13/08/20 |   Agroenergia

BIODIESEL WEEK: Embrapa Agroenergia poderá desenvolver tecnologias para aumentar a elegibilidade de soja e milho no RenovaBio

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Print da tela - Alexandre Alonso foi um dos participantes da Biodiesel Week

Alexandre Alonso foi um dos participantes da Biodiesel Week

Segundo dados da ANP, as usinas brasileiras conseguiram certificar apenas 45% de sua produção

Aumentar a elegibilidade de soja e milho no RenovaBio, ou seja, a possibilidade de a cadeia desses grãos melhorar a nota de eficiência energética ambiental (NEEA) dentro do programa, é um dos principais desafios do setor de biocombustíveis no Brasil. Isso porque, ao aumentar a fração elegível dos biocombustíveis, os distribuidores podem melhorar a sua NEEA e emitir mais créditos de descarbonizção (CBios). Este foi um dos assuntos debatidos no webinar “RenovaBio: elegibilidade e rastreabilidade da soja e do milho", realizado da manhã no dia 12 de agosto.

Ao abrir o debate, Hilda Pereira, coordenadora do Sistema de Gestão Integrada da Potencial Biodiesel e moderadora do encontro, apresentou números da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) relacionados às certificações realizadas no setor de biodiesel até julho de 2020. "As usinas brasileiras que obtiveram certificação conseguiram eleger apenas 45% da sua produção. Ao compararmos esses dados com os de etanol de cana, esse valor aumenta para 90%. Ou seja, temos uma dificuldade muito grande para eleger e rastrear esse produto, o que faz desse tema assunto bastante relevante", afirmou. 

Sobre este tema, Alexandre Alonso, chefe-geral da Embrapa Agroenergia, lembrou que as duas principais dificuldades dos produtores de biodiesel para aumentar a elegibilidade de alguns grãos é não dispor de dados dos produtores, necessários para o preenchimento da fase agrícola no RenovaCalc, e também a falta de dados da fase industrial, mais especificamene da etapa de esmagamento e produção do óleo, que posteriormente será usado para produzir o biodiesel. 

Alonso informou que, juntamente com a Embrapa Informática Agropecuária (Campinas, SP), a Embrapa Agroenergia está trabalhando na elaboração de uma proposta para desenvolver e testar tecnologias que permitam aumentar a rastreabilidade da soja e do milho, com aumento da fração elegível dos biocombustíveis produzidos em plantas de biodiesel ou etanol de milho.

"O RenovaBio é um programa que visa estimular que os biocombustíveis sejam produzidos de forma cada vez mais eficiente. Ao se tratar de eficiência energética, medida pela quantidade de energia gerada pelo biocombustível, estamos tratando também de eficiência ambiental, medida pelas emissões de carbono em seu ciclo de vida", disse Alonso. 

Como solução de curto prazo, Alonso sugeriu a inclusão de dados padronizados para a fase de extração de óleos, num trabalho de levantamento de dados que poderia ser executado pela Embrapa Agroenergia com todo o sigilo necessário e mediante a aprovação dos órgãos reguladores. 

A longo prazo, a solução seria a digitalização da agricultura, hoje uma das principais ferramentas da agricultura tropical moderna. Como exemplo, Alonso citou a tecnologia blockchain, um tipo de protocolo de confiança que poderia ser utilizado no rastreamento de ativos. “Poderíamos rastrear toda a produção agrícola nos diferentes elos da cadeia de suprimentos até o consumidor final, uma vez desenvolvidas novas tecnologias como sistemas de informação, sensores e etc”, disse.

Alonso finalizou fazendo um convite a produtores de biodiesel e/ou etanol de milho para, juntamente com alguns produtores de biomassa selecionados, fornecerem dados e testarem as soluções propostas pela Embrapa, e ainda para cofinanciarem pesquisas e tecnologias. "Investir em inovação é, e sempre foi, um fator de diferenciação e competitividade", disse Alonso, para em seguida convidar a Ubrabio e a UNEM a identificarem entre seus associados empresas potencialmente interessadas em colaborar com a Embrapa Agroenergia e parceiros. 

Melhorias no RenovaBio

Felipe Bottini, economista e sócio-fundador da empresa de certificação Green Domus, detacou a necessidade de implementar melhorias no programa RenovaBio. "É preciso aperfeiçoar o RenovaBio. E isso requer que a gente entenda em que contexto o programa foi desenvolvido e quais são as suas premissas fundamentais, para que seja possível propor soluções que garantam uma flexibilidade nas regras", disse Bottini, defendendo que a premissa fundamental do programa RenovaBio é a descarbonização. 

