10/08/20 |   Melhoramento genético  Produção vegetal  Transferência de Tecnologia

Cultivo superprecoce de feijão melhora produtividade e resistência a pragas

Informe múltiplos e-mails separados por vírgula.

Foto: Sebastião Araújo

Sebastião Araújo - Produtores anunciam bons resultados de produtividade da BRS FC 104

Produtores anunciam bons resultados de produtividade da BRS FC 104

  • Planta começa a produzir em 65 dias, em vez dos 90 dias do feijão tradicional.

  • Apresenta alta produtividade média, de 3,8 mil quilos por hectare.

  • Custos de água e eletricidade no cultivo são cerca de 30% menores.

  • É mais resistente às doenças do feijoeiro.

  • Produz grãos de alta qualidade que são bem aceitos pelo consumidor.

  • Tempo de produção reduzido diminui número de aplicações de defensivos.

  • Com menor tempo no campo, planta enfrenta menos riscos como os de sofrer com épocas de pragas e períodos de seca.

O cultivo superprecoce de feijão é a mais importante inovação do melhoramento genético dessa cultura no Brasil. Pesquisadores e produtores comprovaram que a prática promove elevado potencial produtivo, baixo custo de cultivo, resistência a doenças, boa qualidade de grãos e bom desempenho nutricional. Dois anos depois do lançamento da primeira variedade superprecoce desenvolvida no País pela Embrapa Arroz e Feijão (GO), a BRS FC104, produtores começam a anunciar bons resultados de produtividade (média de 3.792 kg/ha) em um ciclo de 65 dias, bem menor do que o de 90 dias, necessário ao plantio do feijão convencional.

“A Embrapa acertou com essa cultivar,” comemora o produtor Kenes Pereira, de Santa Helena de Goiás, que utilizou o feijão carioca BRS FC104 e conseguiu colher 50 sacos por hectare, a um custo estimado de R$ 3 mil reais. Levando em conta o bom momento do preço do feijão no mercado no primeiro semestre de 2020, o lucro foi compensador.

Segundo o pesquisador da Embrapa Leonardo Melo, o resultado comprova as expectativas da Empresa, que há quatro décadas investe em pesquisas genéticas para gerar variedades melhoradas de feijoeiro-comum com redução no tempo de cultivo. “Os esforços nessa área resultaram na BRS FC104, em 2018, considerada uma das maiores conquistas do melhoramento genético de feijão no Brasil”, destaca.

Melo acrescenta que a precocidade permite rápido retorno do capital investido e maior flexibilidade no manejo dos sistemas de produção, economia de água e energia elétrica nos sistemas irrigados, além de atenuar problemas com pragas e estresse hídrico pelo planejamento antecipado. “Por isso, é uma característica cada vez mais valorizada no agronegócio do feijão”, pontua.

A evolução da pesquisa: da natureza à precocidade



Os experimentos iniciais tiveram como base materiais de grãos de origem andina, que têm a precocidade por característica natural, variando de 70 até 80 dias, ciclos normalmente mais curtos que os grãos de origem mesoamericana. Na década de 1980, a Embrapa Arroz e Feijão lançou a cultivar Jalo Precoce, a primeira com uma redução importante no tempo de cultivo, de 70 a 75 dias. Em 2002, foi desenvolvida a BRS Radiante (foto acima), cultivar do tipo rajado, precoce (80 dias, da emergência à maturação) e com potencial para exportação. Assim, se consolidou a eficiência da pesquisa sobre o tema.

Melo lembra que o desenvolvimento dessas duas cultivares foi um grande passo no trabalho, mas elas ainda eram materiais de grãos especiais, cujo mercado apesar de consolidado, ainda é pequeno no Brasil. Segundo o Plano Nacional de Desenvolvimento da Cadeia do Feijão, publicado em 2018 pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o consumo anual per capita do brasileiro chega a 17 quilos. 

Para atender a essa demanda, as três safras anuais (“das águas”, “da seca” e “de inverno”) vêm produzindo, em média, cerca de 3,1 milhões de toneladas. Os grãos de feijão carioca se destacam, representando 70% desses números. Esse cenário orientou a pesquisa a desenvolver cultivares desse tipo comercial, visando a satisfazer às exigências do setor produtivo.

A primeira cultivar de origem mesoamericana, grão menor, desenvolvida no Brasil com redução do tempo de cultivo foi a BRS Campeiro (foto à direita), do tipo preto, muito produtiva e com 80 dias de ciclo. Em 2005, com o lançamento pela Embrapa da BRS Cometa, teve início a era das cultivares do tipo carioca de ciclo reduzido. Devido ao grão um pouco escuro, apesar de diversas qualidades positivas, ainda apresentava certa rejeição do mercado. 

A BRS Cometa não foi muito adotada, mas abriu caminhos para cultivares carioca, que agradam mais ao mercado. Logo depois, veio a BRS Notável (foto à esquerda), que corrigiu defeitos da BRS Cometa, aumentando a produtividade e a resistência a doenças, mas ainda tinha o mesmo problema da coloração escura, pouco comercial no mercado convencional, mas uma boa opção em nichos alternativos relacionados à agricultura familiar e orgânica. 

