09/10/20 |

Reunião destaca demandas de consumidores com necessidades alimentares específicas

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Foto: Marcos Moulin

Marcos Moulin -

A segunda edição da “Reunião sobre necessidades alimentares específicas – Alergias alimentares” (Coine/Renae 2020), realizada no dia 1º de outubro, aproximou diferentes atores das cadeias que impactam na qualidade de vida dos indivíduos com necessidades alimentares específicas e, também, foi uma oportunidade para verificar demandas em pesquisas que possam beneficiar esses indivíduos. A reunião foi organizada pelo Centro Brasileiro de Apoio Nutricional (CBAN) e pela Embrapa Agroindústria de Alimentos (Rio de Janeiro, RJ), transmitida pela internet e pode ser assistida aqui

A nutricionista e fundadora do CBAN, Noadia Lobão, enfatiza que o aumento da conscientização e as melhores ferramentas para o diagnóstico demonstram que as alergias alimentares envolvem muitas pessoas: famílias de pessoas que sofrem com alergias alimentares, formuladores de políticas públicas, agências regulatórias, indústria de alimentos, pesquisadores, nutricionistas, farmacêuticos, médicos e outros profissionais que trabalham com alimentação e formulação.

“Precisamos conscientizar a sociedade como um todo sobre as conseqüências para saúde e dos custos associados à alergia alimentar, e tornar mais claras as recomendações e diretrizes para a prevenção e o manejo dessa doença. Temos urgência por melhores diagnósticos, prevenção, tratamento e melhores políticas públicas”, afirma.

Evento

De acordo com a pesquisadora da Embrapa Agroindústria de Alimentos, Ilana Felberg, um dos destaques entre os temas abordados é a questão de limite de alergênico no alimento para fins de rotulagem. "Ficou claro que não existe um limite seguro para todos os indivíduos, uma vez que foi mencionado que esse limite não varia apenas entre os indivíduos, mas também em um mesmo indivíduo em diferentes situações. Mas o teor de alergênicos deve ser conhecido para que médico e paciente possam tomar a decisão de consumo".

Ela acrescenta o “pode conter”, que também foi uma questão abordada, que inicialmente foi rejeitado por parte da comunidade celíaca, mas que agora passa a entender melhor a contribuição desta informação. “Uma importante informação passada pelo representante da Anvisa é que em novembro haverá uma consulta pública a respeito desse assunto e a sociedade pode e deve contribuir. Ficou claro que a RDC 26/15 foi um enorme avanço mas ainda existe muito a avançar e eventos como essa reunião são fundamentais para isso”, diz.

Para a pesquisadora também da Embrapa Agroindústria de Alimentos, Melicia Galdeano, a reunião mostrou oportunidades de atuação para todas as instituições. “Para a Embrapa, podemos agir em diversas frentes como capacitação das fábricas em práticas seguras de produção de alimentos como as Boas Práticas de Fabricação e a Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle, que são pré-requisitos para o Programa de Controle de Alergênicos”.

Segundo ela, também foram identificadas possibilidades de atuação em pesquisas relacionadas à “rotulagem” visando melhorar o entendimento das informações presentes nos rótulos; no âmbito metodológico aumentar a sensibilidade dos métodos de detecção de alergênicos, ou seja, detectar níveis cada vez menores; monitorar traços de alergênicos – leite e trigo - na horticultura orgânica, além do desenvolvimento de novos produtos que agreguem nutrição e saúde.

Apresentações

As médicas da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia, Lucila Camargo e Ana Paula Castro, abordaram os conceitos sobre alergia alimentar e formas de diagnóstico na apresentação com o tema “Visão clínica, dificuldades para diagnóstico, tratamento e orientação em relação ao consumo de alimentos”. Mostraram que a freqüência das alergias alimentares estão aumentando mundialmente e os principais alimentos responsáveis por alergias no Brasil são leite e ovo, e há uma percepção de crescente reação a amendoim e castanhas. Elas explicaram que as alergias alimentares podem se manifestar de diversas maneiras e inúmeros sintomas, incluindo os muito graves que podem levar à morte.

Na apresentação “Visão e demandas do consumidor celíaco com alergia ao trigo associada”, a professora Raquel Benati, responsável pelo site Rio Sem Glúten, além de explicar um pouco sobre a associação entre essas duas diferentes formas de reação ao trigo, falou sobre as dificuldades que esse consumidor enfrenta hoje em seu cotidiano. Ela abordou, ainda, as fragilidades em relação à segurança alimentar e proteção à saúde ligadas à qualidade das informações fornecidas nos rótulos de produtos alimentícios, assim como dos produtos de higiene e beleza. Também apontou as mudanças que esse consumidor espera que aconteçam para minimizar essas fragilidades.

A fundadora do movimento Alergia Alimentar Brasil, Fernanda Hack falou sobre “Conquistas e desafios das pessoas que convivem com alergia alimentar”. Ela posicionou a alergia alimentar como um problema de saúde pública, falou sobre o papel do Estado e iniciativas da sociedade civil. Destacou ainda a atuação do movimento “Põe no Rótulo”, tanto na esfera administrativa quanto judicial, pela implementação da RDC n° 26 de 2015 da Anvisa, que dispõe sobre os requisitos para rotulagem obrigatória dos principais alimentos que causam alergias alimentares.

O assessor da Gerência de Padrões e Regulação de Alimentos da Gerência Geral da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Rodrigo Martins de Vargas, apresentou o tema “Atualização da legislação e perspectivas”. Ele falou sobre o cenário regulatório nacional; tratativas em curso no Codex Alimentarius, que é um programa da Organização Mundial da Saúde; principais problemas e desafios, além de planejamento regulatório. Sobre a RDC 26, ele explicou que a norma foi elaborada para que os consumidores tivessem acesso a informações corretas, compreensíveis e visíveis em relação à presença dos principais alergênicos nos alimentos.

O diretor de Assuntos Científicos e Regulatórios da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia), Alexandre Novachi, falou sobre o tema “Contém ou não contém glúten: os desafios e as oportunidades para o setor produtivo”. Ele destacou que os rótulos dos produtos têm um papel fundamental na comunicação de risco sobre alimentos alergênicos. Ele apontou como desafio, atualmente, conseguir equilibrar todos os fatores para que se possa ter segurança, oferta, disponibilidade e, ao mesmo tempo, o menor nível possível de risco tendendo a zero. Abordou ainda a necessidade de equilíbrio sobre como a regulamentação se encaixa nos processos de fabricação, distribuição e de comunicação ao consumidor.

A consultora técnico-comercial da R-Biopharm, Juliana Dzik, fez uma apresentação sobre “Métodos analíticos para detecção de alergênicos em alimentos”. Segundo ela, é de extrema importância usar métodos validados e realizar ensaios de validação internos para verificar se a metodologia escolhida é compatível com a matriz que se deseja analisar. “As ferramentas analíticas possuem limitações como, por exemplo, impactos causados pelo processamento do alimento ou a presença de substâncias que causam efeito matriz, portanto elas devem ser parte de um bom plano de gestão de alergênicos e sua escolha deve ser bem adequada ao uso pretendido”, informou.

Kadijah Suleiman (MTb 22.729/RJ)
Embrapa Agroindústria de Alimentos

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