21/05/21 |   Recursos naturais

Artigo - Validação hidrológica do Camalhão Alto de Base Larga como tecnologia conservacionista aplicada à cultura do tabaco

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José Eloir Denardin[1]; Gracioso Pignatel Marcon[2]; Antonio Faganello[3]; Jorge Lemainski[4]; Álvaro José Back[5]; Barbara Rodrigues Junqueira[6]; Vando Braz de Oliveira[7]

VERSÃO EM INGLÊS (English text)

Inovações tecnológicas ofertadas aos sistemas agrícolas produtivos, resultantes das incessantes demandas do agro, alicerçadas no relacionamento entre o homem e os recursos naturais, têm disponibilizado ao produtor rural práticas potencialmente eficazes em contribuir para a emergência de sustentabilidade na agricultura. Dentre essas tecnologias, o manejo de solo com Camalhão Alto de Base Larga destaca-se, em pequenos estabelecimentos rurais, no cultivo de modelos de produção que associam a cultura de tabaco (Nicotiana tabacum) a espécies produtoras de grãos e forragem, bem como plantas de cobertura de solo e adubos verdes, envolvendo cereais de inverno, gramíneas de verão e leguminosas, dentre outras espécies. Trata-se de uma inovação tecnológica aplicada ao cultivo de tabaco, fruto de consistentes investimentos da British American Tobacco (BAT Brasil) dirigidos à pesquisa, desenvolvimento e inovação, que propiciaram sua adoção por mais de 90% de seus produtores integrados (BAT BRASIL, 2019).

As técnicas para o seu dimensionamento e construção, bem como as práticas de correção e adubação do solo e de estabelecimento e manejo do tabaco e das espécies vegetais a ele associadas, são descritas em BAT BRASIL (2019).

Essa solução de inovação foi idealizada com o propósito de condicionar fisicamente o solo na linha de plantio, tendo como benefícios esperados a melhoria dos fatores implicados no desenvolvimento do sistema radicular das plantas, na sanidade e produtividade das culturas, na qualidade dos produtos colhidos, na estabilidade da produção ao longo do tempo e na minimização de perdas por erosão. Todos esses benefícios, referentes ao desempenho da cultura do tabaco, já haviam sido comprovados em estudos promovidos pela BAT BRASIL. Porém, sua eficácia em disciplinar o deflúvio de chuvas intensas e minimizar o desencadeamento de processos erosivos ainda eram desconhecidos. Em decorrência, o objetivo da avaliação hidrológica do Camalhão Alto de Base Larga foi avaliar sua eficácia em conter o deflúvio de chuvas intensas máximas esperadas, com períodos de retorno iguais ou superiores a 10 anos.

O estudo transcorreu em nove municípios (três no estado do Rio Grande do Sul, três no estado de Santa Catarina e três no estado do Paraná), em 11 lavouras cultivadas com cereais de inverno, como plantas de cobertura, e tabaco, como cultura comercial, assentadas em três classes de relevo (suave ondulado, ondulado e forte ondulado), 11 tipos de solo, taxonomicamente diferenciados até o quarto nível categórico e de ampla variação textural.

A estimativa do período de retorno da chuva máxima esperada, geradora de deflúvio capaz de ser contido pelos canais configurados entre os Camalhões Altos de Base Larga, foi processada pelo software “Terraço 4.1 - Dimensionamento e manejo de sistemas de conservação de solos e drenagem de superfície” (PRUSKI et al., 2009), modificado para o uso de equações de chuvas intensas (Intensidade-Duração-Frequência - IDF) ajustadas por Sampaio (2011), Back (2013), Damé et al. (2014) e disponibilizadas pessoalmente por Álvaro José Back (Epagri-SC), para cada município contemplado no estudo. A estimativa foi processada para a capacidade plena dos canais configurados entre os Camalhões Altos de Base Larga construídos em nível. A seção dos Camalhões Altos de Base Larga foi avaliada pela técnica do perfilômetro, em dez camalhões de cada lavoura, aos oito meses após a sua construção. A taxa de infiltração de água no solo, foi avaliada no fundo do canal configurado entre os camalhões, mediante emprego do Infiltrômetro de Cornell (OGDEN et al., 1997; VAN ES & SCHINDELBECK, 2003), com cinco a oito repetições, aos quatro e oito meses após a sua construção.

Concluiu-se que o Camalhão Alto de Base Larga, praticado em conformidade às indicações técnicas preconizadas em BAT BRASIL (2019), nas 11 lavouras assentadas em três classes de relevo, 11 solos taxonomicamente diferentes e seis classes texturais, é potencialmente capaz de conter o deflúvio de chuvas intensas, com período de retorno muito superior a 10 anos, oscilando de 253 anos a mais de 10.000 anos, podendo assim ser apregoado, pela ciência da conservação do solo, como prática conservacionista de manejo de solo.

