12/05/20 |   Biodiversidade  Produção vegetal  Gestão ambiental e territorial  Manejo Integrado de Pragas

Óleo de manjericão apresenta potencial para controlar lagartas

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iStock - Óleo essencial do manjericão-de-folha-larga mostrou-se o mais eficaz entre os de nove plantas testados (foto ilustrativa)

Óleo essencial do manjericão-de-folha-larga mostrou-se o mais eficaz entre os de nove plantas testados (foto ilustrativa)

  • Óleo essencial do manjericão-de-folha-larga pode controlar pragas das lavouras.

  • Aplicado sobre folhas de feijão, em experimentos da Embrapa, foi capaz de eliminar a Helicoverpa armigera e a Anticarsia gemmatalis, duas lagartas prejudiciais a diversas culturas. 

  • Óleos de nove plantas foram testados e o do manjericão se mostrou o mais eficaz.

  • Pesquisa é promissora para as estratégias de redução do uso de defensivos químicos no campo.  

  • Amplia também o leque de possibilidades do manejo de pragas na agricultura orgânica. 

O tradicional manjericão-de-folha-larga (Ocimum basilicum L.), conhecido também como basilicão ou alfavaca, pode se tornar a base de um produto natural para o controle de importantes pragas das lavouras. Ao aplicar o óleo essencial dessa planta sobre folhas de feijão, cientistas da Embrapa Meio Ambiente (SP) registraram a morte de cerca de metade das lagartas da espécie Helicoverpa armigera e um índice de letalidade de 30% para a Anticarsia gemmatalis. A primeira foi introduzida no Brasil em 2013 e é conhecida pela grande voracidade e a A. gemmatalis é chamada de lagarta-da-soja por ser a principal praga da leguminosa. Ambas atacam diversas culturas e, por isso, são consideradas importantes pragas agrícolas.

O basilicão foi o mais eficaz entre as nove plantas cujos óleos essenciais foram testados no controle das duas lagartas na pesquisa (veja quadro). Uma das motivações para o uso de óleos é sua baixa, ou mesmo nenhuma, toxidez para o ambiente e para as culturas agrícolas. Os cientistas realizaram avaliações biológicas e comportamentais dos insetos e identificaram os principais compostos presentes nos óleos. Parte dos resultados foram publicados em um boletim de pesquisa.

Os pesquisadores consideram esse estudo promissor, e completa trabalhos científicos realizados com outros produtos naturais. Outro fator importante é a possibilidade de reduzir o uso de defensivos químicos, o que pode ser feito por substituição, ou uso do manejo integrado de pragas (MIP). A redução do uso de inseticidas químicos também auxilia na redução da resistência dos insetos a esses defensivos, um problema que vem crescendo nas lavouras. “Esses óleos também podem se tornar mais uma ferramenta de controle de insetos na agricultura orgânica, na qual esses compostos são permitidos, ampliando o leque de possibilidades do manejo das pragas”, diz a pesquisadora da Embrapa Jeanne Marinho Prado.

Uma lagarta voraz

Com grande capacidade de dispersão e fase larval com hábito altamente polífago (capaz de se alimentar de mais de 60 famílias de plantas), a Helicoverpa armigera encontra-se hoje amplamente distribuída no território nacional e ataca principalmente culturas de soja, milho, feijão e algodão. 

Prado explica que a utilização de inseticidas pode promover a resistência de populações de insetos-praga. A falta de novas moléculas inseticidas e a repetida utilização de produtos com modo de ação semelhante em uma mesma safra podem favorecer a resistência da população dos insetos, reduzindo a eficácia das aplicações.

Além disso, há uma crescente preocupação de consumidores e produtores com a saúde dos trabalhadores e com a contaminação de alimentos e do ambiente, destacando de forma geral a demanda por formas mais naturais, para oferecer proteção às plantas contra o ataque de insetos. 

A pesquisadora relata que os óleos essenciais de basilicão e tomilho foram os que apresentaram maior bioatividade sobre lagartas e pupas de A. gemmatalis, em aspectos biológicos e comportamentais. Na fase adulta, A. gemmatalis foi mais afetada pelos óleos essenciais de laranja doce, melaleuca e orégano, acompanhados dos óleos essenciais de citronela e gengibre, sendo estes últimos responsáveis pela inviabilização de todos os ovos depositados. Os óleos essenciais de tomilho e menta não foram avaliados sobre a fase reprodutiva. Nos ensaios sobre lagartas de H. armigera destacaram-se os tratamentos com óleos essenciais de basilicão, canela e melaleuca, mas nenhum tratamento alterou o consumo foliar das lagartas. 

