31/03/21 |   Produção animal  Transferência de Tecnologia

Artigo - Os ganhos na produção com o uso do calendário de manejos

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O Calendário de Manejos Reprodutivo, Sanitário e Zootécnico é uma ferramenta que permite o planejamento e o acompanhamento das principais atividades de rotina na produção de bovinos de corte. Seu principal objetivo é contribuir para a melhoria dos índices produtivos e reprodutivos das propriedades onde é aplicado. Para isso, foi idealizado a partir do estudo científico sobre a ocorrência de doenças diagnosticadas em fazendas produtoras de gado de corte, e adaptado aos manejos destas, de forma a interferir o mínimo possível na rotina e assim estimular a adoção das recomendações técnicas. 

Em virtude do grande número de variáveis e informações dispersas que envolvem o manejo de bovinos de corte, associada à grande demanda recebida pela Embrapa sobre o tema, este material vem justamente abordar, de forma técnica e organizada, os controles reprodutivo e sanitário dos rebanhos, além de auxiliar no manejo zootécnico.  

Para potencializar a utilização do Calendário de Manejos, está disponível ainda uma versão editável para que o produtor possa personalizar conforme sua necessidade, caso use outro período de estação de monta, por exemplo. Todas essas informações podem ser acessadas no endereço https://cloud.cnpgc.embrapa.br/calendario-manejo/

A identidade visual do Calendário também é um diferencial, pois permite o reconhecimento das atividades a serem realizadas para cada categoria animal, divididas entre os manejos reprodutivo, sanitário ou zootécnico; por meio de cores específicas, que facilitam a consulta de forma ágil e prática. Por uma questão organizacional, as categorias animais foram divididas em maternal (3 meses a 5 meses), desmama (7 meses a 8 meses), pós-desmama (9 meses a 11 meses) e sobreano (acima de 12 meses). Além das cores atribuídas para as categorias mencionadas, foram ainda aplicadas mais duas cores para as atividades previstas para os animais no período de nascimentos e estação reprodutiva, otimizando assim a identificação visual pelo usuário.

A base de planejamento das atividades do Calendário de Manejos é a estação reprodutiva, que pode ser alterada a critério do produtor. A partir disso, está previsto o exame andrológico dos reprodutores até 30 dias antes da estação de monta, com o objetivo de avaliar as condições reprodutivas do touro para determinar se o mesmo está apto a acasalar e fecundar as fêmeas. Na sequência, passados 30 dias da última inseminação ou retirada do touro de repasse, pode ser realizado o diagnóstico final de gestação, que auxilia na organização da época de nascimentos e descarte de fêmeas que não conceberam, conforme o caso.

É importante mencionar que o diagnóstico de gestação pode ser realizado em período mais precoce, dependendo da experiência do operador e da técnica utilizada, como ultrassonografia, por exemplo. Outro cuidado abordado, como medida preventiva de higiene, é a recomendação de transferência das matrizes, em até 30 dias antes do parto, para um piquete específico que deve ser limpo e possuir alimento e água em quantidade e qualidade que atendam suas necessidades. É importante ainda, que este piquete esteja localizado em área que facilite a intervenção imediata do tratador, se necessário. Vale destacar que esta área não deve ter abrigado animais doentes de qualquer categoria e devem ser evitados entulhos, desníveis acentuados, plantas tóxicas ou qualquer outro elemento nocivo à saúde da mãe ou do bezerro.

As principais recomendações de cuidados com os bezerros recém-nascidos contidas no Calendário de Manejos envolvem a ingestão de colostro e o tratamento de umbigo. A ingestão de colostro é fundamental para proporcionar imunidade passiva ao bezerro e precisa ser ingerido em maior quantidade em até 6 horas após o nascimento, pois a absorção de anticorpos diminui gradativamente com o passar desse período. Da mesma forma, o umbigo deve ser tratado o mais breve possível, visto que é a principal porta de entrada para infecções oportunistas nesta fase, além das condições propícias para infestação por larvas de moscas (miíases). Como regra geral, caso o umbigo esteja muito comprido, deve ser cortado na medida aproximada de 5 cm de comprimento e imerso em soluções de produtos antissépticos como álcool iodado 10% ou produtos similares, até sua completa cicatrização.

