11/10/19 |   Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação

Principal base de dados internacional de ACV é atualizada e resultados espelham melhor as realidades da agropecuária brasileira

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Foto: Marcos Vicente

Marcos Vicente -

No dia 12 de setembro, a Ecoinvent, instituição responsável pela gestão da principal base de dados internacional para avaliação de ciclo de vida (ACV), sediada na Suíça, publicou a versão 3.6 de sua base de dados, com resultados inéditos para os produtos brasileiros. 

A base de dados é utilizada por mais de 80 países e por uma ampla gama de instituições, incluindo gigantes do setor agroindustrial, como Unilever, Nestlé, Coca-Cola, Bayer e DuPont, as principais empresas de consultoria do mundo, como por exemplo Deloitte, Ernst-Young e KPMG, e as principais instituições de pesquisa do mundo, como as universidades de Harvard, Cambridge e Tokio e os institutos MIT (EUA), Instituto de tecnologia de Beijing (China) e Instituto de Energias e Recursos (Índia). Nesse sentido, a atualização reflete nos resultados de avaliação de ciclo de vida em uma parcela muito significativa do globo.

A atualização dos dados brasileiros foi viabilizada pelo projeto ICVAgroBR, coordenado pela Embrapa Meio Ambiente e financiado pelo programa Sustainable Recycling Industries (SRI), da Secretaria de Assuntos Econômicos do governo Suíço.

Foram co-executores do projeto a Embrapa Agroindústria Tropical - Fortaleza, CE, Embrapa Semiárido - Petrolina, PE, Embrapa Pantanal - Corumbá,MS, Laboratório Nacional de Biorrenováveis (LNBR), Fundação Espaço Eco, Agroscope, Quantis Sàrl e Ecoinvent. Também contribuíram na geração dos resultados as Unidades da Embrapa Soja, Milho e Sorgo, Florestas e Gado de Corte.

Um total de 632 novos conjuntos de dados foi integrado à nova versão da ecoinvent, incluindo inventários de ciclo de vida de alguns dos principais produtos agrícolas brasileiros, como cana-de-açúcar, soja, milho, eucalipto, bovinos de corte e manga, em nível estadual e nacional, além de inventários de processos de mudança de uso da terra (MUT).

Especialmente para os produtos exportáveis, a disponibilização na ecoinvent, de dados que melhor retratem os processos produtivos brasileiros, contribui para o aumento de sua competitividade no mercado internacional, cada vez mais exigente quanto aos aspectos ambientais.

Uma das principais novidades da ecoinvent versão 3.6 é a modelagem de MUT, discriminando os níveis estadual, regional e nacional, para produtos brasileiros. Também foram aprimorados a adoção de fontes de dados oficiais nacionais para o uso da terra, a inclusão de pastagens e florestas plantadas como categorias de uso da terra, e a regionalização dos estoques de carbono.

A maior acurácia das medidas melhorou as estimativas das emissões de GEE. Para soja e cana-de-açúcar, por exemplo, as estimativas de emissões reduziram em 41% e 99%, respectivamente.

Segundo Marília Folegatti, pesquisadora da Embrapa Meio Ambiente e coordenadora do projeto, “para se promover a adoção de modelos de produção mais sustentáveis são necessárias ferramentas que permitam a identificação de pontos críticos na cadeia produtiva e a indicação de oportunidades para promover melhorias ambientais, como a Avaliação de Ciclo de Vida (ACV). Esta ferramenta se baseia nos Inventários de Ciclo de Vida (ICV), conjuntos de dados que contabilizam o material e energia envolvidos em um processo de produção e fornecem informações que descrevem quantitativamente a tecnologia usada no processo, assim como refletem seu escopo geográfico e temporal. ICV regionalizados, como os gerados por este projeto, são indispensáveis para a qualidade dos estudos de ACV e para as ações deles derivadas.”

Já Renan Milagres, analista da Embrapa Meio Ambiente, explica que bases de dados internacionais, costumam conter dados genéricos e de baixa resolução em suas primeiras versões. “Por isso, é estratégico para o Brasil a revisão e geração de dados mais acurados sobre seu território. Quando nossos dados possuem bom embasamento científico, eles costumam ser bem aceitos na comunidade internacional e podem gerar mudanças significativas como estas que observamos”, comenta ele.

