04/05/21 |   Gestão Estratégica  Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação  Transferência de Tecnologia

Indicado ao Nobel da Paz, Alysson Paolinelli destaca o a história e os desafios da pesquisa agropecuária brasileira em palestra on-line

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Foto: Breno Lobato

Breno Lobato -

O passado, o presente e futuro da pesquisa agropecuária brasileira foram abordados pelo ex-ministro da Agricultura Alysson Paolinelli, em palestra on-line realizada no dia 7 de abril. O evento integra o Ciclo de Palestras Técnicas promovido pela Embrapa Cerrados. Com a participação de pesquisadores e especialistas, o evento busca aproximar a pesquisa do setor produtivo.

Paolinelli destacou a importância das pesquisas da Embrapa Cerrados na conquista do Bioma Cerrado. “Hoje, graças a Deus e a vocês, o Cerrado se transformou na área mais produtiva e competitiva que o mundo tem. Além disso, dá condições para (o País) garantir a segurança alimentar até 2050 com mais 40% da atual oferta (de alimentos)”, apontou.

Ele relembrou fatos sobre a evolução da agricultura brasileira a partir do final da década de 1960, quando o País era um importador de alimentos diante do cenário de dificuldades na produção mundial, e de sua trajetória como ministro da Agricultura, entre 1974 e 1979. 

“Havia a necessidade de mudanças e foi o Brasil quem efetivamente se planejou para fazê-las e teve bom êxito. Foi montado um projeto estratégico. A primeira lança, da ciência, da tecnologia e da inovação, teve o processo comandado pela Embrapa. Mas tivemos que fazer um grande esforço para preparar a juventude brasileira”, disse, lembrando a contratação e o treinamento de técnicos para a Empresa, oriundos de universidades, organizações estaduais de pesquisa e da iniciativa privada.

Para realizar a transferência das inovações para o produtor rural, foi criada a Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural (Embrater), que absorveu a estrutura da Associação Brasileira de Crédito e Assistência Rural (Abcar). “Transformamos a Abcar em nosso órgão de transferência, assistência técnica, crédito orientado, extensão rural para desenvolvimento e educação da família e de todos que estivessem envolvidos para que as mudanças se realizassem mais rapidamente, sem confronto com a insensatez”, explicou.

O terceiro ponto da estratégia foi uma política pública que estimulasse os produtores, como programas de desenvolvimento regional, a exemplo do Polocentro, que visava incorporar parte do Cerrado à produção agropecuária brasileira em cinco anos. “O projeto do Polocentro funcionou como um relógio. Os produtores mostraram que queriam ser influenciados pelas inovações que davam certo nos vizinhos. Quando deixamos o governo, já haviam mais de 3 milhões de hectares de Cerrado em uso no Brasil, o que garantiu ao País o equilíbrio da balança comercial, pois em cinco anos nos tornamos quase autossuficientes”, destacou.

Paolinelli lembrou que a transformação do Bioma começou com a construção da fertilidade do solo, com transformações químicas e biológicas. “Já nos três ou quatro anos (iniciais), o Cerrado dava demonstração de que seria a área mais produtiva e competitiva que o mundo tinha. Além disso, estava se criando pela primeira vez uma agricultura tropical altamente sustentável, o que daria ao mundo uma nova expectativa”. Com isso, segundo o ex-ministro, o Brasil entrou no mercado mundial de alimentos, oferecendo produtos de melhor qualidade a preços mais competitivos durante todo o ano.

Ao falar dos desafios atuais da agricultura brasileira, ele ressaltou que a pesquisa não pode parar. “A ciência é dinâmica. Se ela já nos valeu muito na Química, na Física, na Genética, ela vai nos valer mais agora na área da Biotecnologia. Estamos importando mais de US$ 35 bilhões da indústria química da qual somos dependentes”, disse, apostando no potencial do País em avançar nas mudanças dos processos produtivos, incorporando insumos biológicos, e manter a competitividade na agricultura.

Para Paolinelli, a agricultura tropical vai mudar em qualidade, consistência, nutrabilidade e na feição dos alimentos que produz e que o mundo demanda. “Os países ricos pagam muito caro pelos alimentos nobres, mas já não têm áreas aráveis nem água para competir conosco. Temos que inovar. Não tenho medo dessa concorrência, pois acredito na juventude brasileira, que vai assumir o comando do processo produtivo, como acreditei em vocês”, disse.

