Artigo - Por mais silagem e cordeiros
Artigo - Por mais silagem e cordeiros
Chega esta época do ano e percebemos na Embrapa um aumento no número de consultas de produtores procurando alternativas para manter o rebanho de gado de corte no período seco. Uma das respostas clássicas, o uso de forragens conservadas na forma de silagem, não é nem um pouco nova ou desconhecida. Nestes momentos, inquieta refletir sobre o porquê desta técnica ainda não ser adotada como poderia.
Uma observação interessante sobre o assunto envolve uma experiência com um pequeno produtor de ovinos. Ele teve uma oportunidade de comprar silagem de milho de uma granja leiteira, que produz grandes quantidades e comercializa seu excedente. O produtor buscou com seu veículo, usou para seu rebanho e conseguiu mais cordeiros prontos para venda no Natal. Era a primeira vez que utilizava silagem para alimentação do seu rebanho.
O que há de interessante neste fato? Aquele produtor em específico sabia o que era silagem e sabia de seus benefícios, senão não teria tanto ímpeto a fazer a aquisição do alimento naquela forma. A provocação é: qual era a principal barreira então para que ele próprio pudesse confeccionar silagem na sua propriedade naquele momento? Seria o fato de não ter estrutura ou acesso à estrutura necessária para confecção da sua própria silagem? Me pergunto quantos produtores têm uma situação parecida e se essa não seria uma das barreiras mais importantes para adoção da prática de produção e uso de silagens.
A partir do ano passado, intensificamos nossas pesquisas sobre silagem de capim. Ela pode ser uma alternativa barata de volumoso, apesar de, muitas vezes, ter valor nutricional pior do que as tradicionais silagens de sorgo ou milho. Na Embrapa, temos excelentes materiais forrageiros lançados para pastejo ou corte (exemplos: Mombaça, BRS Zuri, BRS Quênia, BRS Capiaçu), com grande potencial de ensilagem e o objetivo será evoluir na prática.
A ideia de fortalecer a prática entre produtores de gado de corte tem enfoque também na facilidade de adoção. O fato de o capim ser uma cultura perene, de menores riscos climáticos e que, de certo modo, exige menos investimentos e mecanização, nos leva a pensar que pode ser de mais fácil acesso. Considerando que há uma parcela de produtores que não dominam práticas agrícolas ou não possuem a estrutura necessária, o manejo do capim, mal ou bem, já é algo familiarizado, o que vemos reduzir possíveis barreiras para adoção.
A silagem de capim já tem aplicações importantes na produção de gado de corte. São conhecidos seu uso na terminação de animais em confinamento e no “confinamento estratégico de recria”, também conhecido como “sequestro”, utilizado para redução da lotação da fazenda em momentos críticos da seca. Em países com inverno rigoroso, entretanto, a silagem é mais amplamente utilizada, incluindo a manutenção do rebanho de cria. No Brasil, vemos o aumento de sua adoção como uma possibilidade real para elevação da produtividade na bovinocultura de corte, ou mesmo em outras culturas.
E voltando ao produtor de ovinos, ainda provoco: quantos produtores, principalmente pequenos, poderiam se beneficiar com a possibilidade de adquirir silagem de forma acessível? Seria possível fomentar modelos de negócio que possibilitem mais oportunidades como a descrita? Aliás, ele hoje pratica uma dobradinha da Embrapa, com pastejo de capim Massai irrigado nas águas e silagem de BRS Capiaçu na seca, produzida por ele agora. Tecnologias para intensificar a produtividade no período seco não faltam (a Embrapa também possui excelentes cultivares de milho e sorgo para silagem), o que precisamos é pensar em mecanismos para vencer algumas barreiras. Por mais silagem e cordeiros (não só no Natal!), temos que pensar em uma maior adoção.
Rodrigo da Costa Gomes, zooctenista e pesquisador em nutrição animal.
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