50% de letalidade

Nos ensaios sobre lagartas H. armigera os tratamentos com óleos essenciais de basilicão, canela e melaleuca promoveram, em dez dias, a morte de metade das lagartas avaliadas. Entretanto, nenhum dos óleos prejudicou a alimentação das lagartas.

Entre os tratamentos avaliados sobre a espécie A. gemmatalis, os óleos essenciais de basilicão e tomilho causaram as maiores mortalidades observadas em lagartas e pupas. Os demais provocaram mortalidades inferiores a 14%, sendo que os óleos de melaleuca e gengibre igualaram-se ao tratamento-controle, com nenhum caso de mortalidade entre os insetos avaliados.

À exceção dos óleos essenciais de canela, gengibre e laranja doce, todos os outros causaram redução no ganho de peso larval de A. gemmatalis em relação às lagartas do tratamento-controle, sendo os melhores resultados obtidos com basilicão, orégano e tomilho. O óleo essencial de tomilho foi o único a provocar redução no peso de pupas. 

Os óleos testados

Óleos essenciais são misturas complexas de substâncias voláteis lipofílicas, geralmente odoríferas e líquidas, sendo a volatilidade sua principal característica. São substâncias naturais provenientes de plantas medicinais, aromáticas e condimentares, muitas vezes de fácil obtenção a baixo custo e sem toxidez residual, podendo ser uma boa opção para o controle de pragas, pois, em sua maioria, são sistêmicos, de fácil degradação e pouco ou não fitotóxicos.

Fizeram parte do experimento os óleos de laranja doce (Citrus aurantium dulce), gengibre (Zingiber officinaleRoscoe), melaleuca (Melaleuca alternifolia), canela cássia (Cinnamommum cassia), citronela (Cymbopogon sp.), menta (Mentha arvensis), orégano (Origanum vulgare), tomilho (Thymus vulgaris) e basilicão (Ocimum basilicum L.)

Dos óleos essenciais avaliados para a fase reprodutiva, os de laranja doce, melaleuca e orégano causaram redução no número de ovos por fêmea. Esses mesmos três óleos essenciais causaram também redução na viabilidade de ovos, acompanhados dos óleos essenciais de citronela e gengibre, sendo estes últimos responsáveis pela inviabilização de todos os ovos depositados. O tempo de vida das lagartas que alcançaram a fase adulta não foi influenciado por nenhum dos tratamentos aplicados às lagartas de A. gemmatalis

O óleo essencial de tomilho causou mortalidade na população avaliada de A. gemmatalis e redução nos pesos de lagartas e pupas. Os óleos essenciais de gengibre e citronela causaram a inviabilização de todos os ovos depositados por adultos de A. gemmatalis, possivelmente devido à ação dos seus compostos majoritários. Os cientistas agora avaliam a letalidade de cada um dos óleos essenciais utilizados na pesquisa para definir em quais deve-se continuar investindo para a busca de moléculas inseticidas visando a formulação de produtos fitossanitários que possam contribuir com o manejo integrado de pragas.

Além de Jeanne Marinho Prado, participaram do trabalho os pesquisadores Lilia de Morais da Embrapa Agrobiologia, e Ricardo Pazianotto da Embrapa Meio Ambiente.

 

O poder das plantas

As plantas são grande fonte de moléculas, muitas desconhecidas, que podem servir de modelo para síntese química, gerando produtos de baixo custo, eficazes e ambientalmente seguros, que podem ser padronizados, registrados, com controle de qualidade, visando a reprodutibilidade e constância de componentes químicos, e, principalmente, que atendam às necessidades dos produtores. 

Compostos derivados de plantas são potenciais fontes de proteção contra pragas, pois podem apresentar ação tóxica (que prejudicam o desenvolvimento dos insetos, podendo levá-los à morte), de repelência (que afastam os insetos) ou deterrência (que prejudicam a alimentação ou reprodução dos insetos).

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Cristina Tordin (MTb 28.499/SP)
Embrapa Meio Ambiente

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