A mesma visão foi compartilhada pelo diretor do MME, Miguel Novato. "A rastreabilidade do CBio é a sua riqueza. A RenovaCalc está evoluindo e vai sempre evoluir e deslocar o conjunto de tecnologias disponíveis naquele momento", disse. 

Dificuldades dos produtores 

Antin Bianchini, vice-presidente financeiro da Ubrabio e diretor do Grupo Bianchini, falou sobre as dificuldades encontradas pelos produtores em relação à elegibilidade de soja no Brasil. Segundo ele, as dificuldades em relação à soja e ao milho são parecidas, pois muitas vezes esses grãos vêm dos mesmos produtores. "O Grupo Bianchini trabalha com 6.500 agricultores fornecedores de soja e também com grãos comprados de cerealistas e cooperativas, o que dificulta o rastreamento pela indisponibilidade pública de informações", afirmou.

Segundo ele, a maior parte dos agricultores tem resistência em fornecer informações por receio de monitoramento das autoridades e por evidentes complicações ambientais e fiscais. A opinião é compartilhada por Guilherme Nolasco, presidente da União Nacional do Etanol de Milho (Unem), para quem os produtores de etanol de milho também têm enfrentado dificuldades relacionadas à elegibilidade. Ele afirmou que a primeira usina de etanol de milho certificada no Renovabio teve nota de eficiênia energética acima de 70%, mas elegibilidade de apenas 12%, devido aos mais de 20 mil fornecedores de milho. "Chegou a hora de começarms a ajustar a ferramena (do RenovaBio) para possiblitar uma elegibilidade maior da produção de biocombustíveis à base de grãos", afirmou. 

O webinar que tratou do aspectos relacionados à Política Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio) foi acompanhado por cerca de 700 pessoas por meio do canal da Ubrabio no YouTube, onde estão disponíveis todas as palestras. 

Discussões sobre a qualidade do biodiesel

Na tarde do dia 12 de agosto, aconteceu uma das sessões mais técnicas da Biodiesel Week, o webinar “Qualidade do biodiesel”, que reuniu pesquisadores de diferentes instituições brasileiras.

Um dos pioneiros das pesquisas sobre o biodiesel no Brasil, o professor Paulo Suarez, do Instituto de Química da Universidade de Brasília (UnB), abordou os avanços alcançados desde o início do Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB), lançado em dezembro de 2004, e o fortalecimento da qualidade do biocombustível na última década.

“O programa teve uma enorme evolução. Começou de um sonho que ninguém acreditava que fosse muito para frente e, passados esses anos, estamos aí com uma indústria produzindo quase 6 bilhões de litros de biodiesel por ano. Foi um salto enorme”, recordou Paulo Suarez. “Tivemos alguns problemas de qualidade, em 2010, mas hoje estamos em uma situação muito confortável. Ninguém ouve mais falar em problemas de qualidade de biodiesel”, afirmou.

Coordenador da Rede de Serviços Tecnológicos em Biocombustíveis, o pesquisador Eduardo Cavalcanti, destacou, entre outros aspectos técnicos, a importância da estabilidade oxidativa para manter a qualidade do biodiesel. O pesquisador falou, também, sobre novos estudos de logística que estão sendo realizados para levar o biodiesel até regiões onde não há produção, como o Norte do Brasil.

“Estamos realizando estudos, já fizemos vários, para que o biodiesel resista a 60 dias em trânsito, que é um dado das revendedoras que já me foi passado”, explicou o pesquisador do INT.

À frende de uma equipe multidisciplinar no CPT da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, o pesquisador Fábio Vinhado falou das pesquisas sobre mistura que dá origem ao chamado diesel B (diesel A de petróleo + biodiesel).

“Estamos liderando uma série de estudos para continuar aprimorando a qualidade dos produtos, tendo em vista o ponto em que já estamos em relação aos percentuais da mistura. Entre eles, há um estudo que já está em fase final, sobre parâmetros críticos, que está sendo conduzido pelo CPT”, explicou Fábio Vinhado.

A moderação dos debates coube ao diretor Executivo da Ubrabio, Sérgio Beltrão, e ao professor Donato Aranda, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), consultor Técnico da Ubrabio.

Irene Santana (Mtb 11.354/DF)
Embrapa Agroenergia

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