04/09/20 |   Segurança alimentar, nutrição e saúde

A segunda safra de milho, os desafios da (pós-) pandemia e os cuidados na armazenagem

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Foto: Olímpio Filho

Olímpio Filho - Colheita da segunda safra está praticamente finalizada nas principais regiões produtoras

Colheita da segunda safra está praticamente finalizada nas principais regiões produtoras

A colheita da segunda safra de milho, no passado conhecida como “safrinha”, está praticamente finalizada nas principais regiões produtoras. A safra atual (2019/2020) traz alguns aspectos relevantes e históricos, já que, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produção total de milho superou a marca de 100 milhões de toneladas, fato inédito na série histórica: https://bityli.com/XCnJM. Os preços praticados no mercado também são destaque. De acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Esalq/USP, o mês de setembro se inicia após forte avanço em agosto, quando houve aumento de 20,8%, fechando o mês a R$ 60,97 a saca de 60 kg. Esse número representa outro recorde, com maior valor nominal da série histórica do próprio Cepea desde seu início, em 2004: https://bityli.com/kNRbQ.

Aliando esses aspectos econômicos à valorização do dólar, à alta dos preços externos e ao maior ritmo de exportação do milho, devemos ainda considerar a influência das mudanças causadas pela pandemia e a segurança alimentar no cenário pós-pandemia, que de acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) deve implicar maior rigor quanto a padrões técnicos, sanitários e fitossanitários, inclusive com ampliação de exigências de certificação e rastreabilidade pelos mercados importadores: https://bityli.com/cNWMF.

Diante deste cenário, os produtores e os operadores de armazenagem devem redobrar os cuidados e a atenção com alguns pontos-chaves antes e durante a armazenagem, com objetivo de reduzir as perdas, manter o produto colhido nas melhores condições possíveis e assim evitar descontos e impedimentos no momento da comercialização, pela presença de contaminantes que podem tornar-se barreiras não tarifárias, especialmente na exportação, e restringir os mercados ao milho brasileiro.

A atenção ao conteúdo de água (teor de umidade), que deve estar abaixo de 14% para a armazenagem segura, e a consciência quanto à importância das etapas de pré-processamento, transporte, recepção, classificação, pré-limpeza, secagem e limpeza dos grãos, são pontos cruciais. Além desses itens, vale destacar a preocupação em relação às estruturas para recebimento dos grãos, principalmente quanto a limpeza e a manutenção, e por fim o controle dos insetos-pragas e demais contaminantes, como os fungos produtores de micotoxinas.

O teor de água dos grãos (umidade) deve ser inferior a 14%, o que geralmente é alcançado na segunda safra por causa das condições de clima seco nas fases finais do ciclo da cultura em campo, na maioria das regiões produtoras, o que favorece a secagem natural dos grãos na planta. Mesmo nas regiões com clima seco e favorável à secagem natural é importante que o teor de água dos grãos esteja abaixo de 14%, o que reduz as chances de deterioração pelo desenvolvimento de fungos e insetos, e permite a armazenagem segura dos grãos por períodos prolongados, além de evitar descontos e pagamento de taxas extras.

Além da redução do conteúdo de água, é importante realizar a limpeza dos grãos, o que pode ser feito desde as colhedoras, na colheita, e na pós-colheita por meio das máquinas de limpeza por ar e peneiras. O objetivo da limpeza dos grãos é reduzir os percentuais de quebrados, impurezas e partes de plantas que podem conter alto teor de umidade, fontes de contaminação, e prejudicar a qualidade dos grãos durante a armazenagem. A limpeza, a separação e a classificação dos grãos podem contribuir ainda para a redução dos níveis de micotoxinas em lotes de milho pela separação dos grãos defeituosos (ardidos, fermentados, germinados e carunchados), impurezas e matérias estranhas dos grãos normais e sadios.

A limpeza e a manutenção das instalações (silos e armazéns) utilizadas para armazenagem são importantes medidas na proteção dos grãos contra as infestações por pragas e demais contaminantes que podem acelerar as perdas no produto armazenado. Por isso, deve-se revisar as estruturas e verificar possíveis pontos de infiltrações e as condições de circulação e exaustão de ar, e se possível realizar uma limpeza criteriosa. Quando são adotadas estruturas temporárias para armazenagem, como os silos bolsa, é necessário estar atento à integridade da bolsa plástica, realizando reparos se encontrados furos ou danos. Esses danos ao plástico permitem a troca gasosa, tornando o ambiente interno rico em oxigênio, favorecendo o desenvolvimento de insetos e fungos produtores de micotoxinas, gerando deterioração dos grãos.

O controle dos insetos-pragas que atacam os grãos pode ser realizado pelo tratamento com inseticidas ou expurgo para eliminação de insetos que estejam presentes nos grãos e na proteção destes contra novas infestações, neste caso, pelo uso de inseticidas residuais de contato. A aplicação de inseticidas residuais deve ser realizada após as etapas de pré-limpeza e secagem, o que garante menor degradação dos inseticidas e maior proteção aos grãos. O uso desses inseticidas deve ser feito utilizando os equipamentos de proteção individual indicados e produtos registrados para esta finalidade, sempre observando as recomendações do fabricante quanto a doses e intervalo de segurança, a fim de não gerar resíduos acima dos limites permitidos. O expurgo deve ser realizado utilizando-se lonas apropriadas para esta finalidade, que geralmente têm espessura igual ou superior a 150 micras, e deve ser respeitado o período de exposição dos grãos ao gás, que pode variar de 3 a 10 dias. O controle dos insetos pode contribuir para reduzir o desenvolvimento fúngico e a eventual contaminação por micotoxinas pela redução da atividade biológica na massa de grãos que estabelece ambiente favorável à proliferação dos fungos. Informações sobre os inseticidas recomendados pelo Mapa, dosagens e formas de aplicação podem ser consultadas acessando o sistema Agrofit, no endereço bit.ly/2cQGd6g.

A atenção a todos estes cuidados pode ser reforçada por meio do monitoramento periódico do ambiente de armazenagem, que pode ser realizado por meio dos sistemas de termometria, quando é possível identificar focos de calor e agir de forma a eliminar esses focos e manter a temperatura mais baixa, o que pode ser alcançado utilizando a aeração ou equipamentos de resfriamento artificial. Atualmente, ainda é possível contar com a automação e com sistemas de monitoramento em tempo real da massa de grãos, o que permite tomada de decisão rápida.

As práticas e recomendações descritas acima podem auxiliar na redução de perdas e de custos extras aos produtores, resultando na manutenção da qualidade dos grãos durante a armazenagem, especialmente diante do cenário desafiador que estamos vivenciando. Neste novo contexto de aumento da produção e exportação de milho, além dos desafios que já estão postos, como a falta de estrutura para armazenagem em algumas regiões produtoras, as preocupações com as questões fitossanitárias devem ser acentuadas com exigências ainda maiores dos mercados consumidores, tornando as medidas de controle de contaminantes na pós-colheita ainda mais importantes. Para mais informações, acesse o Portal da Embrapa Milho e Sorgo e veja instruções mais detalhadas de armazenagem com qualidade: bit.ly/2MLO5m3

 

Marco Aurélio Guerra Pimentel (Pesquisador Embrapa Milho e Sorgo)
Embrapa Milho e Sorgo

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Edição: Guilherme Viana (MTb MG 06566 JP)
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Revisão: Antônio Claudio Barros
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