Setor Moveleiro de Exportação de Santa Catarina tem significativa contribuição no desenvolvimento da região, aponta estudo da Embrapa
Setor Moveleiro de Exportação de Santa Catarina tem significativa contribuição no desenvolvimento da região, aponta estudo da Embrapa
A produção de móveis de madeira maciça para exportação a partir de florestas plantadas é um importante segmento da cadeia produtiva florestal no Brasil. O estado catarinense se destaca com quase metade das exportações do País.
Estudo realizado por pesquisadores da Embrapa analisou o setor moveleiro da microrregião de São Bento do Sul/SC. O objetivo foi caracterizar o setor dentro da cadeia produtiva florestal e sua importância no desenvolvimento econômico da região. O estudo foi realizado de janeiro a julho de 2020, sendo que as entrevistas com os agentes da cadeia produtiva foram realizadas na última semana de janeiro. Portanto, o estudo reflete a situação anterior à pandemia do novo coronavírus, e mostra caminhos a serem trilhados.
Os resultados do estudo podem ser encontrados nas publicações "O setor moveleiro de exportação no estado de Santa Catarina: considerações gerais e impacto no desenvolvimento econômico" e "O setor moveleiro como parte integrante da cadeia produtiva florestal de florestas plantadas na região de São Bento do Sul".
Um dos resultados do estudo é o potencial de mercado para exportação, com muito espaço a ser ocupado. Diferentemente do restante do Brasil, o polo moveleiro de São Bento do Sul se especializou na produção de móveis de madeira maciça, com matéria-prima de plantios florestais, principalmente com foco no mercado externo. “Ainda que tenha a maior produtividade de florestas plantadas do mundo, o Brasil tem uma participação extremamente tímida neste mercado”, explica o pesquisador José Mauro Moreira, da Embrapa Florestas.
O market share brasileiro no mercado mundial de móveis caiu de 1,95% em 2001 para 0,88% em 2018. “Temos uma produção de móveis quase que totalmente amparada em florestas plantadas de pinus e eucalipto, baseados em sistemas de produção sustentáveis. É de extrema importância apresentar isto para o mercado mundial”, reflete o pesquisador Jonas Irineu dos Santos Filhos, da Embrapa Suínos e Aves. “Este setor apresenta um grande potencial de crescimento, pois conta com elevada produtividade de madeira, grande mercado consumidor mundial a ser explorado e elevado empreendedorismo”, ressalta o pesquisador.
“Somos pequenos, mas o ponto positivo é que há um mercado gigantesco para buscar”, diz Jonas Santos Filho. “O Brasil se destacou neste período na produção e exportação de celulose, mas não obtivemos o mesmo sucesso nas cadeias produtivas florestais de maior valor agregado, perdendo uma grande oportunidade de ampliar o desenvolvimento e a geração de empregos em regiões florestais no interior do país”, destaca José Mauro Moreira.
A produtividade florestal do Brasil é a maior do mundo, entretanto este mercado é dominado pela China e União Europeia (40,4% e 27,7%, respectivamente), com mais de 70% do mercado de exportação mundial de móveis de madeira.
Investimento em ativos florestais
Outra análise feita é sobre a importância de as empresas investirem em ativos florestais próprios, em especial em períodos de valorização cambial. “Os ativos florestais próprios proporcionam estabilidade na matéria-prima, tanto em qualidade como preço; garantem a exploração adequada do plantio florestal e, em situações de necessidade de formação de caixa, podem ser utilizadas para liquidação de ativos”, analisa José Mauro.
No entanto, embora a maioria dos empreendedores reconheça a necessidade de se obter áreas próprias para o plantio de florestas, a carência de recursos financeiros, a elevação do preço da terra e o longo período de maturação do investimento dificultam a realização deste tipo de investimento no curto prazo. “O preço da terra é um componente importante do custo de produção florestal. Ao se retirar o custo da colheita que ocorre, logicamente, no final do projeto, o custo do aluguel da terra é aproximadamente igual ao somatório das despesas silviculturais e dos gastos gerais”, alerta José Mauro. “Esta expansão demanda um capital monetário que poderia ser utilizado para investimentos em máquinas e equipamento que aumentassem a produtividade da fabricação dos móveis, aumentando a nossa competitividade no mercado externo e interno”, alerta.
Por outro lado, ainda que o Brasil continue sendo um grande produtor de madeira, a necessidade de madeira adequada ao melhor aproveitamento no setor moveleiro em termos de diâmetro e qualidade a torna um produto específico para o setor, e necessita de maior atenção aos plantios florestais com destino ao setor moveleiro. “Atualmente, em função do longo período de maturação do investimento e da competição com lavouras (principalmente, soja), o investimento florestal tem perdido competitividade e as áreas de florestas provenientes de produtores independentes estão diminuindo, o que coloca o setor em alerta”, explica o pesquisador.
Estas especificidades do sortimento adequado às empresas moveleiras somadas à elevação do valor da terra dificultam a obtenção de autossuficiência por empresas de médio e grande porte. Outra dificuldade que algumas empresas enfrentam é o consumo de madeira de florestas próprias todo ano, visto que seria necessário ter áreas em idade de colheita todo ano.
