05/11/20 |   Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação

Artigo - Mercado ilegal de sementes forrageiras: perda para toda a cadeia

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Mercado ilegal de sementes forrageiras: perda para toda a cadeia

Lucimara Chiari

Dra. em Genética e Melhoramento

Pesquisadora da Embrapa Gado de Corte

 

Você certamente já ouviu falar em produtos piratas, não é mesmo? A pirataria pode ser definida como a prática ilegal de vender ou distribuir produtos sem a expressa autorização do proprietário. A qualificação da pirataria como crime se encontra no Artigo 184 do Código Penal, que trata da violação dos direitos do autor e os que lhe são conexos. Esta violação pode levar a pena de detenção de três meses a um ano, ou multa.

 

Muito mais do que ferir o direito autoral e a propriedade intelectual, a pirataria causa prejuízos a toda a sociedade.

 

No mercado de sementes não é diferente, a produção e comercialização de sementes piratas se espalham feito praga no Brasil. As sementes piratas não possuem procedência nem registros de campo junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento; não são fiscalizadas e não recolhem impostos e nem distribuem royalties aos desenvolvedores da tecnologia. Além disso, em geral, não têm beneficiamento e armazenamento adequado e podem carregar patógenos que colocam em risco toda a produção.

 

Por outro lado, as sementes certificadas possuem qualidades fisiológicas, genéticas e físicas essenciais para um plantio de sucesso, como alto índice de germinação e vigor e isenção de infestantes.

 

Segundo levantamentos da Associação para o Fomento à Pesquisa de Melhoramento de Forrageiras – UNIPASTO, a pirataria de sementes de forrageiras tropicais chega a atingir 30% do mercado. Porcentagem alta considerando que esse mercado movimenta aproximadamente R$ 1 bilhão por ano e representa cerca de 20% do mercado formal de sementes no Brasil.

 

A demanda anual por sementes certificadas de cultivares forrageiras tropicais no Brasil chega a 50 mil toneladas, das quais 75% destinam-se ao mercado interno e 25% para exportação. Esses números demonstram a importância dessa atividade para o agronegócio brasileiro e dá uma ideia do prejuízo que o mercado de sementes forrageiras piratas traz para toda a sociedade brasileira.

 

Em poucas palavras, podemos dizer que o governo perde por deixar de arrecadar impostos, o que se traduz em prejuízo à sociedade brasileira. Os obtentores perdem porque deixam de receber os royalties, o que compromete o retorno dos investimentos às pesquisas e, por consequência, a diminuição no lançamento de novas cultivares. Os produtores de sementes perdem mercado devido à competição desleal pelo preço, pois as sementes piratas podem custar muito menos. Por fim, o pecuarista é quem mais perde, pois compra sementes de baixa qualidade e pureza, o que compromete a formação e a qualidade de suas pastagens e, consequentemente, o desempenho de seu rebanho.

 

Infelizmente, identificar e autuar quem faz esse tipo de negócio não é uma tarefa fácil, logo, o melhor a fazer é convencer os pecuaristas a não adquirirem essas sementes. O que ocorre ainda hoje é que o pecuarista usa como critério para a compra de sementes o preço e não a qualidade. Isso é um grande erro, pois como diz o ditado popular, "o barato sai caro", pois o custo aparentemente reduzido das sementes piratas esconde os prejuízos devido a menor produtividade, menor qualidade e perigo da proliferação de pragas, doenças e plantas daninhas que o produto sem fiscalização pode introduzir na propriedade.

 

Comprando gato por lebre. Os pecuaristas, elo vulnerável desta cadeia, precisam se conscientizar de que a semente é um insumo básico essencial para o sucesso de qualquer sistema pecuário e que ela representa um valor relativamente baixo no custo total da produção. As forrageiras tropicais são um dos pilares estratégicos da sustentabilidade da pecuária brasileira no tripé: Alimento – Saúde – Genética. Como base da alimentação do rebanho bovino brasileiro, uma boa pastagem pode significar aumento da produção animal e da produtividade de carne por hectare.

 

Para frear o mercado ilegal de sementes forrageiras piratas, é importante que todos os atores da cadeia produtiva pecuária atuem juntos, desde as instituições de pesquisa, os desenvolvedores e provedores de cultivares, os produtores de sementes forrageiras, os comerciantes e, principalmente, os pecuaristas. Denuncie a pirataria de sementes forrageiras. Somente juntos teremos força para mudar e qualificar o mercado brasileiro de sementes forrageiras.

 

Lembrem-se, as pastagens são a base para produção de proteína animal nos trópicos e, em parte, a ela devemos o sucesso da nossa pecuária.

 

 

Embrapa Gado de Corte

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Mais informações sobre o tema
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