Painel discute a produção de mudas e melhoramento genético de erva-mate
Painel discute a produção de mudas e melhoramento genético de erva-mate
Organizado pela Embrapa Florestas com apoio do IDR Paraná, Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Paraná e Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o evento on-line "Erva-mate XXI: inovação e tecnologias para o setor ervateiro" teve seu 2º Painel realizado em 05/11. O tema foi “Produção de Mudas e Melhoramento Genético”.
Além dos protocolos para produção de mudas clonais de erva-mate, realizados no Brasil e na Argentina, os palestrantes falaram sobre o desenvolvimento de materiais genéticos nos dois países, sob a moderação da pesquisadora da Embrapa Florestas Edina Moresco.
Ivar Wendling, pesquisador da Embrapa Florestas, foi o primeiro palestrante e explicou o conceito, a importância, vantagens e desvantagens da propagação vegetativa ou clonagem. Este processo de produção das mudas não utiliza semente, mas brotações da planta original selecionada, ou seja, iguais geneticamente às árvores das quais foram coletadas. “Busca-se, com isso, a multiplicação de plantas superiores em termos de produtividade, composição química, resistência a pragas, sabor etc. Nosso trabalho na Embrapa tem como foco a composição química diferenciada, embora a gente trabalhe a produtividade para outros usos, como o chimarrão, por exemplo”, explica.
Outra possibilidade trazida com o uso da propagação vegetativa é a produção de mudas o ano inteiro, bem como maior rapidez na produção, tempo que varia entre seis meses a 1,5 ano. Mas, segundo o pesquisador, de fato, a principal vantagem da propagação vegetativa é a produtividade, pois, de acordo com um estudo publicado, 35% das plantas de um erval são responsáveis por mais de 50% da produção. No entanto, o processo de clonagem tem algumas restrições, como o risco de estreitamento da base genética. Para tanto, é importante que se trabalhe com uma significativa variabilidade genética, necessitando também de uma melhor avaliação em cada região onde os clones serão plantados.
Uma questão fundamental da propagação vegetativa é necessidade de uma boa seleção de plantas matrizes. De acordo com Ivar Wendling, o melhoramento por trás da clonagem é muito importante, para que se selecione as características desejáveis das plantas. “Se eu selecionar uma característica que não é boa para o meu objetivo, o resultado não será interessante”.
Estudos
Os primeiros trabalhos com propagação vegetativa por estaquia ocorreram, em 1930, e no Brasil, o primeiro teste clonal foi implantado em 1995, em Colombo-PR. “Tais testes mostraram a longevidade das mudas obtidas por propagação vegetativa, pois até hoje elas estão bem, mostrando que a técnica é potencial, desde que haja a seleção correta do material conforme o interesse”, explica. Visando maiores taxas de multiplicação e enraizamento, atualmente é utilizada a técnica de miniestaquia, que vem sendo estudada desde 2002, na Embrapa Florestas. Na época, foram selecionadas matrizes nativas, buscando selecionar os materiais por suavidade e vigor, bem como, matrizes do programa de melhoramento genético da Embrapa, focado em alta produtividae. Os materiais foram colocados em vários testes em campo, para validação da técnica. “Hoje temos mais de 12 testes em campo para acompanhar o desenvolvimento destas tecnologias”.
Ivar Wendling explicou como funciona a técnica de miniestaquia, que começa com a muda selecionada do genótipo conhecido e de interesse superior, produzida por estaquia. Em seguida são plantadas em areia, em um sistema semi-hidropônico, quando são podadas, formando um jardim miniclonal, que induz a produção de brotações. Estas são coletadas a cada 30 e 60 dias e preparadas para se transformarem em miniestacas para serem enraizadas em casa de vegetação. Três a quatro meses após, já com raízes, são aclimatadas em casas de sombra, passando para a casa de rustificação, que busca adaptá-las às condições encontradas a campo. Tais mudas poderão retornar ao sistema de minijardim para aumentar a taxa de multiplicação. “Este sistema é interessante e tem muitas vantagens, pois não depende de voltarmos à planta matriz no campo, além disso é um sistema mais limpo, não necessitando de desinfestação (a irrigação é por gotejamento, que não molha as folhas, o que dificulta o surgimento de patógenos).
