Da missão agropecuária para o enfrentamento de uma pandemia humana
Da missão agropecuária para o enfrentamento de uma pandemia humana
Equipe da Embrapa Suínos e Aves supera desafios e ajusta o trabalho para auxiliar no diagnóstico da covid-19
Este texto era para ser mais direto, com indicação de quantos testes já foram realizados, se foram superadas as expectativas, como tem sido o fluxo de trabalho e quais os desafios técnicos e de recursos para atender a demanda. Porém, a proposta inicial se transformou um pouco ao chegarem os depoimentos e perceber a energia dos colegas envolvidos. Antes de tudo, a história revela uma experiência e uma vivência de como é possível superar os obstáculos e transformar uma empresa voltada para o desenvolvimento agropecuário em aliada no enfrentamento de uma pandemia humana.
Estamos falando da equipe da Embrapa Suínos e Aves que está atuando no diagnóstico da covid-19 em auxílio ao Ministério da Saúde e ao Laboratório Central de Saúde Pública – Lacen/SC, para atender 118 municípios das regiões oeste, extremo-oeste e meio-oeste de Santa Catarina. “É um enorme orgulho poder colaborar com a sociedade trazendo um pouco de energia positiva em um momento onde predominam incerteza, angústia e muita tristeza porque as pessoas têm enfrentado situações de sofrimento, perda de entes queridos ou mesmo de seu sustento diário. Mais do que nunca, agora é hora de nos colocarmos no lugar do outro. É hora de união”, comentou o colega Paulo Augusto Esteves, pesquisador responsável pelo laboratório NB3, que integra o complexo de laboratórios de Sanidade e Genética Animal, onde os diagnósticos estão sendo executados.
Estão atuando diretamente neste trabalho 12 colegas de especialidades e cargos diferentes, todos imbuídos do sentimento de colaboração. “De início, o desafio de realizarmos as análises me causou certa preocupação, afinal se trata do coronavírus, ainda desconhecido e causador de uma pandemia. Porém, tendo em vista que a Embrapa possui uma estrutura excelente, preparada para esse tipo de análise e capacidade técnico-científica dos funcionários e colegas, a preocupação logo se transformou em coragem e ânimo. Isso também sinto em todos os colegas. Todos querem colaborar e ajudar da melhor forma possível. E acredito que é por esse motivo que está dando tão certo, sinto orgulho em fazer parte dessa equipe e estar colaborando com a sociedade na área da saúde também”, destacou o técnico Alexandre Tessmann.
Desde que foram iniciados os diagnósticos, no dia 15 de maio, já foram analisadas 2.200 amostras em 13 dias, com uma estimativa de 5% a 10% de retestes. “O volume de amostras recebidas tem aumentado dia a dia. Para conseguirmos dar conta, precisamos estar bem organizados e trabalhar coordenados. Acredito que é aqui que a equipe se destaca, pela disponibilidade de trabalhar em qualquer horário, caso seja necessário, e pela alegria e bom humor de todos, o que torna o trabalho muito agradável”, enfatizou a pesquisadora Rejane Schaefer. Segundo ela, o trabalho é realizado em duas equipes: uma se concentra na extração de RNA e outra trabalha com RT-PCR, em tempo real.
A analista Danielle Gava, que recebeu o treinamento inicial no Lacen de Florianópolis, compartilha o mesmo sentimento. “O número de amostras vem aumentando diariamente e estamos testando muito mais do que achávamos que conseguiríamos fazer. E com equipe bem reduzida, mas extremamente comprometida”, disse ela, que estima a capacidade diária de testes na unidade de pesquisa em torno de 500 amostras a cada oito horas. “Temos gargalos como aquisição e recebimento de alguns insumos essenciais, mas a ajuda sempre tem vindo de diversos lugares, o que é muito gratificante”, disse. A analista destacou outro ponto nessa empreitada. “Continuamos com as atividades já assumidas durante o teletrabalho, mas neste momento nosso maior compromisso tem sido com o trabalho ‘voluntário’ de diagnóstico de covid-19, de grande importância para a sociedade”.
A analista Adriana Ibelli, que também foi ao Lacen para participar do treinamento, explica que, em geral, após a chegada das amostras na unidade, o prazo médio de entrega dos resultados é de 24 horas. Esses resultados são enviados para o Lacen de Joaçaba, que é quem faz as entregas diárias das amostras. “Após as qRT-PCR, os resultados são analisados, tabulados e enviados ao Lacen, que insere os dados no GAL (sistema Gerenciador de Ambiente Laboratorial) do Ministério da Saúde”, explica. As amostras são entregues à Embrapa Suínos e Aves sempre no início da tarde pela equipe do Lacen de Joaçaba.
