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Em live, Chefe da Embrapa Florestas fala sobre florestas e inovação

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 - “Quando vejo que o setor florestal está doando R$ 120 milhões para minimizar os efeitos da pandemia, fico super orgulhoso em ser parte dessa história”, afirma Erich Schaitza, Chefe Geral da Embrapa Florestas

“Quando vejo que o setor florestal está doando R$ 120 milhões para minimizar os efeitos da pandemia, fico super orgulhoso em ser parte dessa história”, afirma Erich Schaitza, Chefe Geral da Embrapa Florestas

No dia 14/05, Erich Schaitza, Chefe Geral da Embrapa Florestas, participou de uma transmissão ao vivo (live) no canal da Embrapa, no Youtube (clique aqui para assistir), abordando diferentes possibilidades de inovação no setor florestal. Baseando-se em tendências de uso sustentável da floresta, Schaitza elencou algumas possibilidades de maior e melhor utilização dos recursos florestais e dos resíduos gerados. São desafios que a pesquisa científica pode e precisa vencer para solucionar problemas do setor produtivo, gerar mais renda e, por consequência, beneficiar toda a sociedade.

“Para mim, a inovação é uma mudança positiva, sempre ligada à solução de problemas de uma forma diferente e, consequentemente, ligada à abertura de oportunidades”, afirma. Um exemplo simples de inovação da Embrapa Florestas foi a recente criação de um novo produto para formular o álcool em gel, item extremamente importante para prevenção da COVID19 e que andou em falta para uso dos funcionários da vigilância sanitária vegetal, assim como em quase todas as prateleiras no início da pandemia. 

“Faltava no mercado o carbopol, um espessante usado na transformação de álcool líquido em gel. Substituímos o carbopol por nanocelulose, com apoio da Klabin. De uma forma diferente da tradicional, resolvemos um problema pontual. Inovamos e resolvemos o problema da vigilância sanitária vegetal, possibilitando que eles trabalhassem de forma saudável e segura”, enfatiza o chefe da Embrapa Florestas.

Para exemplificar grandes inovações do setor florestal, Schaitza citou várias ações ocorridas no passado que contribuíram para resolver problemas e abrir horizontes, como a clonagem em massa em eucalipto; os programas cooperativos de controle de pragas (como o da vespa-da-madeira e percevejo bronzeado); a entrada da fibra curta em produtos típicos de fibra longa, a decisão das empresas em não desmatar para plantar florestas, dentre outras.

  
Inovações prementes

De acordo com o chefe geral da Embrapa Florestas, são muitas as inovações necessárias para melhorar a produtividade e a sustentabilidade do setor florestal. Mas, de antemão, um primeiro problema precisaria ser resolvido: a organização das informações. “Apostaria minhas fichas nessa etapa. Então, inovar seria começarmos a nos organizar, identificando quem é que precisa de que informação e depois passar a coletá-la de forma sistemática e organizada e atendendo os diferentes atores da sociedade”, aponta Schaitza. 

“Para isso, seria necessária a introdução de um sistema nacional de informações, com dados fidedignos coletados em escalas apropriadas e com certa regularidade. Primeiro, ele daria a real dimensão do setor florestal e permitiria outra inovação, que é a tomada de decisão pública e privada”, enfatiza. Desta forma, a partir desse conhecimento, seria possível realizar um processo de planejamento público e privado, com incentivos distribuídos, tanto para plantadores como para indústrias.

Outro ponto abordado na palestra online foi a necessidade de engajamento do país no processo de ajuste às mudanças climáticas, após o Acordo de Paris, no qual o Brasil se comprometeu a plantar ou restaurar 12 milhões de hectares. O setor florestal deverá plantar de 2 a 3 milhões de hectares para dar suporte ao crescimento industrial. Os demais 9 a 10 milhões deverão vir da ação de proprietários rurais na implementação dos Planos de Recuperação Ambiental, PRA. “Essa área enorme está ligada principalmente ao processo de recuperação de Áreas de Preservação Permanente (APPs) e  Reserva Legal (RL)” aponta.

Devido à impossibilidade de intervenção e uso das APPs, Schaitza recomendou um investimento bem simples para a recuperação, que consiste em instalar cercas de isolamento para promover a regeneração, bem como o plantio em algumas áreas. Já com relação às reservas legais, que podem ser usadas e gerar não só serviços ambientais como também renda, uma inovação apontada seria o plantio e posterior manejo sustentável de larga escala.

