13/01/22 |   Mudanças climáticas

Estiagem no sul do Brasil: Considerações e indicações técnicas para o manejo da macieira

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O cultivo de macieiras no sul do Brasil, ocorre sob condições climáticas descritas, segundo a classificação climática de Köppen, como clima subtropical úmido ou clima temperado suave. Nesta região, os volumes anuais de precipitação pluviométrica são superiores a 1.700 mm. 
A região Sul do Brasil apresenta volume elevado de precipitação pluviométrica anual, porém a precipitação não é bem distribuída ao longo dos meses, sendo verificadas condições de estiagem entre os meses de novembro e março.

Esta condição é mais acentuada em anos de ocorrência do fenômeno “La Niña”, caracterizado por anomalias na temperatura da superfície do Oceano Pacífico, que afeta o volume das chuvas na região sul do Brasil. Em 2021/22 estamos sob a influência deste fenômeno (que esta ocorrendo pelo segundo ano seguido), o qual está afetando as condições climáticas da região, provocando estiagem prolongada.

Esta condição tem gerado déficits hídricos no solo que afetam o desenvolvimento das plantas e a produtividade, gerando prejuízos em várias cadeias produtivas. Para a cadeia produtiva da maçã, as consequências da estiagem se manifestam em pomares adultos e em pomares em formação.

Na principal região produtora de maçãs no RS, os dados compilados pela Embrapa mostram que os volumes de chuva nos últimos meses são bem inferiores à média histórica, gerando um déficit de 293 mm, o que representa 60% do volume normal para a região 

 Precipitação pluviométrica nos meses de outubro a dezembro da safra 2021/22 e precipitação histórica do período, nos municípios de Bom Jesus, Vacaria, Lagoa Vermelha e Caxias do Sul, RS.


Considerando a taxa de desenvolvimento dos frutos de macieira, o fornecimento adequado de água ao longo do ciclo é fundamental para boas produtividades com qualidade. Destaca-se que a disponibilidade de água para as plantas no período de dezembro em diante será essencial para a obtenção de frutos de maior calibre, bem como para a absorção de nutrientes, visando elevada qualidade de frutos.

Desta forma, a restrição hídrica na primavera e verão de 2021 está sendo determinante na redução do crescimento vegetativo e do desenvolvimento de frutos em pomares adultos de macieira, principalmente após meados de dezembro. Esta situação é mais evidenciada em locais com solos com horizonte superficial raso ou com presença expressiva de cascalho, cuja capacidade de retenção de água é menor, o que em determinadas situações pode causar a morte de plantas adultas.

 

Efeitos da estiagem

Em pomares jovens, sobretudo nos plantios realizados em 2021, o comprometimento no crescimento de ramificações é elevado, sendo evidenciada completa paralisação do crescimento de brotações em razão da intensidade da estiagem verificada nesse ciclo. A significativa redução da precipitação pluviométrica poderá ter impacto significativo em pomares de macieira implantados em neste ano, pois além do atraso do crescimento vegetativo e necrose de tecidos radiculares, pode ocorrer elevada mortalidade de plantas em certas localidades, acarretando aumento de custos pela demanda de mudas para restabelecer o número de plantas por hectare desejado em cada pomar.

A restrição hídrica está sendo determinante na redução do crescimento vegetativo e no desenvolvimento de frutos em pomares adultos de macieira na primavera de 2021, principalmente após meados de dezembro. Em pomares de macieira em plena produção são observados sintomas típicos de deficiência hídrica, como paralisação do crescimento de ramos, paralisação do crescimento de frutos e murchamento das folhas nos horários de maior temperatura no decorrer dia.

Em determinadas situações, em que a capacidade de retenção de água no solo é menor, os sintomas se mostram mais severos, com elevada abscisão e senescência foliar, murchamento de frutos e necroses de ramos. Em algumas situações constata-se a mortalidade de plantas adultas, dada à severidade da restrição hídrica nesse período.

Pomares de macieira com sintomas de deficiência hídrica. Vacaria, RS, 04 de janeiro de 2022. Fotos: Fernando José Hawerroth

No último decêndio de dezembro de 2021 e nos primeiros dias de 2022, houve aumento significativo da temperatura diária, ultrapassando o valor de 30°C em algumas localidades. A temperatura elevada, associada à alta radiação solar intensificou a frequência de frutos com danos de sol na epiderme, sobretudo em frutos localizados nas porções mais expostas da copa das plantas. Em tecidos foliares, além da possibilidade de ocorrência de porções necrosadas, podem ser observados sintomas de deficiência nutricional, sobretudo do nutriente potássio. 