Necessidade e vontade de colaborar
Desafio é o que tem movimentado essa equipe bem antes de 15 de maio. “Desde o início da pandemia a Embrapa, por meio de cada um de nós, empregados, se envolveu em ações diversas para auxiliar, desde doações ao município e hospital até grupos voluntários no auxílio à comunidade. Oferecer nossa estrutura laboratorial e de competência de equipe foi um sentimento e uma necessidade, pois precisávamos colaborar. Queríamos colaborar”, enfatizou Janice Zanella, chefe-geral da Unidade. Ela reforçou ainda que a decisão foi encaminhada para a Diretoria e seguiu todos os preceitos e orientações do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, por meio da Coordenação Geral de Laboratórios.
De lá até aqui, o caminho foi de ajustes e adaptações. “A equipe se envolveu e participou de tudo, desde a organização da documentação e da identificação das necessidades até pequenos detalhes no ambiente de trabalho. Tudo foi sendo construído e hoje estamos atuando com muita segurança e com o sentimento de estar contribuindo da melhor maneira possível”, enfatizou Janice.
Quando o assunto é desafio, Paulinho, como o pesquisador é chamado por todos, destaca que, num primeiro momento, foi “a necessidade de termos de nos reorganizar rapidamente para viabilizar a execução dos trabalhos de diagnóstico de uma doença altamente contagiosa que não fazia parte do escopo de trabalhos de pesquisa de nossa Unidade”. Desafio esse superado rapidamente pela equipe, que se mobilizou e se preparou com treinamentos, reuniões, redirecionamentos, além de doações de insumos e equipamentos. “Se por um lado existiam as dificuldades inerentes à concretização dos diagnósticos, por outro lado, tínhamos a nosso favor uma excelente equipe, altamente especializada nas tarefas laboratoriais, além de uma ótima estrutura laboratorial”, enfatizou o pesquisador. “Tudo sempre ancorado em uma gerência que sempre nos apoiou, motivou e participou de cada uma das etapas até que pudéssemos executar de forma rotineira as atividades necessárias”, destacou.
O supervisor do Laboratório de Sanidade e Genética Animal, Marcos Morés, enfatiza que um desafio grande ainda precisa ser superado, o da obtenção dos materiais e reagentes necessários para realizar os testes em tempo hábil, para não atrasar os resultados. “Muita gente na busca, mas como muitos laboratórios estão necessitando as mesmas coisas, as empresas não estão conseguindo atender todo mundo”, explica ele.
A obtenção de insumos sempre foi uma das preocupações, desde o início. Com estoque limitado de insumos, a Chefia da Unidade está atuando de maneira intensa por recursos para manter os trabalhos em andamento. Além de todos os trâmites internos por recursos junto à presidência da Embrapa, a chefia está mobilizando parceiros e potenciais colaboradores em busca de auxílio. E as respostas estão chegando de maneira positiva. “É muito importante a ajuda que está chegando, de todos os lados. Isso nos motiva a seguir em frente cada vez mais, pois significa que nossos parceiros e a comunidade entendem a importância do trabalho que estamos fazendo”, destaca Janice.
E muitos empregados estão empenhados em auxiliar na busca desses recursos, independente de estarem envolvidos diretamente no trabalho ou não. “A colaboração é algo que nos surpreende, sempre, em nossa equipe. Todos são muito comprometidos e apoiam a ação”, enfatizou Janice.
Soma de todos
O pesquisador Paulo Esteves reforça isso. “Justamente união, comprometimento e trabalho não faltaram aos colegas da Embrapa. Todos quiseram participar desta iniciativa. E todos participaram. Todos somaram, cada um à sua maneira, cada um com seu talento para compor um grupo harmônico que compartilhava um mesmo objetivo: servir a uma necessidade maior que a sua própria. Orgulho, reconhecimento e gratidão a todos que se envolveram nesta iniciativa, seja de perto, nas bancadas, seja um pouco mais distante mas com aquele incentivo essencial”, enfatizou ele.
Outro sentimento forte da equipe da Embrapa Suínos e Aves foi o de orgulho e da possibilidade de reinventar, resumido pelo colega Paulo. “Sem dúvidas um orgulho enorme à Embrapa, que tem agora diante de si a possibilidade de avaliar a situação de forma mais abrangente, verificando quais os pontos onde a empresa poderia contribuir melhorando seus processos internos com a intenção de desburocratizar e agilizar processos”.
Monalisa Leal Pereira (MTb/SC 01139)
Embrapa Suínos e Aves
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