Marco referencial vai embasar serviços ambientais no Brasil
Marco referencial vai embasar serviços ambientais no Brasil
Pesquisadores de 13 unidades da Embrapa elaboraram um documento que vai nortear as ações referentes a serviços ambientais no Brasil. O Marco Referencial de Serviços Ecossistêmicos (MRSE) é uma publicação pioneira no País e vai ajudar técnicos, produtores, cientistas e a sociedade em geral a compreender e aplicar os conceitos e termos dessa nova área. Esses serviços podem ser explicados como os benefícios da natureza, como oferta de água, fibras, alimentos, polinização, fertilidade do solo e muitos outros.
A obra, elaborada por 26 pesquisadores, reúne conhecimentos sobre todos os biomas brasileiros e será lançada no dia 29 de novembro, durante o 1º Seminário Oportunidades e Negócios em Serviços Ecossistêmicos, no Rio de Janeiro (RJ). O livro já está disponível para download, nos formatos PDF e Epub, e é a primeira publicação em língua portuguesa sobre o assunto a apresentar um alinhamento conceitual dos serviços ambientais, além de perspectivas com foco na sustentabilidade da agropecuária.
“A agricultura tem grande potencial para ajudar a manter os serviços ambientais no Brasil. Além de valorizar o seu papel na preservação da natureza e economia agrícola, o Marco Referencial deixa clara a relevância do produtor rural como aliado na conservação da biodiversidade brasileira”, pontua o secretário de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa, Bruno Brasil.
Para a pesquisadora da Embrapa Solos (RJ) Rachel Prado, uma das quatro editoras da obra, o Marco Referencial servirá também como um documento de referência para ações parlamentares e dos poderes executivos na elaboração de políticas públicas. Ela assina a edição do livro ao lado dos pesquisadores Rodrigo Ferraz (Embrapa Solos, RJ), Lucília Parron (Embrapa Florestas, PR) e Mônica Campanha (Embrapa Milho e Sorgo, MG).
“Nosso desejo é que essa publicação consolide a importância dos serviços ecossistêmicos no meio rural como agregadores de valor à agropecuária, valorizando os produtos da sociobiodiversidade. É preciso também enaltecer o homem do campo como aliado da conservação da natureza e como o principal ator da adequação agroambiental da paisagem rural”, acrescenta a pesquisadora Rachel Prado.
LançamentoLivro Marco referencial em serviços ecossistêmicos Dia 29/11/2019, às 16h45 I Seminário Oportunidades e Negócios em Serviços Ecossistêmicos Local: Auditório da Casa Firjan Rua Guilhermina Guinle, 211 - Botafogo, Rio de Janeiro (RJ) Inscrições: https://www.firjan.com.br/eventos/i-seminario-oportunidades-e-negocios-em-servicos-ecossistemicos.htm |
A sustentabilidade da produção agropecuária no Brasil
Os autores explicam que o atual cenário de constante crescimento populacional e aumento da demanda por alimentos, matérias-primas e fontes de energia aumenta a pressão sobre os recursos naturais. A questão, segundo eles, é saber se é possível aumentar a produção sem comprometer os SE prestados pela natureza. Os editores dizem que sim, contanto que se evite a depreciação desses serviços causada pela degradação dos solos, das águas, da biodiversidade e do clima. Isso é possível com a construção de agroecossistemas sustentáveis, da recuperação das áreas degradadas e da restauração agroambiental da paisagem rural.
“A intensificação sustentável baseada na produtividade, estabilidade, resistência, resiliência e invulnerabilidade dos sistemas de produção é uma boa solução nesse sentido”; declara o ex-presidente da Empresa Silvio Crestana, pesquisador da Embrapa Instrumentação que prefaciou o livro.
Frente ao desafio de desenvolver a agropecuária sem aumentar o impacto sobre os recursos naturais, o chefe-geral da Embrapa Milho e Sorgo, Antônio Purcino, aposta em uma agenda sustentável. “A manutenção dos recursos da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos confere uma grande oportunidade de promover a prosperidade socioeconômica e incluir o País em uma agenda global para o setor agropecuário, alinhada com o desenvolvimento sustentável.”
Bons para a natureza e para o bolso
Os serviços ecossistêmicos são vitais para o bem-estar humano e para as atividades econômicas. “Sobretudo para a agricultura, que provê e demanda serviços ecossistêmicos, já que a degradação dos recursos naturais e o seu comprometimento não são externos aos sistemas de produção, mas afetam a própria sustentabilidade das atividades agropecuárias”, destaca o pesquisador Rodrigo Ferraz.
Outra questão importante para o fortalecimento dos SE é o pagamento por serviços ambientais (PSA). O PSA é um instrumento de compensação que valoriza o papel do produtor na conservação dos recursos naturais, premiando aqueles que conservam os solos e a água e conservam ou restauram as florestas em suas propriedades.
No Brasil, os programas de PSA relacionados à produção e conservação da água são os mais difundidos. A Agência Nacional de Águas (ANA) criou o Programa Produtor de Água, que tem como principal foco a redução dos processos de erosão e assoreamento dos rios nas principais bacias hidrográficas do País, aumentando a qualidade e quantidade de água disponível.
Um ponto que ainda levanta dúvidas a respeito do PSA é em relação a quem “paga” ao homem do campo, que é também um prestador de SE. “Para que esse pagamento aconteça é preciso o engajamento de diversos atores, como entidades governamentais, organizações civis, empresas e associação de produtores rurais, visando estabelecer mecanismos que possam assegurar o aumento da provisão de SE, bem como a compensação, monetária ou não, àqueles produtores que se engajam em iniciativas que beneficiam a sociedade”, salienta Mônica Campanha.
A conscientização sobre a importância da abordagem dos SE tem aumentado na sociedade como um todo. Além da esfera política, setores sem fins lucrativos e empresas vêm assimilando o conceito de serviços ecossistêmicos, passando a integrá-lo em suas rotinas, processo de produção e tomada de decisão. Os pesquisadores esperam também que, com a recente aprovação da Política Nacional de Pagamentos por Serviços Ambientais no Congresso Nacional, as iniciativas de PSA ganhem força, tornando-se mais eficazes a partir do respaldo legal. No MRSE, o leitor tem um panorama da descrição e da discussão dessa e de outras políticas relacionadas à provisão de SE no cenário nacional.
Foto: Fabio Enrique Torresan
Carlos Dias (MTb 20.395/RJ)
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