Fiandeiras ajudam a conservar variedades tradicionais de algodão
Fiandeiras ajudam a conservar variedades tradicionais de algodão
Um encontro tradicional de fiandeiras em Goiás, realizado no final de outubro, no município de Guaraita, chamou a atenção da pesquisadora da Embrapa Algodão Lucia Hoffmann e da estudante de mestrado Kálita Cardoso. Ambas desenvolvem pesquisas sobre a conservação de espécies de algodão e viram nas reuniões de mulheres para fiar, muito comuns no estado, uma oportunidade para levantar informações importantes para seus trabalhos.
"Entrevistar artesãos e identificar cultivares tradicionais de algodão que são utilizados como matéria-prima é uma das atividades da Embrapa, com os objetivos de recuperar, avaliar e conservar as variedades e sementes nativas, tradicionais ou crioulas, brancas e coloridas, de algodão sul-americano”, explica Lucia Hoffmann.
“Ao resgatar a biodiversidade, esperamos também favorecer o resgate da cultura associada ao plantio de algodão. Além disso, queremos entender como a renda dos artesãos relaciona-se a manutenção de cultivares tradicionais in situ (no local). Este projeto tem uma relevância na área social e na área da botânica”, acrescenta Kálita.
Para entender a importância da fiação e tecelagem manuais na renda e vida dessas mulheres, a estudante Kálita Cardoso, que desenvolve sua dissertação na Embrapa, acompanhou o encontro realizado pela Prefeitura com o objetivo de proporcionar um resgate cultural do município e a valoração das artesãs veteranas residentes na cidade e na zona rural. “O evento onde as fiandeiras se reúnem para realizar o mutirão começou por volta de 1996, onde várias mulheres já se reuniam em uma residência específica e juntas faziam a colheita manual do algodão, descaroçavam, passavam pelo arco para tirar os ciscos, cardavam, fiavam e teciam os fios transformando em tecidos para fazer roupas, cobertas e tapetes para o próprio uso e para vender”, conta Kálita.
As entrevistas com as artesãs foram realizadas para obter informações sobre a conservação das sementes. “Elas nos relataram que fazem a seleção de sementes afim de obter uma fibra de boa qualidade para realizar a fiação e também conservam as plantas em seus quintais e jardins para uso medicinal das folhas do algodoeiro”, diz a mestranda.
Foram entrevistadas seis fiandeiras, que recebem em média cerca de R$250,00 pelos fios. Algumas realizam também a tecelagem manual. Todas mantêm plantas de algodão para obter matéria-prima para o artesanato (fios, tapetes, cobertas).
Pelos dados obtidos na entrevista, a pesquisadora da Embrapa Algodão descobriu que as plantas mantidas pelas fiandeiras são da espécie Gossypium barbadense. “Ele pode ser fonte de importantes genes para a qualidade da fibra e utilizados em cruzamentos e seleção no melhoramento, além de ter propriedades medicinais”, afirma Hoffmann.
Ela conta que esse algodão teve introdução pré-colombiana no Brasil. “Todos têm sementes grudadas e portanto todos são da espécie Gossypium barbadense. Esse algodão que parece BRS Safira e BRS Rubi, na verdade, não é variedade da Embrapa. É algodão convencional mantido por plantio pela população brasileira há quinhentos anos. A espécie era cultivada por indígenas antes da chegada dos colonizadores, e foi cultivada no litoral nordestino para atender a demanda da indústria têxtil inglesa por ocasião da revolução industrial”, relata.
“Em entrevista preliminar em Itapuranga, GO, município próximo a Guaraita, foi possível manutenção in situ do algodoeiro Gossypium barbadense para a fiação manual, com relato de melhor qualidade da fibra para a execução do trabalho de fiação. Os relatos sugerem também a importância cultural, social e econômica”, afirma.
O principal algodão cultivado comercialmente pertence à espécie Gossypium hirsutum var latifolium, cujo centro de origem é o México e América Central. Foi domesticado no México e lá cultivado, e selecionado nos Estados Unidos. O Gossypium barbadense tem como centro de origem o Peru e Equador, tendo no Brasil um centro de distribuição da espécie. Ele é amplamente distribuído no país, em praticamente todos os estados brasileiros.
Conservação de espécies para variedade genética
A conservação de variedades de algodão para fins de pesquisa é realizada por meio da manutenção de sementes em câmeras frias, em bancos de germoplasma ou ainda pelo mapeamento e acompanhamento das variedades tradicionais a campo em seus ecossistemas naturais (conservação in situ). Os bancos de germoplasma funcionam como um reservatório de genes e são fundamentais para instituições de pesquisa que trabalham com melhoramento de plantas. Já a conservação a campo visa garantir a maior variabilidade genética possível, bem como, a evolução de espécies ao longo do tempo, de acordo com as mudanças ambientais.
Edna Santos (MTB/CE 1700)
Embrapa Algodão
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