Por outro lado, o ex-ministro advertiu que 80% das propriedades brasileiras (cerca de 4,5 milhões) ainda não são capazes de incorporar tecnologias e de produzir o suficiente para gerar renda. “Nunca seremos um país desenvolvido enquanto isso existir. A única forma é estimular a pesquisa, a assistência técnica, a extensão rural, dando condições para que esses produtores aceitem as inovações e consigam introduzi-las no seu sistema produtivo para produzirem mais e terem renda. Esse é o grande desafio do Brasil de hoje”, apontou, defendendo a integração das competências nacionais.

O chefe geral da Embrapa Cerrados, Sebastião Pedro da Silva Neto, anfitrião do evento, agradeceu a Paolinelli pela fala. “Suas palavras nos dão estímulo e um pouco da coragem que o senhor e a sua geração tiveram de gerar os nossos centros da Embrapa, de construir as inovações tecnológicas para corrigir os problemas que ainda temos e de encontrar formas mais sustentáveis para que nosso país e o Cerrado brasileiro cumpram o papel que hoje toda humanidade espera de nós”, comentou.

Após a palestra, Paolinelli e Sebastião Pedro responderam a perguntas encaminhadas pelo chat do YouTube, abordando as linhas de pesquisa prioritárias para a agricultura do futuro no Cerrado e no Brasil, sobretudo bioinsumos, remineralizadores de solo e controle biológico; como acelerar a adoção dos sistemas que promovem a intensificação sustentável da produção agrícola no País; como os extensionistas rurais podem levar informações ao setor produtivo; desafios futuros; como os produtores podem acessar as novas tecnologias geradas pela pesquisa; e qual deve ser o perfil do pesquisador frente à nova revolução verde.

O chefe geral destacou a importância das falas de Paolinelli ao lembrar que os centros de pesquisa da Empresa estão em fase de elaboração dos Planos de Execução da Unidade (PEU), à luz do VII Plano Diretor da Embrapa (PDE), lançado em 2020. “Recebemos muitos sinais e informações preciosas para que possamos construir o nosso PEU. Tudo o que ele falou está conectado ao nosso VII PDE. Foi uma oportunidade excepcional, e esta live nos dará muitas informações estratégicas e muito ânimo para perseguir as soluções tecnológicas que o Cerrado, o Brasil e o mundo precisam”, disse.

O ex-ministro deixou uma mensagem final de otimismo. “Não acredito que sou visionário. Acredito nas coisas. Aprendi muito cedo que não ganhamos nada de graça. O que você quiser fazer, trabalhe, lute com afinco, determinação, competência, vontade e honestidade. Essa é a equação”, afirmou.

Assista à integra do evento clicando aqui.

Sobre o palestrante

O engenheiro agrônomo Alysson Paolinelli atualmente é presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho) e do Instituto Fórum do Futuro. Além de ex-ministro, foi secretário de Agricultura em Minas Gerais por três vezes e professor de Hidráulica, Irrigação e Drenagem e diretor da Escola Superior de Agricultura de Lavras.

Em 2006, juntamente com Edson Lobato, pesquisador aposentado da Embrapa Cerrados, e com o cientista norte-americano Andrew Colin McClung, foi laureado pelo World Food Prize, o “Nobel” da Agricultura, pelo papel vital na transformação dos solos inférteis do Cerrado em áreas agrícolas produtivas, o que viabilizou a agricultura tropical no Bioma. 

Em janeiro de 2021, foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/Usp), com o apoio de instituições de 24 países. De acordo a Esalq, a indicação se deve ao legado de Paolinelli em transformar o Brasil, de importador de alimentos em 1970, em potência mundial do agronegócio, o que possibilitou alimentar cerca de 1,2 bilhões de pessoas no mundo todo em 2016; e por liderar o projeto Biomas Tropicais, que procura estruturar um planejamento estratégico para prover a produção de alimentos para mais 1,12 bilhões de pessoas em 2050, atendendo à expectativa da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) de que o País responda por 40% da expansão da produção mundial até aquele ano, promovendo a paz.

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Breno Lobato (MTb 9417-MG)
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