Mateus Chagas, pesquisador do LNBR e membro da equipe do projeto, ressalta que nesta versão da ecoinvent foram incluídos seis conjuntos de dados referentes à produção da cana-de-açúcar, nos principais estados produtores, incorporando ainda diversos conjuntos de dados sobre as operações agrícolas utilizadas no sistema de produção e outros quatro conjuntos de dados representando a conversão industrial da cana em usinas com diferentes configurações tecnológicas. Conforme o pesquisador, “a disponibilização dessas informações na base de dados é de fundamental relevância para a comunidade científica internacional, por causa do grande interesse no uso de biocombustíveis como alternativa para redução das emissões de gases de efeito estufa - GEE.

A informação contida agora na ecoinvent representa a síntese de um grande esforço que o LNBR conduz há anos, por meio da Biorrefinaria Virtual de Cana-de-açúcar (BVC) para o levantamento, sistematização e validação de dados de processos do setor sucroenergético no Brasil. A disponibilização desses dados trará mais qualidade aos estudos de ACV que envolvam o etanol e demais produtos da cana-de-açúcar no Brasil, tornando esses produtos mais representativos da realidade nacional.”

A participação pró-ativa do setor de fruticultura nesse projeto é destacada pela pesquisadora Maria Cléa Brito de Figueirêdo. Conforme ela, a elaboração dos inventários relacionados à produção e embalagem de manga na região do Sub-médio São Francisco contou com a ativa participação dos produtores de manga da região, que forneceram os dados necessários à elaboração dos inventários. “A região do São Francisco é a maior produtora e exportadora de manga do Brasil, tendo produzido 67% da manga do país, em 2016. Nos últimos anos, os produtores de manga dessa região vêm sendo demandados pelas cadeias de supermercado internacionais para fornecerem informações sobre as pegadas de carbono e hídrica das frutas exportadas. Os inventários de manga, fruto desse projeto, são a base para a realização desses estudos,” disse.

Fernando Dias, da Embrapa Pantanal, comenta que foi muito especial a experiência para ele e para os grupos de pesquisa em que atuou na Embrapa Pantanal, Gado de Corte, e em outras unidades, a oportunidade de cooperar para a produção do primeiro conjunto de ICV de gado bovino de corte para a ecoinvent. Um produto tão importante para a economia brasileira, que desperta tantas opiniões conflitantes sobre o seu impacto ambiental, e para o qual não havia ICV algum, nem brasileiro, nem de outros países na base ecoinvent. “O aprendizado necessário para a execução da minha participação do projeto já está rendendo frutos em pesquisas atualmente em andamento, e planejo em breve submeter atualizações aos ICV enviados, com resultados do censo agropecuário IBGE de 2017, minha atuação no Centro de Inteligência da Carne e resultados de outras iniciativas e parcerias”.

Emília Moreno-Ruiz, da Associação ecoinvent e coordenadora do componente de ICV do projeto SRI, destaca que nesta nova versão do banco de dados também foram incluídos dados brasileiros para outros setores, como materiais para construção civil (em colaboração com a Universidade de São Paulo), geração de eletricidade (em colaboração com a Universidade Federal de Santa Catarina), e turismo (em colaboração com a COPPETEC).

Além do reconhecimento internacional, a atualização dos dados contribuirá de forma prática com o aumento de acesso a dados nacionais por parte de profissionais e pesquisadores brasileiros. Durante a estruturação do acordo que culminou com a disponibilização de dados brasileiros na base ecoinvent, a Embrapa formalizou a possibilidade de doação dos dados para o Banco Nacional de Inventários do Ciclo de Vida (SICV Brasil), administrado pelo Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT).

Tiago Braga, Coordenador Geral de Tecnologias da Informação e Informática do IBICT, comenta que  “a base nacional mantém os dados de forma pública e gratuita, o que promoverá a realização de novos estudos de ACV baseados nos conjuntos de dados produzidos por este projeto”.

 

Marcos Vicente (MTB 19.027/MG)
Embrapa Meio Ambiente

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