05/12/19 |   Recursos naturais

Década da Restauração de Ecossistemas deve trazer oportunidades temáticas para pesquisa científica

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Foto: Alexander Resende

Alexander Resende -

O ano de 2021 marca o início da Década da Restauração de Ecossistemas, instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU), por meio da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), com a intenção de intensificar a restauração de ecossistemas degradados, combater a crise climática, melhorar a segurança alimentar e fortalecer a biodiversidade. “Acredito que essa é uma sinalização forte de que haverá um direcionamento de recursos para essa temática, então é uma oportunidade para nos prepararmos desde já. E é uma área em que a gente efetivamente pode contribuir”, destaca o pesquisador Luiz Fernando Duarte de Moraes, que participou, em novembro, do Thematic Workshop on Ecosystem Restoration for the Post-2020 Global Biodiversity Framework, um dos vários encontros consultivos que vêm sendo realizados pela CDB para discutir as metas e orientações a serem consideradas para os próximos anos.

O objetivo do workshop foi debater como os ecossistemas terrestres, aquáticos e costeiros devem ser abordados na próxima década, a luz de ideias que servirão de base para as negociações que acontecerão nos próximos meses. Dentre os temas que se mostraram presentes no debate e que devem orientar a definição de metas para a Década da Restauração Ambiental, Luiz Fernando cita as práticas de agricultura sustentável, o melhor uso do solo e a adoção de técnicas de conservação do solo, entre outros. 

“Houve uma reverberação em vários grupos de trabalho de que a conservação da biodiversidade pouco olha o ambiente do solo, que é justamente o substrato que sustenta toda a biodiversidade. Então certamente deverão existir metas associadas a esse tema”, revela o pesquisador. Outro encaminhamento interessante, segundo ele, é o olhar da transição agroecológica aplicado à restauração de ecossistemas. “Como sair de um ambiente de agricultura plena para um de sistema restaurado sem onerar o agricultor?”, questiona, salientando que a experiência da Embrapa Agrobiologia na transição agroecológica, especialmente na região serrana do Rio de Janeiro, pode ser muito útil para a construção de novos caminhos para a pesquisa.

O pesquisador foi convidado a participar do evento em nome da Sociedade Internacional de Restauração Ecológica, de cuja diretoria faz parte. O convite partiu do Instituto Internacional para a Sustentabilidade (IIS), que organizou o workshop juntamente com a CDB, e foi o segundo recebido pelo pesquisador – o primeiro foi em maio, quando a Convenção lançou uma consulta regional para América Latina e Caribe. “Desta vez, a consulta foi temática, focada especificamente em como a restauração dos ecossistemas pode contribuir para a conservação da biodiversidade”, explica.

Segundo ele, embora não estivesse efetivamente representando a Embrapa no evento, essa foi uma oportunidade de entender quais são as projeções e as metas a serem atingidas até 2030 ou 2050, e prospectar assuntos que merecem a atenção da empresa. “Minha percepção, acompanhando essas duas consultas de que participei, é de que é muito evidente que a Embrapa já tem tecnologia para contribuir com as demandas de vários segmentos e países. É preciso fazer com que essas tecnologias sejam mais difundidas e visualizadas”, aponta.

Luiz Fernando integra o time de autores que produziu o Marco Referencial de Serviços Ecossistêmicos, recém-lançado no último dia 29 no Rio de Janeiro, durante o I Seminário Oportunidades e Negócios em Serviços Ecossistêmicos. A publicação conta com a contribuição de 26 pesquisadores da Embrapa e foi editada pela Embrapa Solos. A ideia é nortear as ações referentes a serviços ambientais no Brasil e auxiliar técnicos, produtores, cientistas e a sociedade em geral a compreender e aplicar os conceitos e termos da área.

Sobre a CDB e a Década da Restauração de Ecossistemas

A realização de diversas consultas regionais e temáticas em todo o mundo é uma prática da Convenção da Diversidade Biológica, que é um tratado da ONU instituído há 26 anos, após a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento realizada no Rio de Janeiro em 1992 (Eco-92). Trata-se de um dos mais importantes instrumentos internacionais relacionados ao meio ambiente, com mais de 160 países signatários. Está estruturada em três pilares: conservação da diversidade biológica, uso sustentável da biodiversidade e repartição justa e equitativa dos benefícios provenientes da utilização dos recursos genéticos.

A Década das Nações Unidas sobre Restauração de Ecossistemas, declarada pela Assembleia Geral da ONU em março, complementa a anterior – a Década da Biodiversidade, de 2011 a 2020. A ideia é intensificar a restauração de ecossistemas degradados como uma medida comprovada para combater as mudanças climáticas e melhorar problemas como segurança alimentar, fornecimento de água e conservação da biodiversidade.

Dados divulgados pela ONU mostram que a degradação dos ecossistemas terrestres e marinhos compromete o bem-estar de 3,2 bilhões de pessoas e custa cerca de 10% da renda global anual em perda de espécies e serviços ecossistêmicos. Além disso, segundo a instituição, cerca de 20% da superfície do planeta apresenta declínio na produtividade, com perdas de fertilidade relacionadas à erosão, ao esgotamento e à poluição. As Nações Unidas alertam, ainda, que até 2050, a degradação e as mudanças climáticas poderão reduzir o rendimento das colheitas em 10% em todo o mundo e até 50% em regiões específicas. Por outro lado, o organismo internacional aponta que a restauração de 350 milhões de hectares de terras degradadas até 2030 pode gerar US$ 9 trilhões em serviços ecossistêmicos e remover de 13 a 26 gigatons adicionais de gases do efeito estufa na atmosfera.

Liliane Bello (DRT 01766/GO)
Embrapa Agrobiologia

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