As empresas possuem plantios florestais próprios e os utilizam na sua produção, mas a proporção de madeira própria e de mercado a cada ano pode variar em decorrência do próprio desenvolvimento de seus plantios. Uma forma apontada pelos pesquisadores para fomentar este desenvolvimento e ao mesmo tempo o setor moveleiro, seria substituir a busca de recursos para ampliar a produção própria de madeira para móveis por um instrumento de organização da produção via contratos de parceria com os pequenos produtores florestais e/ou suas associações ou cooperativas.
O fortalecimento das relações de mercado dos pequenos e médios produtores florestais com as empresas consumidoras de madeira para móveis e outros produtos de maior valor agregado permitiria um maior desenvolvimento da região, pela valorização da produção florestal destes produtores, manutenção da oferta de madeira ao polo moveleiro e redução da necessidade de investimentos em plantios florestais, possibilitando maior foco na elevação de produtividade do processamento da madeira e produção dos móveis.
Caracterização do polo de São Bento do Sul
O polo conta com 391 empresas e mais de 6.500 empregos diretos, destinando cerca de 80% da sua produção para o mercado externo. A região Sul do Brasil é responsável por mais de 44% da produção de móveis do Brasil, sendo Santa Catarina o quinto maior produtor nacional em número de peças.
Já o Estado de Santa Catarina conta com cerca de 4,1 mil pequenas e médias propriedades rurais na cadeia produtiva florestal estadual, com a oferta de toras de pinus para a indústria madeireira, demonstrando o acesso que tais produtores possuem a este mercado de maior valor agregado dentro da cadeia produtiva florestal na região. Ainda segundo estes dados, os pequenos e médios produtores rurais de Santa Catarina (propriedades entre 5 e 500 hectares), representam 90% das propriedades que ofertaram madeira em tora de pinus para outras finalidades, participando com 31% da quantidade produzida e 26% do valor da produção deste produto, sendo significativa sua participação neste mercado.
Isso mostra o potencial de geração de renda e dinamização das propriedades rurais com produção florestal ao transacionar produtos com o segmento de processamento de madeira na região, compondo uma cadeia produtiva florestal completa e madura.
O Estudo
O foco do estudo realizado pela Embrapa foi o setor moveleiro da microrregião de São Bento do Sul-SC, e teve como objetivo a caracterização do setor dentro da cadeia produtiva florestal, e sua participação no desenvolvimento econômico da região. O trabalho foi realizado pela Embrapa por solicitação do Sindicato das Indústrias da Construção e do Mobiliário de São Bento do Sul (Sindusmobil) e a Associação Catarinense de Empresas Florestais (ACR).
Para o estudo, os pesquisadores José Mauro Magalhães Ávila Paz Moreira (Embrapa Florestas) e Jonas Irineu dos Santos Filho (Embrapa Suínos e Aves) realizaram entrevistas presenciais com integrantes da cadeia produtiva moveleira, bem como a análise de dados secundários disponíveis em bases de dados públicas e relatórios setoriais, com o intuito de delinear a cadeia produtiva da região nos últimos anos, bem com sua participação nas exportações e a geração de empregos na economia brasileira. Vinte agentes da cadeia produtiva foram entrevistados para realização do diagnóstico, sendo 13 empresas do setor moveleiro, três serrarias, uma empresa de energia renovável e três instituições representativas dos setores florestal, madeireiro e moveleiro.
Desenvolvimento Social
A despeito das dificuldades enfrentadas pelo setor, especialmente na área estudada, o estudo frisa a importância do polo moveleiro para o desenvolvimento da região. Tal atividade econômica está presente na microrregião de São Bento do Sul desde o início de sua colonização na década de 1950. “Ao estudarmos a correlação espacial entre o desenvolvimento do setor moveleiro nos municípios, dado pelo número de empregos gerados, com o desenvolvimento dos municípios e de seus vizinhos, mensurados pelo Índice FIRJAN de desenvolvimento, é possível ter uma ideia da contribuição do setor moveleiro no desenvolvimento de seus próprios municípios e de seus vizinhos”, diz o pesquisador Jonas Irineu dos Santos Filho.
Embora o desenvolvimento possa ser resultado de várias atividades econômicas presentes nos municípios, o índice Firjan de 2016 mostra uma associação espacial entre a presença do setor moveleiro e o índice utilizado, sendo que o município de São Bento do Sul é considerado exemplo do impacto da atividade moveleira no desenvolvimento econômico. O Índice Firjan (IF) deste município foi de 0,8385 e o coloca na oitava posição dentro do Estado de Santa Catarina e ao 135º melhor município do Brasil. Rio Negrinho, com IF de 0,7658, e Campo Alegre, com IF de 0,8006, que compõem a microrregião de São Bento do Sul, também apresentam indicadores de desenvolvimento elevados. Destaque também para os municípios limítrofes de Mafra com IF de 0,8089 e Canoinhas com IF de 0,7997. “A ideia é que o desenvolvimento, por meio das demandas da cadeia produtiva, cause transbordamento além da sua própria cidade, contribuindo para o desenvolvimento da região inteira”, analisa Jonas.
Acesse as publicações:
O setor moveleiro de exportação no estado de Santa Catarina: considerações gerais e impacto no desenvolvimento econômico.
Manuela Bergamim (MTb 1951/ES)
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Katia Pichelli (MTb 3594/PR)
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