Artigo: Condições climáticas de outono/inverno 2021 e reflexos no manejo de indução da brotação da macieira
Artigo: Condições climáticas de outono/inverno 2021 e reflexos no manejo de indução da brotação da macieira
Fernando J. Hawerroth1 e Gilmar R. Nachtigall 2
1Pesquisador em Fitotecnia - Embrapa Uva e Vinho - Vacaria, RS. - fernando.hawerroth@embrapa.br
2 Pesquisador em Nutrição de Plantas - Embrapa Uva e Vinho - Vacaria, RS. - gilmar.nachtigall@embrapa.br
As condições climáticas são determinantes na dinâmica de crescimento e resposta produtiva das plantas. As frutíferas de clima temperado, como a macieira, apresentam o fenômeno da dormência de gemas, que permite a sobrevivência das plantas em períodos com condições climáticas desfavoráveis ao seu crescimento. A ocorrência de baixas temperaturas no período de outono e inverno é fundamental para que a macieira apresente níveis de brotação e florescimento adequados na primavera, visando garantir elevada produção de frutas. No entanto, tais condições nem sempre são atendidas nas principais regiões produtoras de maçã no Sul do Brasil, demandando manejo de indução de brotação para viabilizar economicamente a produção.
Em razão da expressiva influência das condições climáticas sobre a resposta produtiva da macieira, é fundamental a quantificação do regime de temperaturas ao longo da safra nas regiões de cultivo, para auxiliar na tomada de decisão para a realização do manejo do pomar. Por essa razão, a Embrapa Uva e Vinho elabora os Boletins Agroclimáticos dos Campos de Cima da Serra com as principais informações climatológicas para cada período do desenvolvimento vegetativo da macieira, para as localidades de Vacaria, Bom Jesus, Lagoa Vermelha e Caxias do Sul no RS, onde se concentram a maior parte dos pomares de macieira no Estado do Rio Grande do Sul.
Condições climáticas do período de outono/inverno de 2021
O período de outono/inverno de 2021, envolvendo os meses de abril a julho, foi caracterizado pelo maior acúmulo em frio do que a média histórica regional. O início da ocorrência de temperatura igual ou abaixo de 7,2ºC ocorreu a partir do final de abril de 2021, após período de restrição hídrica evidenciada ao longo do ciclo produtivo 2020/2021. Foram observadas reduções nas temperaturas médias mensais de maio e junho para os municípios de Bom Jesus, Vacaria, Lagoa Vermelha e Caxias do Sul, quando comparado aos anos de 2019 e 2020. A primeira quinzena do mês de julho de 2021 foi marcada por temperaturas mais elevadas, mas a partir da segunda quinzena a ocorrência de baixas temperaturas foi significativa, culminando com o registro das temperaturas mais baixas ocorridas no inverno de 2021, principalmente na última semana do mês de julho incluindo a incidência de neve nos Campos de Cima da Serra (Figura 1).
Figura 1. Ocorrência de neve em pomar de macieira no município de Vacaria, RS (29/07/2021). Foto: Fernando José Hawerroth
|
Em 2021 foram contabilizadas 718 e 594 horas de frio com temperatura igual ou inferior a 7,2°C (HF≤7,2°C), entre os meses de abril e julho de 2021, nos municípios de Bom Jesus e Vacaria, respectivamente (Figura 2). No mesmo período foi contabilizado o acúmulo de 381 e 446 HF≤7,2°C para os municípios de Lagoa Vermelha e Caxias do Sul, respectivamente (Figura 2). O acúmulo de HF≤7,2°C até o mês de julho de 2021 foi significativamente superior ao ocorrido em 2019 e 2020 para todos os municípios avaliados. Destaca-se que em 2021 o quantitativo de HF≤7,2°C foi aproximadamente 20% superior ao valor médio registrado em 2020 no mesmo período para a região dos Campos de Cima da Serra do RS.
