28/10/15 |   Recursos naturais

Pesquisadores debatem uso e governança do solo

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Foto: Liliane Bello

Liliane Bello - Pesquisadora Maria de Lourdes Brefin, da Embrapa Solos, fala sobre governança de solos no Brasil e o papel do ITPS

Pesquisadora Maria de Lourdes Brefin, da Embrapa Solos, fala sobre governança de solos no Brasil e o papel do ITPS

Todos os dias nós pisamos sobre ele, como ato instintivo e impensado, sem nem percebermos sua real importância para a vida. Mas fato é que 95% dos alimentos que consumimos dependem do solo, o que torna esse recurso ainda mais precioso do que se possa imaginar. É sobre ele que construímos nossas casas, que caminhamos e que produzimos os mais diversos tipos de insumos. Mas 33% dos solos, em todo o mundo, estão degradados. Os dados são da pesquisadora Maria de Lourdes Mendonça Brefin, da Embrapa Solos (Rio de Janeiro, RJ), representante brasileira no Painel Técnico Intergovernamental de Solos (ITPS) da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), composto por 27 especialistas em solo de diversas nacionalidades. 
 
Brefin abriu a mesa-redonda Solos, Ciência e Vida, na segunda-feira passada, durante a Semana Científica Johanna Döbereiner, na Embrapa Agrobiologia (Seropédica, RJ) dividindo espaço com a pesquisadora Adriana Maria de Aquino e com a professora Clarice de Oliveira, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). As três apresentaram aspectos diferentes sobre esse recurso natural e a importância da conscientização a respeito de seu uso sustentável. 
 
Conforme lembrou a professora Clarice, a relação do homem com o solo confunde-se com a própria história da humanidade e começa a ganhar ainda mais expressão a partir da revolução agrícola, no período Neolítico, com o surgimento de comunidades agropastoris, a domesticação de animais, a fabricação de armas e utensílios e a descoberta do arado. "A agricultura teve influência direta no surgimento das cidades. Na Mesopotâmia, na região do Crescente Fértil, houve o registro de uma das primeiras civilizações agrícolas. Há cerca de 2 mil anos antes de Cristo, na Grécia, houve a compreensão dos solos e de suas diferenças. E na Roma Antiga, há registros de vários ensinamentos em relação ao solo, como sua classificação e redução da erosão", ensinou.
 
Os ensinamentos evoluíram e o uso do solo aumentou consideravelmente ao longo dos anos. No entanto, embora esse recurso natural tenha capacidade de recuperação, quando tomados os cuidados e precauções necessárias, ele não é considerado renovável na escala humana – são necessários cerca de mil anos para formar de 2 a 2,5 centímetros de solo, segundo Brefin. E, ainda assim, os solos estão sob pressão. Uma série de fatores favorece a sua degradação e contribui para a perda de produtividade - como o grande crescimento populacional, a intensa competição por água, as mudanças climáticas, a contaminação por resíduos urbanos e metais pesados, a expansão urbana e a mineração, entre outros.
 
Foram esses fatores, segundo Brefin, que motivaram a FAO a declarar 2015 como o Ano Internacional do Solo, com o intuito de divulgar e conscientizar sobre a questão, o que já foi um primeiro resultado do trabalho do ITPS. "Além disso, estamos trabalhando para termos outros resultados, como a atualização da Carta Mundial de Solos, a inclusão do tema nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, o preparo de um relatório global sobre o estado da arte dos solos do mundo, o suporte ao desenvolvimento de capacidades em solos em várias regiões e a instituição de um Dia Mundial do Solo, em 5 de dezembro", destaca a pesquisadora.
 
A governança de solos no Brasil foi debatida em março em um evento realizado em Brasília, quando Embrapa, Tribunal de Contas da União (TCU) e outros parceiros abordaram o tema e lançaram a chamada Carta de Brasília. A conclusão é de que ainda há um longo caminho a ser percorrido. "O histórico de levantamentos sobre solos que temos é das décadas de 1950 e 1960, e ainda hoje usamos esses dados", revelou. "O acórdão do TCU confirmou o que já sabíamos: não há no País dados e informação de solos em escala adequada para a tomada de decisões; não há um sistema único de informações de solos, o que gera dificuldade de acesso aos dados e informações existentes; e o nível de conhecimento não é suficiente para o planejamento do uso da terra em nível de microbacias hidrográficas, conforme estabelece a legislação atual", destacou a pesquisadora.
 
Degradação na região serrana fluminense e ação da Embrapa na recuperação do solo
 
O preparo mecanizado da terra, o excessivo uso de adubação com fertilizantes solúveis, o plantio sem curva de nível e o intenso uso de agrotóxicos foram alguns dos fatores que contribuíram para a perda de produtividade em Nova Friburgo, na região serrana do Rio de Janeiro, uma das maiores produtoras de hortaliças do Estado. Isso, somado à catástrofe das enchentes de 2011, levou a Embrapa Agrobiologia a desenvolver um projeto na região, onde foi instalado o Núcleo de Pesquisa e Treinamento de Agricultores (NPTA). 
 
"Com a catástrofe, 60% do município foram destruídos. A Fazenda Rio Grande, na microbacia Barracão dos Mendes, que envolve cinco comunidades e onde atuamos diretamente, foi muito afetada com deslizamentos de terras e enchentes. Os agricultores simplesmente reorganizaram o solo e continuaram a produzir, mas havia muita areia e houve queda significativa na produtividade", contou a pesquisadora Adriana Maria de Aquino, da Embrapa Agrobiologia, que atua diretamente no NPTA. "Fizemos uma série de análises de volume e fertilidade e percebemos que a fertilidade química não foi alterada, apenas a física e a biológica. Então começamos a aplicar uma metodologia prática junto aos agricultores, verificando como as práticas agrícolas poderiam melhorar os indicadores, e hoje conseguimos identificar quais manejos deram melhores resultados", completou.

Liliane Bello (MTb 01766/GO)
Embrapa Agrobiologia

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