“Foi uma cultivar muito utilizada em cultivo agroecológico, agricultura familiar, nos quais não se dá tanta importância à coloração do grão, já que a qualidade culinária é a mesma. Além de muito produtiva, é a mais resistente a doenças já desenvolvida até hoje pela Embrapa. Apresentando resistência a antracnose, crestamento, murcha de curtubaterium e fusárium”, pontua o pesquisador. 

 

Inovação surpreendeu o mercado

Até o lançamento da BRS FC104 (foto à direita), primeira cultivar superprecoce do mercado, todas as cultivares desenvolvidas eram de ciclo precoce ou semiprecoce. A superprecocidade representou um salto quantitativo e qualitativo na gestão da safra de feijão pelos benefícios competitivos que apresenta, como o elevado potencial produtivo (produtividade de 60 kg de grãos, em média, para cada dia de ciclo) e redução de cerca de 30% dos custos com eletricidade e água no cultivo. Possui ainda características que garantem a boa aceitação do mercado, como resistência a doenças, qualidade de grãos e valores nutricionais.

 

O pesquisador destaca também que devido ao ciclo reduzido, a tendência é que se faça menos pulverizações com defensivos. “No período em que ocorre o pico de ocorrência dos insetos e de doenças, o produtor já terá feito a colheita”, afirma. Esse fator aumenta a qualidade do produto, pois reduz a possibilidade de ocorrência de resíduos químicos, além de diminuir o impacto no meio ambiente.

Mercado comprova desempenho do feijão superprecoce

O consultor da Sementes Marambaia, de Rio Verde (GO), o engenheiro-agrônomo Hélcio Umeno, é um dos responsáveis pela produção de sementes da BRS FC104. Umeno destaca ganhos em economia, produtividade e manejo (assista ao vídeo abaixo). A Marambaia é uma das empresas certificadas pela Embrapa para produção de sementes de feijão comum. Veja mais opções onde adquirir as sementes superprecoces.

 

Outra oportunidade oferecida pela superprecocidade é realizar o plantio em um momento no qual uma cultivar de ciclo normal traria risco de encontrar seca no fim da safra. Um exemplo é o plantio da safrinha no Mato Grosso, onde se utiliza como opção o feijão-caupi, mais tolerante à seca, quando se colhe a cultura de verão a partir do fim de fevereiro. “No caso do feijão superprecoce, em algumas regiões, é possível plantar o feijão comum até 15 de março, porque ele é colhido 30 dias mais cedo. Portanto, o risco de seca é menor”, diz Melo. 

O mesmo ocorre na safra de inverno, na qual não seria possível  prorrogar muito o plantio com uma cultivar de ciclo comum, devido à grande probabilidade de colheita na época da chuva e de desrespeitar o vazio sanitário. A cultivar superprecoce permite plantar até na segunda quinzena de julho, colhendo ainda na época adequada.

 

Produtor destaca bons resultados

O produtor Kenes Pereira garante ter alcançado boa lucratividade utilizando o feijão carioca BRS FC104. Ele conta que resolveu plantar mais cedo para aproveitar o preço, geralmente melhor no início da cultura, e também para aproveitar a janela antes do vazio sanitário do mês de julho. “No nosso caso, se não houvesse um material precoce, não seria possível o plantio”, destaca.

Pereira afirmou ainda que o intuito de plantar a BRS FC104 foi também conhecer o comportamento e recomendá-la a outros agricultores. Sobre isso, ele pontua que uma variedade precoce geralmente requer mais atenção. “Embora não exista nada de diferente no manejo, uma variedade precoce tem que ter um pouco mais de cuidado porque ela é muito rápida. Em 65 dias, a lavoura está praticamente entregue. Por isso, é preciso um manejo mais assertivo, preventivo, tem de haver dedicação no dia a dia dentro da lavoura para não deixar faltar nada e nem entrar praga ou doença”, destaca.

Em relação à colheita, o processo ocorre normalmente, de acordo com o produtor, sendo realizado de modo mecanizado em duas etapas: corte e enleiramento de plantas; e recolhimento e batimento para separação dos grãos.

Foto: Divulgação Embrapa

 

Novas variedades superprecoces a caminho

Os trabalhos estão caminhando para que, nos próximos três anos, seja lançado um feijão preto superprecoce, selecionado dentro do BRS FC104. Durante a pesquisa, ele apresentou uma planta de grãos pretos, que foi selecionada, e os grãos multiplicados. “Foi possível identificar oito linhagens de grãos pretos superprecoces. Agora, em 2020, vamos iniciar um ensaio de Valor de Cultivo de Uso (VCU) para avaliar esta semente em condições diversas, no Brasil inteiro”, revela Melo.

Em 2021, a Embrapa espera lançar uma nova cultivar precoce, a BRS FC310, na qual foi corrigido o problema do grão escuro. “Ela tem grão muito claro, além de potencial para ser a cultivar precoce mais utilizada na agricultura empresarial”, finaliza o pesquisador.

Assista ao vídeo (abaixo) do pesquisador Leonardo Melo sobre as novas variedades precoces de feijão preto que serão lançadas em breve  

 

Henrique César de Oliveira Ferreira (MTb 1.960/GO)
Embrapa Arroz e Feijão

Contatos para a imprensa

Rodrigo Peixoto de Barros (MTb 1.077/GO)
Embrapa Arroz e Feijão

Mais informações sobre o tema
Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC)
www.embrapa.br/fale-conosco/sac/

Galeria de imagens