Os resultados inferem que as características e propriedades do Camalhão Alto de Base Larga, ao minimizarem riscos de erosão hídrica e ao satisfazerem limitações da fertilidade do solo, atendem aos critérios impostos pelo Grupo A, do Sistema de Classificação de Capacidade de Uso do Solo, facultando o cultivo de espécies anuais, em extensões restritas de terra da Classe IV, até mesmo com relevo forte ondulado (LEPSCH et al., 1991). Portanto, a adoção do Camalhão Alto de Base Larga no cultivo de tabaco reúne aptidão e potencial para imprimir caráter de sustentabilidade à agricultura praticada em estratos fundiários de pequenas dimensões, assentados, em expressiva proporção, em terras com relevo forte ondulado.

Referências

BACK, A. J. Chuvas intensas e chuva para dimensionamento de estruturas de drenagem para o Estado de Santa Catarina (com programa hidrochuSC para cálculos). Florianópolis. Epagri. 2013. 193p.

BAT BRASIL. Recomendações técnicas para a cultura dos tabacos estufa e galpão. Safra 2019. Não publicado e disponível internamente para colaboradores da Souza Cruz. (Pacote Tecnológico).

DAMÉ, R. de C. F.; TEIXEIRA-GANDRA, C. F. A.; VILLELA, F. A.; SANTOS, J. P. dos; WINKLER, A. S. Analysis of the relationship intensity, duration, frequency of disaggregated daily rainfall in southern Rio Grande do Sul, Brazil. Engenharia Agrícola, v. 34. n. 4. p. 660-670, July/Aug. 2014. Doi: https://doi.org/10.1590/S0100-69162014000400006

LEPSCH, I. F.; BELLINAZZI JR., R.; BERTOLINI, D.; ESPÍNDOLA, C. R. Manual para levantamento utilitário do meio físico e classificação de terras no sistema de capacidade de uso. 4 aprox., 2 imp. rev. Campinas: SBCS, 1991, 175p.

OGDEN, C. B.; VAN ES, H. M.; SCHINDELBECK, R. R. Miniature rain simulator for field measurement of soil infiltration. Soil Science Society of America Journal, v. 61, n. 4, p.1041-1043, July 1997. Doi: https://doi.org/10.2136/sssaj1997.03615995006100040008x.

PRUSKI, F. F.; MOREIRA, G. T. G.; SILVA, J. M. A. da; FERREIRA, C. de P.; MOREIRA, M. C. de O.; GRIEBELER, N. P.; ANDRADE, M. V. A.; TEIXEIRA, A. de F. Terraço 4.1: práticas mecânicas para a conservação do solo e água em áreas agrícolas. Viçosa: AEAGRI-MG, 2009. 88p.

SAMPAIO, M. V. Determinação e espacialização das equações de chuvas intensas em bacias hidrográficas do Rio Grande do Sul. 2011. (Tese de Doutorado em Engenharia Agrícola). Universidade Federal de Santa Maria, Centro de Ciências Rurais, Programa de Pós-graduação em Engenharia Agrícola, Santa Maria, 2011.

VAN ES, H. M.; SCHINDELBECK, R. Field procedures and data analysis for the cornell sprinkle infiltrometer. Ithaca, NY: Cornell University, Department of Crop and Soil Sciences Series R03-01, 2003. 8 p.

Autores

[1] Engenheiro-agrônomo, Dr. em Agronomia / Solos e Nutrição de Plantas, pesquisador da Embrapa Trigo, Passo Fundo, RS.

[2] Técnico-agropecuário, Especialista em Manejo de Solo, pesquisador aposentado da Souza Cruz, Rua Argentina, 38, Vila Moema,

88705-340 Tubarão, SC.

[3] Engenheiro-mecânico, M.Sc. em Engenharia Agrícola, pesquisador aposentado da Embrapa Trigo, Passo Fundo, RS.

[4] Engenheiro-agrônomo, M.Sc. em Ciências Agrárias / Gestão de Solo e Água, analista da Embrapa Trigo, Passo Fundo, RS.

[5] Engenheiro-agrônomo, D.Sc. em Engenharia, pesquisador da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina - Epagri, Rua Presidente Vargas, 116, 88840-000 Urussanga, SC.

[6] Engenheira-agrônoma, M.Sc. em Agronomia / Entomologia Agrícola, pesquisadora científica da Souza Cruz, Rodovia BR 471, km 132,4, Distrito Industrial, 96835-642 Santa Cruz do Sul, RS.

[7] Técnico Agrícola, Bacharel em Administração, Especialista em Manejo de Solo e Nutrição de Plantas, Gerente Global de Melhoramento e Agronomia na Souza Cruz, Avenida General Plínio Tourinho, 3200, Bairro Bom Jesus, 83880-000 Rio Negro, PR.

Joseani Antunes (MTb 9693/RS)
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