Estudo apresenta sistema para avaliar boas práticas de manejo na criação de tilápia em tanques-rede
Estudo apresenta sistema para avaliar boas práticas de manejo na criação de tilápia em tanques-rede
O sistema APOIA-Aquicultura se mostrou eficaz como ferramenta analítica para gestão do manejo produtivo e ambiental da criação
Um trabalho publicado por pesquisadores da Embrapa e da Universidade Estadual Paulista (Unesp Rio Claro, SP), no conceituado periódico internacional "Aquaculture", apresentou um novo sistema de indicadores para avaliar a aplicação de Boas Práticas de Manejo (BPM) para criação de tilápias em tanques-rede, o APOIA-Aquicultura.
No estudo Indicadores para avaliação de boas práticas de manejo em criações de tilápia em tanques-rede, os autores delinearam a estrutura e operação do novo sistema, bem como demonstraram a viabilidade analítica do APOIA-Aquicultura para realizar a avaliação de desempenho ambiental e produtivo, com base na análise de seis empreendimentos de diferentes tipologias, em contextos socioambientais contrastantes, nos reservatórios de Furnas (MG) e Ilha Solteira (SP), locais de relevante produção de peixes no Sudeste do Brasil.
O sistema APOIA-Aquicultura proposto na pesquisa, compreende 68 indicadores integrados, agrupados em um conjunto de quatro dimensões gerenciais, quais sejam, organização espacial com 22 indicadores, manejo e nutrição com 23, qualidade da água com 14 e qualidade dos sedimentos, com nove indicadores. Estes indicadores foram elaborados para expressar a conformidade dos empreendimentos de piscicultura com padrões ambientais predefinidos, requisitos de legislação selecionados e eficácia das Boas Práticas de Manejo.
Os resultados das avaliações das áreas produtivas estudadas apontaram deficiências comuns entre os indicadores da dimensão Organização Espacial, relacionados à carência de equipamentos para monitoramento da qualidade da água, posicionamento dos tanques-rede, inadequadas condições de armazenamento de ração, suplementos e insumos, deficiência no monitoramento de sintomas aparentes ou comportamentais de doenças, falta de registros apropriados do uso de produtos terapêuticos e profiláticos, e conflitos eventuais relacionados a usos múltiplos da água.
Quanto à dimensão Gestão e Nutrição os indicadores apontaram ausência de acompanhamento biométrico, de destinação de resíduos, e de controle e registro de perdas (fugas e mortalidade) de peixes. De maneira geral, o estudo apontou interações entre indicadores da dimensão Manejo e Nutrição e consequências na Qualidade da Água e Sedimentos, em decorrência da falta de rotinas alimentares eficientes. Jorge Portinho do Departamento de Biodiversidade da Universidade Estadual Paulista (Unesp) afirma que os produtores precisam ter um olhar “ecológico” para os tanques-rede, porque é a qualidade do sedimento e da água local que influencia na sobrevivência e desenvolvimento dos peixes, e consequentemente no sucesso da produção de tilápias.
“Nesse sentido, o APOIA-Aquicultura identifica pontos críticos, e posteriormente propõe melhorias para os produtores, por meio de relatórios finais, reuniões e treinamentos técnicos sobre coleta, análise e interpretação de dados de qualidade do sedimento e da água”.
Conforme explicou o pesquisador da Embrapa Meio Ambiente Júlio Queiroz, o APOIA-Aquicultura se destaca como um ótimo sistema para monitoramento e gestão ambiental da produção de peixes em tanques-rede. A sua aplicação permite identificar de uma maneira rápida e eficiente os aspectos mais relevantes do manejo produtivo e ambiental que precisam ser aprimorados, além de apontar com clareza quais são as BPM que os piscicultores devem adotar para melhorar a produtividade e a rentabilidade dos seus respectivos sistemas de produção.
Com base nos resultados, o trabalho demonstrou a eficácia do APOIA-Aquicultura como uma ferramenta analítica que preenche as condições necessárias para indicação das BPM mais adequadas para a criação de tilápias em tanques-rede, conforme as características intrínsecas de cada um dos empreendimentos avaliados.
Geraldo Stachetti Rodrigues, pesquisador da Embrapa e coautor do trabalho, explica que o APOIA-Aquicultura, ao reunir um conjunto integrado de informações e indicadores, facilita a adoção de medidas que impulsionam melhorias na infraestrutura específica, e ações de monitoramento condizentes com BPM apropriadas, visando aprimorar a sustentabilidade das áreas de produção.
Stachetti lembra, contudo, que há limitações nos indicadores APOIA-Aquicultura, uma vez que não se propõe uma alternativa aos métodos clássicos de monitoramento, busca-se uma ferramenta analítica, que evidencie o valor dos esforços de diagnóstico. “É fundamental analisar os parâmetros ambientais, tanto para entender a qualidade dos recursos produtivos, quanto para minimizar os riscos e promover a eficiência na utilização dos insumos, em favor de uma produção rentável e sustentável”.
Entenda: Boas práticas de manejo
As boas práticas de manejo para a aquicultura (BPMs) são procedimentos que devem ser adotados durante todo o processo produtivo, visando assegurar eficiência e, ao mesmo tempo, eliminar impactos ambientais negativos, seja pelo acúmulo de nutrientes e de matéria orgânica na proximidade das áreas de produção de peixes em tanques-rede e no fundo dos reservatórios e, sobretudo, de alterações na qualidade da água.
Nesse contexto, a adoção das BPMs visa ao uso eficiente dos recursos disponíveis em barragens primariamente construídas para aproveitamento hidroelétrico, permitindo maximizar a produção de alimentos de qualidade superior, além de minimizar impactos ambientais. A adoção sistemática, documentação e aprimoramento de BPMs favorecem a produção aquícola sustentável, em favor da segurança alimentar e da conservação dos recursos pesqueiros naturais.
Autores
O trabalho “Integrated indicators for assessment of best management practices in tilapia cage farming” tem como autores os pesquisadores Jorge Laço Portinho do Departamento de Biodiversidade, Universidade Estadual Paulista (Unesp); Inácio de Barros da Embrapa Gado de Leite e os pesquisadores da Embrapa Meio Ambiente Mariana Silveira Guerra e Silva, Júlio Ferraz de Queiroz , Ana Campos Gomes, Marcos Eliseu Losekann, Andrea Koga Vicente, Luciana Spinelli Araujo, Luiz Eduardo Vicente e Geraldo Stachetti Rodrigues. Acesse aqui.
Marcos Vicente (MTbE 19.027/MG)
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