Maçãs com sintomas de dano de sol. Monte Alegre dos Campos, RS, 04 de janeiro de 2022. Fotos: Fernando José Hawerroth

Para as cultivares precoces, como Condessa e Castel Gala, além de clones de Eva, o estresse hídrico tem acelerado a maturação dos frutos, com aumento dos índices de abscisão em pré-colheita. Já para os clones de Gala, na maior parte dos pomares, o estresse hídrico não tem determinado avanço significativo da maturação de maçãs. Em situações de maior restrição hídrica são evidenciados sintomas de desidratação dos frutos e amarelecimento.

 

Manejo de pomares sob condições de estresse hídrico

As alternativas para minimizar estes efeitos em pomares novos sem sistemas de irrigação envolvem o fornecimento periódico de água através de tanques pulverizadores adaptados para fornecer água de forma localizada na área de projeção da copa, principalmente em locais do pomar cujos solos apresentam horizonte superficial raso ou com presença expressiva de cascalho.

Para plantios realizados na primavera de 2021, sugerem-se aplicações frequentes de água (da mesma forma descrita acima), porém em toda a área de plantio. Para as porções do pomar com plantas com sintomas mais avançados de déficit hídrico (murchamento de folhas e frutos, amarelecimento e senescência de folhas, necroses de ramos) deve-se proceder a retirada de todos os frutos da planta, no sentido de minimizar as possibilidades de mortalidade de plantas.

Considerando a alta evapotranspiração verificada em pomares adultos, combinado com altas temperaturas e baixa umidade relativa em determinadas horas do dia, não são indicadas aplicações de fertilizantes foliares nestes períodos de estiagem, pois além da baixa eficiência na absorção dos nutrientes, devido às condições microclimáticas no interior do pomar, podem ocorrer danos nos frutos e folhas, decorrentes da rápida concentração de sais dos fertilizantes logo após a aplicação.

As aplicações fitossanitárias e de fitorreguladores para uso na pré-colheita devem ser realizadas nos horários com temperatura amena e com umidade relativa superior a 50%, visando o aumento da eficiência técnica. Vale a atenção em relação a esse aspecto, pois no mês de dezembro/2021 foram registrados vários dias com índices de umidade relativa inferiores a 30% no período da tarde, gerando alta perda evaporativa que pode minimizar o tempo de contato dos defensivos agrícolas na superfície foliar, podendo repercutir em perda de eficiência.

Considerando a elevada carga frutal evidenciada em parte dos pomares das principais regiões produtoras, e considerando a possibilidade de restrição hídrica para os meses de janeiro e fevereiro, o reajuste da carga frutal pode vir a ser executado mediante a retirada de frutos de menor interesse comercial (menor coloração, menor calibre e com presença de defeitos na epiderme dos frutos).

Destaca-se que a continuidade da restrição hídrica poderá comprometer parcialmente o desenvolvimento da coloração vermelha da epiderme e, principalmente, da massa fresca média dos frutos, dependendo da magnitude e da duração do período de estresse hídrico. O parcelamento da colheita, com a retirada dos frutos de maturação mais avançada, seguido do uso de fitorreguladores para retardo da maturação pode ser uma alternativa a ser intensificada nesse ciclo, visando o aumento do calibre médio dos frutos.

Contudo, esse manejo deve ser priorizado em pomares localizados em regiões de solo mais profundo, e mediante a possibilidade de ocorrência de chuvas durante o período de colheita, para que a melhoria de calibre dos frutos seja efetivamente obtida.

 

Responsabilidade Técnica:

Dr. Fernando José Hawerroth – Pesquisador em Manejo e Fisiologia de Frutíferas, Embrapa Uva e Vinho, fernando.hawerroth@embrapa.br
Dr. Gilmar Ribeiro Nachtigall – Pesquisador em Nutrição de Plantas, Embrapa Uva e Vinho, gilmar.nachtigall@embrapa.br

 

Embrapa Uva e Vinho

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