17/09/21 |   Produção animal  Produção vegetal

Parceria para ampliar o uso da cevada na alimentação animal

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Foto: Joseani Antunes

Joseani Antunes - Grupo que participou da visita ao Campo Experimental da Cotripal

Grupo que participou da visita ao Campo Experimental da Cotripal

O desenvolvimento de cultivares de cevada destinadas ao forrageamento animal é o objetivo da parceria da Cotripal com a Embrapa Trigo. O grupo envolvido no projeto esteve visitando lavouras e experimentos no dia 03 de setembro, em Condor, RS. 

No cenário mundial, 70% da produção de cevada é destinada à alimentação animal. No Brasil, o melhoramento genético sempre esteve voltado à produção de cevada cervejeira, mas o trabalho de otimização do uso do inverno na Região Sul abre novas oportunidades para o uso do cereal. “Historicamente, a produção brasileira de cevada esteve orientada pelos parâmetros de qualidade exigidos pela indústria cervejeira, como baixo teor de proteínas e grãos com 95% de germinação. Quando os grãos não atingem o padrão para malteação, acabam destinados à alimentação animal, com remuneração de, aproximadamente, 50% do valor da cevada com padrão cervejeiro. Agora estamos abrindo novas oportunidades para o produtor”, explica o pesquisador da Embrapa Trigo, Aloisio Vilarinho. 

A indústria cervejeira precisa de cevada com um teor mínimo de 9,5% e um máximo de 12% de proteína bruta para poder fazer malte com qualidade que atende o mercado. Em caminho oposto, na alimentação animal a proteína é fundamental. “Na parceria que temos com a Ambev no programa de melhoramento de cevada cervejeira, muitos materiais acabam descartados pelo superior teor de proteínas. Agora, estamos resgatando cultivares com mais proteína e avaliando o uso na alimentação animal, tanto em forragem quanto na composição de ração”, destaca o chefe-geral da Embrapa Trigo, Jorge Lemainski. 

Parceria no campo 

No Campo Experimental da Cotripal, em Condor, RS, estão sendo avaliados cereais de inverno como trigo, cevada, centeio e aveia, em diferentes épocas de cultivo, visando uso em pastejo, silagem, produção de grãos e formação de palha na pós-colheita. “O que mais chamou a atenção foi a cevada, com excelente perfilhamento e bom potencial para silagem. Vamos avaliar também a qualidade da cevada no leite e na carne, mas a expectativa é garantir oferta de sementes aos nossos cooperados já na próxima safra”, conta o gerente do Departamento Técnico da Cotripal, Denio Oerlecke. 

De acordo com o chefe de Transferência de Tecnologia da Embrapa Trigo, Giovani Faé, na Cotripal estão sendo avaliadas as cultivares de cevada BRS Korbel e BRS Quaranta, com a multiplicação de 46 hectares de semente básica. “Em 115 dias, a cevada está pronta para fazer silagem, num volume de 4,5 toneladas de matéria-seca por hectare. Alimento suficiente para produzir 30 quilos de leite por vaca/dia. Sem dúvidas um bom resultado”, avalia Faé.

Um dos produtores que está fazendo a multiplicação de sementes é Davi Keller, com 28 hectares de BRS Korbel semeados no mês de julho. “Sempre cultivamos cevada cervejeira, mas vejo que a cevada forrageira tem um perfilhamento melhor e aguentou mais os efeitos das geadas”, conta Keller. Ele também avaliou que a sanidade da cultivar, resistente ao oídio, ajudou a reduzir custos de produção. “A lavoura está sendo conduzida para a produção de sementes da cooperativa, mas logo quero experimentar para o uso na silagem”, afirma o produtor. 

Na alimentação animal, a cevada tem retorno na conversão similar ao milho, cerca de 10% inferior em energia, mas superior em proteína. A cevada também pode ofertar maior teor de fibras, desejável para compor rações para diferentes classes animais. A orientação do pesquisador Luis Keplin, parceiro da Cotripal, é misturar a silagem de cevada com a silagem de milho, aproveitando também os equipamentos para preparo da forragem tanto no inverno como no verão. “Ao contrário das pastagens perenes, existe muita informação sobre os cereais de inverno, com agroquímicos registrados e tradição do produtor. Precisamos só ajustar as épocas de cultivo para o melhor retorno em carne, leite e grãos”, diz Keplin. 

“Estamos aprimorando esse olhar para otimizar não apenas o inverno, mas também o outono, com oferta de alimento e renda durante todo o ano no campo. Esses experimentos, em diversos locais, são fundamentais para extrair informações e aplicar os conhecimentos no campo de forma segura e eficiente”, relata o gerente de pesquisa e tecnologia da CCGL Geomar Corassa. 

Na Cotripal, a cevada deverá fazer parte do forrageamento do gado e na composição de rações. Em 2020, a cooperativa contabilizou 17 milhões de litros de leite, além do abate de 9 milhões de cabeças de bovinos e 35 mil suínos. O Presidente da Cotripal, Germano Döwich aposta nos cereais de inverno: “Queremos antecipar a oferta de forragens para promover o melhor aproveitamento da propriedade, ocupando o espaço entre a soja e o milho, com oferta de alimento tanto para abastecer a cooperativa como para comercializar o excedente no mercado”. 

Pesquisa em movimento 

Na Embrapa Suínos e Aves, a cevada está sendo avaliada na alimentação de suínos. Resultados de pesquisa mostram que a inclusão de até 80% de cevada em substituição ao milho não causou diferenças no desempenho dos animais, desde que os níveis de energia digestível fossem mantidos. A cevada pode ser usada em até 10% para a fase inicial e livremente para as demais fases, levando-se em conta o teor máximo de fibra e os valores nutricionais exigidos. 

Na produção leiteira, 1 kg de matéria-seca de silagem de cevada pode resultar em 1,2 kg de leite. Quanto ao valor nutritivo, a silagem de cevada tem se mostrado superior em concentração de proteína bruta, digestibilidade e valor relativo da forragem.

Na Embrapa Trigo estão em desenvolvimento novas cultivares de cevada destinadas à alimentação animal. Além de duas cultivares para cultivo no inverno, com ciclo em torno de 130 dias, previstas para chegarem à multiplicação de sementes em 2023, também está sendo desenvolvida uma cultivar de cevada de ciclo ultraprecoce, com cerca de 90 dias até a maturação fisiológica, capaz de suprir o vazio forrageiro outonal na Região Sul. “Nossos estudos indicam que esse material poderá ser semeado imediatamente após a colheita da soja, possibilitando o plantio entre a cultura de verão e a de inverno, viabilizando três safras em um ano”, conclui o responsável pela transferência de tecnologia Giovani Faé.

Colaboração Mileni Portella, jornalista da Cotripal

Joseani Antunes (MTb 9693/RS)
Embrapa Trigo

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