Para contribuir com a gestão dos índices zootécnicos e o controle dos animais, foram incorporadas as atividades de pesagem e identificação. Por meio do estabelecimento de uma rotina de pesagem é possível acompanhar o desempenho produtivo dos animais e com isso auxiliar na avaliação econômica da propriedade. Já a identificação individual permite um controle mais efetivo do histórico dos animais e auxilia no gerenciamento e monitoramento da propriedade. Vale lembrar ainda que a identificação dos animais pode ser realizada por meio de diferentes sistemas, como brincos, botons, tatuagem, dispositivos eletrônicos, ferro quente, entre outros, ou mesmo combinações destes.

Com relação ao manejo sanitário, são recomendadas atividades que previnem as principais doenças que causam prejuízos na produção de bovinos de corte, seja por meio do controle de endo e ectoparasitas, seja pela aplicação de vacinas contra doenças infectocontagiosas. É importante destacar que as atividades apresentadas são recomendações gerais e qualquer alteração destas pode ser realizada a critério do médico-veterinário responsável pela propriedade. 

No caso de mosca-dos-chifres, infestações mais elevadas são observadas principalmente em animais de raças e cruzamentos de origem europeia, e a decisão do momento mais indicado para o controle da infestação deve considerar também a manifestação de incômodo pelos animais que seja capaz de interferir no consumo de alimentos. Recomenda-se realizar dois tratamentos estratégicos, um no início das chuvas e outro no final das chuvas.

Da mesma forma, a infestação por carrapatos tem impacto importante em raças bovinas, puras ou cruzadas, de origem européia. Além desta característica, a taxa de lotação, o estado nutricional e as condições ambientais são fatores capazes de interferir na apresentação da infestação por carrapatos. Como recomendação geral devem ser aplicados três tratamentos sequenciais de acaricida nos animais, antes do início das chuvas, com intervalos em torno de 21 dias, de acordo com a classe do produto utilizado. Este tratamento estratégico deve ser feito quando as populações dos carrapatos estiverem baixas tantos nos animais quanto nas pastagens. Recomenda-se ainda executar o teste de resistência aos acaricidas antes dos tratamentos.

As endoparasitoses também devem ser submetidas a tratamento estratégico, por meio da desverminação dos animais iniciada no maternal, depois à desmama e com repetição nos meses de maio, julho e setembro (Esquema 5, 7 e 9) até completarem 24 meses de idade. Recomenda-se nesse caso também executar o teste de eficácia dos antihelmínticos, periodicamente, antes do início do tratamento estratégico (Esquema 5, 7 e 9).  Sobre a prevenção de doenças infectocontagiosas por meio de vacinação, no Calendário de Manejos estão indicadas, além de vacinas contra doenças de notificação obrigatória como febre aftosa, brucelose e raiva; outras vacinas que previnem perdas produtivas e reprodutivas causadas por doenças como diarreia neonatal, clostridioses, rinotraqueíte infecciosa bovina (IBR), diarréia viral bovina (BVD) e leptospirose. No caso das vacinas obrigatórias é importante seguir as determinações do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), pois estas podem ser alteradas a qualquer momento e ainda serem regionalizadas.

Todas as indicações e particularidades sobre as vacinas recomendadas, assim como as outras informações importantes constam ao final do Calendário de Manejos, no item Orientações Gerais sobre as Atividades Previstas, ou na Aba Orientações Gerais, na planilha editável.

Vanessa Felipe de Souza, médica-veterinária, pesquisadora da Embrapa

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Embrapa Gado de Corte

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