“Existem propriedades com necessidade de recuperar entre 20 e 80% de Reserva Legal e, nessa área, a grande inovação seria implementar métodos de restauração florestal que previssem não só a conservação, mas, lá na frente, também gerassem dinheiro para produtores. Para fazer isso teríamos que trabalhar com uma nova silvicultura, com o plantio de florestas mistas, em sistemas que gerem recursos financeiros no curto, médio e longo prazos. Tudo isso mirando em se obter uma floresta diversificada e com provisão de serviços ambientais”, explica.

Dessa questão, derivam duas outras inovações: a adoção de metodologias de planejamento do uso do solo, que considerem produção e conservação e que vejam a paisagem, solos, água e biodiversidade. E, segundo Schaitza, a mais difícil inovação, que seria alinhar a visão de produtores, de órgãos ambientais e de ONGs, para que produtores possam plantar e colher com segurança jurídica, sem controles excessivos e impeditivos. “Temos que realmente pensar em modelos mistos em que a gente poderia conservar e produzir. Isso é uma necessidade absoluta e uma inovação necessária no nosso ambiente. Vamos precisar alinhar a visão de produtores, ONGs e também simplificar leis. Para que produtores, promotores ambientais, extensionistas e toda a cadeia de comando de controle vejam o processo de restauração da mesma forma”, diz.

O trabalho com florestas nativas
O Brasil tem uma grande cobertura florestal, com extensas florestas na Amazônia, Cerrado e Caatinga. “Dificilmente essas florestas se manterão se não tivermos alternativas para que gerem renda a seus proprietários e para as pessoas que nela habitam”, pontua Schaitza.

“Fala-se muito em pagamento por serviços ambientais como forma de manutenção da floresta, mas simplesmente não existem recursos financeiros para isso. Para mim, a grande inovação nacional em termos de florestas naturais é um grande investimento em manejo de baixo impacto, com a retirada racional de uma grande gama de produtos, com produções de alto valor dentro dessa floresta, que sustentem não só a sua população, mas também todo um complexo industrial e comercial derivado dela”, explica.

Para o pesquisador, as concessões florestais em grande escala podem ser a inovação esperada, com um processo mais simples, incentivado por recursos ou com assistência técnica. “No entanto, as concessões só vão dar certo se forem acompanhadas de uma fiscalização eficiente que combata o corte ilegal de florestas”, alerta.

Madeira na construção
Outra importante inovação enfatizada por Erich Schaitza é a efetiva entrada do Brasil na “era da construção com madeira”. Segundo ele, a chave para o desenvolvimento nacional é a utilização da madeira como base na construção de casas, principalmente. “A gente tem um déficit habitacional ainda muito grande no Brasil e temos esse recurso fantástico, mais sustentável do que cimento e do que mineração de pedras, de barro para tijolo. Energeticamente interessante. E nós não estamos indo para esse lado. O mundo está indo para a construção de casas de madeira, prédios de madeira e outras construções como forma de sustentabilidade. E nós aqui temos muitas barreiras”, aponta.
As áreas florestais do Brasil são passíveis de manejo e de produção de madeira com diferentes características. No entanto, muito pouco é produzido para construção. “O eucalipto, campeão de crescimento, nunca decolou como madeira serrada. O pinus é muito mais usado, mas tem seus problemas tecnológicos para pleno uso na construção civil. Temos que resolver isso. A madeira tem que se tornar competitiva frente a outros materiais e isso só vai acontecer com a oferta de toras de qualidade para indústrias, com a diminuição de perdas industriais e com muita agregação de valor aos resíduos gerados”, enfatiza. 

Agregação de valor
É fundamental que o setor florestal proporcione maior agregação de valor aos seus resíduos, gerando produtos para outra indústria. O que Schaitza propõe de inovador sobre isso é a existência de polos mais diversificados e indústrias conectadas umas às outras, como uma ótica de processamento em biorrefinarias, diante da redução da rentabilidade do processamento mecânico da madeira nos últimos tempos. “Hoje, com raras exceções onde há integrações com fábricas de papel ou de chapas, os resíduos de serrarias e laminadoras são usados apenas para gerar calor, muitas vezes em sistemas de baixa eficiência. Com isso, a agregação de valor a esses resíduos florestais, começando com geração distribuída e depois seguindo para a obtenção de novos materiais e químicos, também é uma inovação a ser seguida”, vislumbra.

Para encerrar a palestra, o chefe da Embrapa Florestas falou sobre a importância de se trabalhar com a comunicação de forma mais articulada dentro do setor de base florestal, não só entre instituições, mas com a sociedade em geral, com o intuito de desmistificar as “lendas rurais” e as generalizações de assuntos relacionadas à área florestal.  

Manuela Bergamim (MTb 1951/ES)
Embrapa Florestas

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