29 de setembro é o Dia internacional de conscientização sobre perdas e desperdício de alimentos, data estabelecida pelas Nações Unidas em 2019 para chamar a atenção a um dos problemas globais mais urgentes. Estima-se que cerca de 14% dos alimentos produzidos no mundo sejam perdidos antes de chegar ao varejo, enquanto outros 17% dos alimentos disponíveis aos consumidores são desperdiçados, segundo dados recentes da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e da ONU Meio Ambiente, que lideram esforços para a erradicação da fome e combate à pobreza. Devido à natureza complexa do fornecimento de alimentos, propor ações para reduzir o desperdício de alimentos é um grande desafio para pesquisadores e profissionais. Esse debate está presente na edição especial da RAE-Revista de Administração de Empresas, publicação científica editada pela Fundação Getulio Vargas, com artigos do fórum organizado pelos editores convidados Luciana Vieira (FGV EAESP, Brasil), Marcia Barcellos (UFRGS, Brasil), Gustavo Porpino (Embrapa Alimentos e Territórios, Brasil), Mattias Eriksson (SLU, Suécia), Manoj Dora (Brunel University, Reino Unido) e Daniele Eckert Matzembacher (UFRGS, Brasil). Os artigos do Fórum “Desperdícios de alimentos: desafios e oportunidades em operações sustentáveis” estão disponíveis no site da RAE: www.fgv.br/rae. Os editores destacam que reduzir e prevenir o desperdício de alimentos atende aos objetivos da Agenda 2030 da ONU, uma vez que o Objetivo 12.3 visa reduzir pela metade a perda e o desperdício de alimentos nas cadeias de abastecimento até 2030. A Agenda 2030 é um plano de ação para as pessoas, o planeta e a prosperidade, que busca fortalecer a paz universal e indica 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), e 169 metas, para erradicar a pobreza e promover vida digna para todos, dentro dos limites do planeta. Segundo os editores, “reduzir e prevenir o desperdício de alimentos é importante, pois as externalidades negativas ocorrem ao longo de todo o ciclo de vida dos alimentos e exercem um impacto adverso na sociedade”. Eles apontam que existem pelo menos três impactos principais: econômicos, ambientais e sociais. Economicamente, os recursos utilizados na produção são desperdiçados, como terra, água, mão de obra, energia, entre outros, e há perda de lucratividade. Ambientalmente, essa dinâmica leva a emissões desnecessárias de CO2 e poluição do ar, causadas principalmente por alimentos descartados em aterros sanitários ou incinerados, e as terras aráveis e máquinas envolvidas na produção e transporte de alimentos são inutilmente ocupadas. Do ponto de vista social e ético, a perda e o desperdício de alimentos colocam em risco as oportunidades de combate à inse gurança alimentar, com a redução do acesso aos alimentos resultante da diminuição da disponibilidade, o que acarreta a elevação dos preços, explicam. A Covid-19 aumentou a urgência no combate ao desperdício de alimentos, especialmente a redistribuição de alimentos para as pessoas vulneráveis afetadas por pandemias. De acordo com os pesquisadores, o efeito da pandemia sobre o desperdício de alimentos dependerá de quanto tempo ela durará e do impacto que terá na economia global, nas cadeias de suprimento agroalimentares e nas famílias, bem como nas medidas que estão sendo adotadas por autoridades locais, regionais e nacionais e na gestão global da pandemia. “Acreditamos que este Fórum Especial, idealizado antes de a Covid-19 mudar nossas vidas, seja importante como leitura e como oportunidade de aprendizado para todos nós, enquanto consumidores, cidadãos e pesquisadores”, afirmam os editores.