Congresso Brasileiro de Agroecologia fia a teia da ecologia de saberes
Congresso Brasileiro de Agroecologia fia a teia da ecologia de saberes
O campus da Universidade Federal de Sergipe (UFS) em São Cristóvão, cidade-mãe do menor estado brasileiro, foi o chão sobre o qual, por quatro dias intensos e ricos, de 4 a 7 de novembro, aconteceu a rica troca de saberes sobre plantar e colher sem destruir, respeitando e celebrando a vida em toda sua diversidade, durante o Congresso Brasileiro de Agroecologia (CBA) 2019.
Realizado a cada dois anos pela Associação Brasileira de Agroecologia (ABA) em parceria várias organizações, o CBA teve em sua 11ª edição considerada um marco tanto por seus organizadores quanto seus mais de três mil participantes, com mais de 600 agricultoras e agricultores e membros de diversas etnias indígenas, e foi marcada por trocas, encontros, empoderamento, despedidas e desenvolvimento coletivo.
O CBA 2019 abriu caminhos e rompeu fronteiras físicas e invisíveis. Teve pela primeira vez como espaço o ambiente de uma universidade pública. Viu nascer, em sua programação, o Festival Internacional de Cinema Agroecológico (Ficaeco). Pela primeira vez foi realizado sem patrocínio direto das esferas do poder público. E foi grandioso.
Foi fruto da fiação coletiva de uma grande teia de cooperação, de intercâmbio de saberes e fazeres agroecológicos. Com o lema “Ecologia de Saberes: Ciência, Cultura e Arte na Democratização dos Sistemas Agroalimentares”, foi construído com base nas proposições da "Pedagogia do Território", de Raquel Rigotto, e da Pedagogia Griô, de Líllian Pacheco e do Griô Márcio Caires.
Fiando a teia
Partindo da ideia de que a Agroecologia se constrói a partir da interação entre prática, ciência, movimento e diversas fontes de conhecimento, a costura com elementos dessa teia lançou um olhar para diferentes linguagens, territórios e saberes.
Os mais de dois mil trabalhos científicos foram apresentados nos “tapiris”, termo da língua indígena Caribe, conhecido pelos seringueiros, indígenas e agricultores da Amazônia, que significa palhoça, onde se abriga aqueles que estão em mobilidade pelos territórios.
As fiandeiras trataram de conduzir o fio da teia de saberes em 16 eixos temáticos e questões geradoras abordados nos ambientes de diálogo integrados em dez conferências conjuntas, tecendo a conferência de despedida.
As tendas principais acolheram dezenas de rodas de conversa sobre temas como visibilidade, respeito empoderamento LGBTQI+, feminino e do povo preto na agroecologia. Os espaços permanentes trouxeram cores, sabores, energias, letras, símbolos e brincadeiras para o campus, com área de alimentação com produtos agroecológicos, palco para expressões musicais e artísticas, espaço Ciranda para as crianças, tenda de cuidados da saúde com diversas abordagens, espaço de oficinas culinárias com ingredientes limpos e não convencionais, comercialização de produtos das comunidades tradicionais de todo o país e muito mais.
Dezenas de profissionais da Embrapa deram sua contribuição na construção coletiva, tanto na organização local e em rede quanto na apresentação de trabalhos e troca de saberes nos espaços do CBA. Entre elas e eles estavam a ex-diretora executiva e pesquisadora da Embrapa Amazônia Oriental (Belém, PA) Tatiana Sá, as pesquisadoras e pesquisadores Ana Euler, da Embrapa Amapá (Macapá, AP), Silas Garcia, Elisa Wandeli e Nestor Lourenço, da Embrapa Amazônia Ocidental (Manaus, AM), Cristhiane Amâncio e Mariella Uzêda, da Embrapa Agrobiologia (Seropédica, RJ), Ênio Girao, da Embrapa Agroindústria Tropical (Fortaleza, CE), Fernando Curado, da Embrapa Tabuleiros Costeiros (Aracaju, SE), Marenilson Batista, da Embrapa Algodão (Campina Grande, PB), Regis Sivori, da Embrapa Uva e Vinho (Bento Gonçalves, RS), Amauri Siviero e Idesio Franke, da Embrapa Acre (Rio Branco, AC), analistas Eden Fernandes, da Embrapa Caprinos e Ovinos (Sobral, CE), Fernanda Amorim, Tereza de Oliveira, Geovania Manos, Neíza Batista e Mauro Teodoro, da Embrapa Tabuleiros Costeiros (Aracaju, SE) e muitos e muitas mais, além de bolsistas de pesquisa.
Despedidas
O pesquisador Edson Diogo Tavares, da Embrapa Tabuleiros Costeiros, integrou a comissão de organização local do CBA e teve atuação marcante para o sucesso do evento. Como tinha marcado sua aposentadoria da Embrapa para dois dias após o congresso, teve, no ritual de encerramento, uma despedida e homenagem dignas dos mais nobres ritos de passagem indígenas, com poemas e cantos exaltando sua valorosa contribuição para o fortalecimento da agroecologia no Brasil. O seu colega Edmar Siqueira, grande especialista em sistemas agroflorestais, também encerrou sua carreira na Embrapa após o CBA. Ambos receberam menção e aplauso do chefe da Unidade, Marcelo Fernandes, na conferência de abertura.
Diogo ressaltou que o CBA 2019 virou realidade graças à mobilização de uma ampla rede de instituições parceiras, tais como a Universidade Federal de Sergipe (UFS), o Instituto Federal de Sergipe (IFS), a Secretaria de Agricultura, Desenvolvimento Agrário e da Pesca (SEAGRI) e a Embrapa, que se uniram à Associação Brasileira de Agroecologia (ABA) e a Rede Sergipana de Agroecologia (RESEA).
"A organização do evento mostrou uma mobilização inédita. A força dessas instituições e de uma ampla rede de pessoas e organizações tem feito com que a cada dia essa articulação se amplie e se fortaleça. Tivemos aqui uma grande oportunidade de aprofundar o debate sobre o modelo de agricultura que apresente alternativas concretas para que se possa produzir sem o uso de venenos e com insumos orgânicos que permitam o desenvolvimento das culturas na sua plenitude", destacou.
Para o presidente da ABA Romier Souza, o CBA 2019 foi marcante por diversos motivos. “O fato de ter sido o primeiro a ser realizado dentro de uma universidade pública é em si um marco histórico para o congresso. E a interação mais próxima entre quem pesquisa e quem pratica a agroecologia, nesse grande intercâmbio de saberes, foi outro ponto de destaque”, afirmou.
Para acessar os diversos conteúdos sobre o CBA 2019 produzidos de forma colaborativa por voluntários e coletivos de comunicação de todo o país, visite os portais da ABA, ANA e Resea, além do portal do CBA.
Para ver as fotos do CBA 2019 no perfil da Embrapa na rede social Flickr, navegue nos álbuns abaixo usando as setas laterais.
Saulo Coelho (MTb/SE 1065)
Embrapa Tabuleiros Costeiros
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