservação permanente (nascentes e beiras de rio) e estabelecer a sua reserva legal.

“Quando chegamos aqui desmatamos tudo para produzir, para mostrar que estávamos produzindo. Agora temos que recuperar. A adequação à lei não é fácil, mas não é impossível”, desabafa o agricultor.  

Benefícios ambientais e econômicos

A mudança já está acontecendo no lote do agricultor Elias Barros da Silva, casado e pai de dois filhos, que vivem no assentamento Mamuí. Ele cria gado de leite, peixe e planta mandioca nos 15 hectares da sua propriedade que abriga duas nascentes. Em uma delas, transformada em pasto e atualmente abandonada, o agricultor iniciou a recuperação em abril deste ano.

“Plantamos cerca de 300 mudas de mais de oito espécies de frutas e árvores, como açaí, taperebá, mogno, ipê, cedro e outras”, relembra o agricultor. O que antes era uma área abandonada está aos poucos se transformando em uma área com valor ambiental e econômico para o Elias e sua família.

Para o agrônomo Ademir Ruschel, pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental, recuperar Áreas de Preservação Permanente, como nascentes e margens de rios e igarapés, é fundamental para o meio ambiente e para vida prática dos agricultores. “A oferta de água nas propriedades está diretamente ligada à recuperação e conservação dessas áreas. As atividades da família dependem disso”, destaca. 

Quanto à Reserva Legal, o especialista afirma que é importante verificar as necessidades da família e do mercado local. “Frutas, óleos, sementes e, em alguns casos, a própria madeira são fontes de renda para os produtores da região”, completa.

Tanto o “Seu Sadia” quanto o Elias já perceberam isso e sabem bem como querem recuperar suas áreas. “Já que a gente errou, temos que acertar. Mas acertar de uma maneira que possamos melhorar o meio ambiente e também a nossa renda”, admite “Seu Sadia”.

“Quero ver daqui a algum tempo essa mata bem grande, as nascentes jorrando água e meu açaí dando frutos. Isso é para as futuras gerações, para os meus filhos, eles também vão lucrar com isso”, finaliza Elias.  

Oficina participativa

O projeto Inovaflora realizou a primeira etapa da Oficina de Planejamento Participativo no assentamento Mamuí, em Itupiranga (PA), no dia 23/09, que abordou a Legislação Ambiental. Cerca de 50 agricultores participaram do evento e iniciaram a construção dos mapas de uso das propriedades. Os mapas vão indicar as áreas de preservação permanente, a reserva legal e as áreas produtivas dos lotes.

Veja na reportagem abaixo.

 

 

Fundo Amazônia 

O projeto InovaFlora é um dos 19 projetos em fase de execução que compõem o Projeto Integrado para a Produção e Manejo Sustentável do Bioma Amazônia, financiado pelo Fundo Amazônia, operacionalizado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Um dos princípios do Fundo é a convergência de ações do Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal – PPCDAM e dos Planos Estaduais de Prevenção e Combate ao Desmatamento em áreas prioritárias de ação governamental. A Embrapa e parceiros atuam em todos os estados da Amazônia Legal com o objetivo de reduzir o desmatamento e promover a preservação e o uso sustentável dos recursos naturais, a partir do fortalecimento da agricultura familiar da região.

 

Ana Laura Lima (MTb 1268/PA)
Embrapa Amazônia Oriental

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