Miniestaquia em viveiros
Após o desenvolvimento da técnica de miniestaquia, a Embrapa Florestas realizou a transferência desta tecnologia para viveiros interessados, localizados nos três estados do Sul. Atualmente há cinco viveiros trabalhando com a tecnologia. “Em mais de 20 anos de estudo, a viabilidade da técnica de miniestaquia em escala comercial é real, o uso de reguladores de crescimento é baixo ou desnecessário, e não há necessidade de tratamentos preventivos dos materiais e os custos podem ser até menores do que produção via semente. Em campo, o crescimento é similar a uma produção via semente, com sistema radicular bem vigoroso e bem desenvolvido”, aponta o pesquisador.
Melhoramento genético
Wendling falou sobre os testes de procedências, progênies e clonais realizados desde 1988 em diferentes locais, nos três estados do Sul, que culminaram na disponibilização de cultivares. Uma delas é a SCSBRS Caa rari, registrada pela Epagri e Embrapa para massa foliar, “sendo disponibilizada no mercado, com resultados excepcionais de crescimento, de vigor e produção de massa verde”, conta. Outras cultivares foram desenvolvidas, com foco em produtividade, como a BRS 408 e BRS 409 e as BRS BLD Aupaba e BRS BLD Yari, com foco na suavidade, visando o produto chimarrão.
Nova rede
Com estas cultivares acima, juntamente com novas sementes de diferentes materiais genéticos, foi implantada uma nova rede de melhoramento (2016). Com maior abrangência, incluindo, além dos três estados do Sul, o Mato Grosso do Sul. Nestes locais estão sendo avaliados germoplasmas de 1ª, 2ª e 3ª gerações, bem como de clones. “Então teremos bastante informação nesta rede de testes, usando a mesma estratégia de manejo, colheita etc”, explica o pesquisador.
Nova era da erva-mate
Outro foco importante da pesquisa tem sido o desenvolvimento de materiais melhorados de erva-mate para composição química, como, por exemplo, com maiores conteúdos de cafeína, teobromina, polifenois e também mais suavidade e mais amargor. Todas essas características da erva-mate serão validadas por testes em campo, para as diferentes regiões. Um outro objetivo da pesquisa, visando o futuro dos plantio de erva-mate, é desenvolver cultivares específicas em função do objetivo da produção. “Ou seja, eu poderei plantar erva-mate para usos específicos (produção de chás, medicamentos, energéticos ou produtos descafeinados, antioxidantes) e para cada um deles, eu terei materiais específicos para serem colocados no mercado. É um importante ganho para o setor produtivo”, vislumbra.
Integração entre as áreas
O melhoramento genético, porém, é apenas uma das áreas que afetam a produtividade e a qualidade da erva-mate. É preciso atentar também para o solo, patógenos, produtos químicos, manejo do solo, mudas de qualidade, podas, nutrição, uso de Sistemas Agroflorestais (Safs) etc. “O melhoramento genético é só uma parte deste quebra-cabeças, precisamos ter várias áreas unidas para termos qualidade no nosso erval e a indústria tem que estar integrada para não reduzir a qualidade dos materiais por meio dos seus processos”. Estudos recentes da Embrapa mostram que processos tradicionais de secagem, beneficiamento e tostagem promovem a perda de compostos bioativos de erva-mate. “Então a indústria precisa avançar para que não se percam essas qualidades que o melhoramento genético e sistemas melhorados de produção têm disponibilizado para o setor”, aponta.
Publicações e lançamento de Manual de Mudas de Erva-mate
Para finalizar, o pesquisador agradece aos inúmeros parceiros da rede de erva-mate e cita as publicações da Embrapa que representam avanços sobre o tema: Melhoramento genético de erva-mate (2010); Propagação e nutrição de erva-mate (2015); Descritores mínimos em cultivares de espécies florestais: uma contribuição para erva-mate (2019) e o comunicado técnico sobre as cultivares de erva-mate (2017). Na oportunidade, Ivar Wendling cita também o lançamento do Manual de produção de mudas clonais de erva-mate, uma publicação que visa detalhar o processo de produção de mudas de erva-mate via clonagem. “Essa é uma publicação bem direta, simplificada, ponto a ponto, no sentido de orientar a implantação de viveiros clonais”, explica.
A íntegra do Painel está disponível no Canal da Embrapa no Youtube.
Manuela Bergamin (MTb 1951/ES)
Embrapa Florestas
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