Pesquisadores encontram no Brasil doença transmitida pelo besouro do eucalipto
Pesquisadores encontram no Brasil doença transmitida pelo besouro do eucalipto
Pesquisadores da Unesp, Embrapa e Agricultural Research Service, National Center for Agricultural Utilization Research (USDA), relataram a ocorrência de microsporídios, agentes infecciosos conhecidos por causar microsporidiose no gorgulho do eucalipto (Gonipterus platensis), em plantações comerciais de eucaliptos.
O estudo inédito confirmou a presença do microrganismo em duas espécies do besouro presentes no Brasil, G. platensis e G. pulverulentus. Foi verificado que a prevalência da infecção natural causada pelo patógeno nos insetos coletados em 14 plantações, variou de 0 a 65%, indicando que está se espalhando pelo País. Em uma colônia do inseto mantida em condições de laboratório, foi detectada uma porcentagem de 70% de infecção.
Conforme os pesquisadores, o gorgulho do eucalipto é atualmente uma das principais pragas desta cultura no Brasil. Nativa da Austrália, o inseto possui alto potencial destrutivo, pois adultos e larvas se alimentam principalmente de folhas jovens, com distribuição nas regiões Sul e Sudeste. Em estudo realizado em Portugal, a desfolha por essa praga resultou em perdas de madeira no valor de 648 milhões de euros nos últimos vinte anos.
De acordo com Carolina Jordan da Unesp, “infecções por microsporídios já foram documentadas em outros gorgulhos, bem como em outros besouros, sendo esse patógeno fúngico comum e com grande potencial de infecção em diversas espécies de besouros”.
Indivíduos adultos do gorgulho do eucalipto coletados em três estados brasileiros, SP, PR e RS, foram diagnosticados com a doença microsporidiose associada à presença do patógeno nos insetos. O microsporídio é um parasita intracelular obrigatório e, por isso, necessita do seu hospedeiro vivo para se multiplicar e completar seu ciclo.
“Em geral, o papel dos microsporídios como patógenos de insetos exige que consideremos seus efeitos ecológicos ao desenvolver um programa de controle biológico de pragas”, explica o analista da Embrapa Meio Ambiente Gabriel Mascarin. Esse grupo de patógenos pode causar uma doença crônica, que é debilitante para o hospedeiro. Além disso, a transmissão dos microsporídios ocorre por um ou mais meios, incluindo a ingestão de esporos presentes no ambiente, e a transmissão vertical dos pais para a prole, o que facilita sua multiplicação e persistência na população do hospedeiro.
Essa alta transmissibilidade de microsporídios na população hospedeira juntamente com a baixa letalidade são fundamentais para sua prevalência enzoótica e de longo prazo, o que pode não ser uma característica adequada para um agente de controle biológico aplicado, mas pode ser desejável para uma estratégia de controle biológico conservacionista ou clássica. "Além disso, esclarece Jordan, observamos que besouros de G. platensis sintomáticos em condições de laboratório apresentam menor longevidade e as fêmeas param de ovipositar, isto é, tem sua fecundidade prejudicada, em comparação com besouros saudáveis".
Devido à sua baixa virulência, os microsporídios agem lentamente levando o hospedeiro à morte e são provavelmente insuficientes para controlar uma praga, quando usados isoladamente. Porém, quando usados em combinação com outro tipo de inseticida, seja químico ou biológico, revela enorme potencial e tende a ser o mais bem-sucedido.
A equipe considera que esses conhecimentos fornecem informações relevantes sobre a ocorrência natural deste novo patógeno desta praga invasora em plantações de eucalipto no Brasil. No entanto, são necessárias pesquisas para conhecer melhor o espectro de hospedeiros desta nova microsporidiose para diferentes espécies de Gonipterus, bem como para besouros nativos não-alvos no Brasil, especialmente no que diz respeito a besouros predadores, com o intuito de definir se este patógeno pode ser uma ameaça aos besouros benéficos ou um aliado no combate de besouros-pragas.
Em síntese, enfatiza Jordan, a pesquisa aponta para uma provável espécie nova desse patógeno, subsidiando novos estudos sobre sua biologia e distribuição, bem como identificando seu potencial como fator positivo ou negativo em programas de proteção florestal contra Gonipterus spp. em plantações de eucalipto no Brasil. Aliado a isso, são necessários mais estudos para determinar o potencial deste microsporídio no desenho de programas de controle biológico conservacionista ou aumentativo desta praga invasora.
Cristina Tordin (MTb 28.499/SP)
Embrapa Meio Ambiente
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