Utilizando o modelo Carolina do Norte Modificado (Ebert et al., 1986), o acúmulo em unidades de frio (UF), para o município de Bom Jesus/RS, no ano de 2021, entre abril e julho, foi de 994 UF (Figura 3). Em Vacaria, foram quantificadas 1.078 UF em 2021, enquanto que em Lagoa Vermelha e Caxias do Sul foram contabilizadas 823 e 920 UF, respectivamente. Destaca-se que, nos quatro municípios avaliados, o quantitativo de unidades de frio acumuladas, até o fim de julho de 2021, foi superior ao valor médio histórico para a região (Figura 3).
Reflexo das condições climáticas no manejo inicial do pomar de macieira
O período de outono/inverno de 2021, envolvendo os meses de abril a julho, foi caracterizado pelo maior acúmulo em frio do que a média histórica e superior ao observado nos últimos dois ciclos produtivos (2019 e 2020). Além do maior acúmulo em frio observado em 2021, a regularidade das baixas temperaturas ao longo período de outono/inverno, determinou senescência e abscisão de folhas das macieiras de maneira uniforme, além de proporcionar maior nível de amadurecimento dos ramos do que observado na média dos anos para as regiões de cultivo.
O prognóstico climático para o mês de agosto indica períodos com temperaturas mínimas e máximas mais altas, com possibilidade de redução de temperatura ao final do mês. O escalonamento das aplicações de indutores de brotação poderá ser implementado, no intuito de escalonar a colheita, sobretudo de macieiras ‘Gala’. As aplicações antecipadas devem ser direcionadas em pomares mais equilibrados em vigor, sendo indicado que as aplicações sejam realizadas nos períodos em que, nos dias posteriores a aplicação, tenham expectativas de temperaturas mínimas diárias superiores a 10ºC e as temperaturas máximas diárias superiores a 20ºC, com o objetivo de aumentar o nível de resposta a essa prática cultural. A utilização de aplicações sequenciais de indutores de brotação deve ser preconizada em pomares de macieira direcionados a aplicação antecipada, assim como em pomares com gradiente diferenciado de vigor ao longo do perfil da copa das plantas. Contudo, é importante avaliar adequadamente o risco de ocorrência de geadas tardias para cada pomar, direcionando as aplicações para antecipação de brotação, para as localidades de menor risco.
Salienta-se que pelas características do período de outono/inverno de 2021, são esperados níveis de brotação de gemas laterais e terminais acima da média dos anos. Dessa forma, é importante estar atento às concentrações utilizadas dos indutores de brotação, de modo que não promovam uma brotação e florescimento muito concentrados, o que pode não ser favorável a obtenção de níveis satisfatórios de frutificação efetiva. Atenção especial deve ser dada a pomares de macieiras ‘Fuji’ com elevada produtividade no ciclo passado e com atraso na colheita, pois os níveis de fertilidade de gemas podem ser mais baixos do que a média, indicando possibilidade de alternância de produção e reduzido nível de florescimento para polinização de macieiras ‘Gala’.
O atraso da época de aplicação dos indutores de brotação deve ser acompanhado da redução das concentrações aplicadas, visando evitar concentrar demasiadamente o florescimento. Pela qualidade do período de outono/inverno de 2021, é esperada reduzida diferenciação fenológica entre as regiões de cultivo, sendo esperada redução da duração do período de florescimento em relação à média dos anos. Ressalta-se a importância de que a definição do manejo de indutores de brotação leve em consideração as particularidades de cada pomar. Nos pomares adultos, o nível de demanda dos indutores de brotação será menor em relação à média dos anos, no intuito de obtenção de uniformidade e bons níveis de frutificação efetiva. Para os pomares em formação (plantios a partir de 2017), o ano de 2021 constitui uma grande oportunidade para correção de brotação das plantas, em razão do menor acúmulo em frio observado nos invernos anteriores e pela restrição de crescimento proporcionada pelo estresse hídrico evidenciado nos últimos dois ciclos produtivos.
Clique aqui e confira a edição de Julho do Boletim Agroclimático.
Referências
EBERT, A.; PETRI, J. L.; BENDER, R. J.; BRAGA, H. J. First experiences with chill units models is southern Brazil. Acta Horticultural, Hague, v. 184, p. 89-96, 1986.
Embrapa Uva e Vinho
Mais informações sobre o tema
Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC)
www.embrapa.br/fale-conosco/sac/