Discussões técnicas marcam seminário sobre ILPF na Paraíba
Discussões técnicas marcam seminário sobre ILPF na Paraíba
O Seminário ‘Novas visões e estratégias em ILPF’, realizado em Campina Grande, no Agreste Paraibano, na quarta (30), foi marcado por discussões técnicas e a certeza de que os estados do Nordeste têm, de fato, grande potencial para adoção da Integração Lavoura - Pecuária - Floresta.
Realizado na Embrapa Algodão, o seminário foi segundo de três encontros da série ‘ILPF no Nordeste: aprendizados e desafios’, que promove discussões técnicas e científicas sobre a Integração Lavoura - Pecuária - Floresta na região. Promovida pela Embrapa e a Rede ILPF com apoio de diversos parceiros estaduais e federais, a série se encerra com um encontro para discutir modelos de ILPF para o Semiárido, em Petrolina, PE, de 19 a 22 de novembro.
As palestras da manhã focaram em discussões técnicas e casos de sucesso de adoção de ILPF em propriedades e como política pública, e no painel da tarde o foco foi nas possibilidades de articulação institucional e apoio financeiro para fomentar o avanço dos sistemas integrados na Paraíba e demais estados.
Uma visão unânime entre os mais de 70 participantes – gestores de órgãos federais e estaduais, assistentes técnicos, consultores, pesquisadores e professores – foi de que a Paraíba e os demais estados da região têm condições de adotar modelos de ILPF adaptados a suas realidades, mas para que essa tecnologia se torne uma política pública e avance é necessária uma grande articulação entre parceiros.
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Visões
Para o pesquisador da Embrapa Alimentos e Territórios Ricardo Elesbão, que fez a palestra de abertura, o Nordeste tem grande potencial para introduzir nos sistemas integrados produtos e culturas de alto valor agregado, a exemplo de cactáceos nativos e exóticos com frutos com propriedades bioativas antioxidantes, pelos quais os mercados europeu, norte-americano e asiático estão dispostos a pagar altos valores. “Os processos de produção em sistemas integrados estão fortemente ligados ao reconhecimento pelo público consumidor, que exige mais conhecimento e confiança nos produtos. E os sistemas integrados agregam isso para o consumidor, que tem um olhar especial para esse tipo de produto”, destacou.
Roberto Giolo, da Embrapa Gado de Corte (Campo Grande, MS), trouxe para o debate o conceito e as práticas de Carne Carbono Neutro (CCN), que vêm sendo desenvolvidos no Brasil desde a década de 2000, com lançamento oficial em 2015. A CCN envolve a integração no sistema de produção de componentes arbóreos na propriedade, que absorvem carbono da atmosfera e neutralizam as emissões pelos animais do gás metano – que contribui para o efeito estufa e aquecimento global.
“Apesar de não termos atingido níveis ideais de adoção do conceito no Brasil como um todo, temos percebido um grande avanço e um interesse cada vez maior entre os produtores, e são muito interessantes as possibilidades de diversificação no Nordeste, com introdução de coqueiro, palmáceas e outras espécies que podem trazer bons resultados”, declarou.
Casos de sucesso
De acordo com Fernando Garcia, da Secretaria da Agricultura do Tocantins, que apresentou os resultados da implantação do Plano de Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (ABC) com inserção de ILPF no seu estado, um passo fundamental foi a formação de grupo gestor diverso e bem representativo, com agentes de Estado, assistentes técnicos, instituições de ensino e setor produtivo.
“A capacitação continuada dos assistentes foi fundamental, bem como a instalação das Unidades de Referência Tecnológica (URTs) em parceria com os produtores para consolidar o modelo e seu aprendizado. Hoje o Plano ABC no Tocantins é uma política pública efetiva, com ganhos de produtividade e sustentabilidade dos produtores”, destacou.
Garcia ressaltou que no início o principal objetivo do plano era recuperar pastagens degradadas, mas o engajamento dos parceiros e os resultados positivos fizeram com que o leque se ampliasse para frentes – introdução dos programas Balde Cheio, Carne Carbono Neutro e o aumento da eficiência econômica dos sistemas.
Outro caso de sucesso de destaque foi o da URT de Tenório, no Cariri Paraibano, região central no Semiárido do estado, coordenada pelo consultor técnico Humberto Araújo por meio do Senar Paraíba. Ele apresentou imagens e descrições da área implantada em parceria com agricultores. Impressionou a todos a enorme variedade de cultivos integrados na unidade, desde grãos como o milho Gorutuba (desenvolvido pela Embrapa para o Semiárido), leguminosas como feijão, moringa e gliricídia, gramíneas forrageiras, cactáceas e palmas.
“As informações geradas e transmitidas pela pesquisa da Embrapa foram a grade base para que pudéssemos aplicar as técnicas de preparo do solo, adubação e manejo das culturas de forma adequada”, ressaltou o assistente técnico.
Estratégias
As discussões da tarde focaram em estratégias e articulações institucionais para fortalecer a adoção de sistemas integrados na Paraíba. O chefe de Transferência de Tecnologia da Embrapa Algodão, João Henrique Zonta, apresentou as estruturas e grupos de pesquisa e transferência das Unidades da Embrapa que atuam para promover ILPF no Nordeste, destacando as oportunidades de parcerias e integração de esforços.
Pablo Araújo, do Departamento de Assistência Técnica e Extensão Rural do Senar PB, apresentou o programa de assistência e seus resultados na Paraíba. João Bosco, do Sebrae PB, apresentou casos de sucesso de propriedades que receberam consultoria e assistência do órgão, e o técnico João Paulo, que há cinco anos atua como consultor e assistente técnico do Sebrae na região, deu seu testemunho.
O professor de ciências do solo Adailson de Souza, do Campus da UFPB em Areia, apresentou resultados de um extenso levantamento da fertilidade dos solos da PB - 1885 análises de solo de 2016 a 2018. Ele destacou a importância de se adequar os modelos de ILPF às características específicas dos solos nas mesorregiões paraibanas.
Os bancos financiadores foram representados por Celio Cintra, superintendente comercial do Banco do Brasil para Campina Grande e região, e Daniel Almeida - Gerente de Negócios do BNB em João Pessoa. Eles apresentaram as linhas de crédito e oportunidades de negócio para sistemas integrados e Plano ABC.
Hermes Ferreira, chefe da Divisão de Desenvolvimento Rural da Superintendência Federal de Agricultura na Paraíba, também participou dos debates, bem como coordenador do Grupo Gestor do Plano ABC no estado, o representante da Secretaria de Estado do Desenvolvimento da Agropecuária e da Pesca (Sedap), Demilson Lemos.
O seminário encerrou com um rico debate em microfone aberto sobre os desafios para o avanço de ILPF na Paraíba e uma visita ao estande de ILPF em Realidade Virtual, com óculos 3D para visualização das práticas de ILPF em realidade aumentada.
Saulo Coelho (MTb/SE 1065)
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