Produtores conhecem gliricídia como fonte de nitrogênio para citros orgânico
Produtores conhecem gliricídia como fonte de nitrogênio para citros orgânico
Agricultores do Nordeste da Bahia e Sul de Sergipe, um dos principais polos produtivos de citros do Brasil, conheceram de perto soluções tecnológicas para o incremento da produtividade de pomares orgânicos de laranja-doce com foco no cultivo da leguminosa gliricídia como fonte de nitrogênio.
A oficina de apresentação, promovida pela Embrapa Tabuleiros Costeiros (Aracaju, SE), aconteceu na terça (3) no Campo Experimental de Umbaúba, no Sul Sergipano, e contou com a participação de agentes multiplicadores e integrantes da Cooperativa Agropecuária do Litoral Norte da Bahia (Coopealnor), sediada em Rio Real (BA).
O foco principal foi demonstrar em campo os resultados positivos do uso da leguminosa gliricídia como alternativa de aporte de nitrogênio no solo em cultivos orgânicos de citros, garantindo o nutriente sem a aplicação de adubos químicos.
Durante a oficina, os técnicos Tiago Muniz e José Raimundo recepcionaram os participantes com uma breve fala sobre as pesquisas desenvolvidas no campo experimental. Em seguida, a pesquisadora Luciana Marques e os pesquisadores Adenir Teodoro, Joézio dos Anjos, Hélio Wilson de Carvalho e Lafayette Sobral apresentaram o projeto ‘Soluções tecnológicas para o incremento da produtividade de pomares orgânicos de laranja-doce na Coopealnor (OrganocitrosNE)’, sob liderança de Luciana.
Soluções
Combinações de porta-enxerto com copas recomendadas para a região citrícola da Bahia e Sergipe, controle ecológico da mosca-negra-dos-citros e fontes alternativas de nitrogênio foram algumas das soluções tecnológicas abordadas durante o evento.
Ao final, os participantes visitaram o experimento sobre cultivo da gliricídia em pomar de citros, numa das maiores e mais qualificadas áreas experimentais de citros do país.
Para o agricultor Eliseu Neto, aluno da Escola Família Agrícola do Litoral Norte, de Rio Real, as tecnologias apresentadas na oficina são muito interessantes e possíveis de aplicar no dia a dia da lavoura. “Esse encontro abriu novos horizontes para mim e os demais companheiros que participaram. Isso vai gerar muita demanda para testarmos em campo e também apresentar na escola que participo”, declarou.
Aldo Souza, coordenador administrativo da Cooperalnor, considerou a oficina extremamente produtiva para os participantes. “As tecnologias apresentadas são de base agroecológica e muito importantes para a agricultura familiar. Levaremos isso para implementar no campo, como alternativas importantes na redução dos custos de produção, com ganhos também ambientais com o uso da gliricídia”, afirmou.
Ao promover práticas conservacionistas para produção de alimentos, o OrganocitrosNE se alinha ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 2, da Agenda 2030, coordenada pela ONU.
Gliricídia
A Gliricidia sepium tem demonstrado grande potencial como fornecedora de nitrogênio ao solo, podendo substituir total ou parcialmente o uso de fertilizantes nitrogenados. Vinda do México e América Central, essa planta possui elevada concentração de nitrogênio nas folhas e permite a fixação simbiótica desse nutriente ao solo por meio de bactérias existentes em suas raízes.
Trabalhos desenvolvidos nos últimos anos por pesquisadores da Embrapa Tabuleiros Costeiros (SE) têm reforçado essa capacidade da leguminosa de melhorar a fertilidade e fixar nitrogênio ao solo.
A gliricídia apresenta teores de proteína em torno de 23% e produz até 70 quilos de matéria verde por ano. É considerada por produtores uma espécie de “ouro verde” para as regiões secas e quentes. É resistente a climas rigorosos e pode ser usada para recuperar e manter a temperatura do solo, além de servir como cerca viva.
Na alimentação de ovinos e bovinos, situações em que é altamente recomendável, essa leguminosa consegue reduzir em 70% o uso do farelo de soja, que representa elevado custo na ração animal.
Copas e porta-enxertos
A Embrapa Tabuleiros Costeiros testou e validou em campo uma série de variedades de copas e porta-enxertos de citros para produtores de Sergipe e norte da Bahia.
Para entender melhor, os citros (laranja, limão, tangerina, etc.) cultivados comercialmente passam por um processo chamado de enxertia, que consiste em incrustar uma pequena brotação de uma cultivar de citros de interesse, denominada cultivar copa, em uma muda de citros com maior vigor (menos susceptível a pragas e doenças), chamada de porta-enxerto.
De acordo com pesquisas, um bom porta-enxerto deve reunir as características como produção de sementes com alta taxa de poliembrionia, elevado número de sementes por fruto, capacidade de adaptação às condições de clima e solo, resistência ou tolerância a vírus e a outros organismos destrutivos (a exemplo da tristeza-dos-citros), indução de produção precoce de frutos às copas, redução do porte da combinação copa-porta-enxerto, compatibilidade com copas de alta produtividade, tolerância à seca, ao alumínio, à salinidade, ao frio (geadas), indução de produção de frutos de boa qualidade, determinação de longevidade à combinação copa-porta-enxerto, alta eficiência no aproveitamento de fertilizantes e indução de alta eficiência produtiva.
Mosca-negra
A mosca-negra-dos-citros Aleurocanthus woglumi Ashby pertence à ordem Hemiptera, subordem Sternorrhyncha e à família Aleyrodidae. É um pequeno inseto que suga a seiva de plantas hospedeiras para a sua alimentação, tendo como consequência a redução da sua produtividade.
Devido à sua alta taxa de reprodução e curto período ovo-adulto, esse inseto se dissemina rapidamente ao encontrar plantas hospedeiras, podendo inviabilizar toda uma plantação em pouco tempo.
O inseto-praga foi identificado em Sergipe em 2014, e desde então tem sido considerado pelos produtores como o principal problema fitossanitário da cultura no estado.
Os métodos de controle devem ser aplicados para coibir a disseminação da praga para áreas onde não foi identificada, e com estratégia de controle em pomares onde foi identificada e esteja causando danos às plantações de citros.
Sempre que possível, o produtor deverá priorizar a utilização de mais de uma técnica e o uso de forma integrada. As técnicas de controle recomendadas, especialmente os métodos de controle químico, devem ser utilizadas com a recomendação e o acompanhamento técnico.
Saulo Coelho (MTb/SE 1065)
Embrapa Tabuleiros Costeiros
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