23/03/21 |   Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação

Artigo - Consórcio com amendoim forrageiro: alternativa para aumentar a longevidade do pasto e a produtividade do rebanho

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Giselle Mariano Lessa de Assis

Zootecnista, doutora em Genética e Melhoramento - Pesquisadora da Embrapa Acre

 

As plantas e os animais precisam de nitrogênio para produzir proteína e outras importantes moléculas, sendo esse elemento indispensável para o crescimento e produção dos pastos e do rebanho. O fornecimento de nitrogênio pode ser feito pela adubação química ou pelo uso de leguminosas. Em pastos formados apenas por gramíneas, a queda na disponibilidade de nitrogênio com o avanço da idade da pastagem é uma das causas mais frequentes de degradação. A aplicação anual de 50 kg/ha de nitrogênio seria suficiente para manter a produtividade das pastagens e essa recomendação equivale à adubação com cerca de 110 kg/ha de ureia. No entanto, essa prática dificilmente é adotada por pecuaristas na Amazônia, principalmente pelo elevado custo dos fertilizantes na região.

 

As leguminosas forrageiras são capazes de fixar parte do nitrogênio presente no ar e transferi-lo para o solo, processo que beneficia a pastagem e a resposta animal. Isso é possível devido à presença de bactérias que se associam às raízes da leguminosa. Um consórcio bem estabelecido garante o aporte do nitrogênio necessário para a manutenção da produtividade do pasto, pela incorporação de 50 kg a 100 kg de nitrogênio por hectare anualmente. Ao optar pela consorciação, os principais custos para o produtor estão relacionados à introdução da leguminosa no pasto já formado ou na reforma da pastagem. Deve-se considerar que os gastos nessa etapa serão diluídos ao longo do período produtivo. 

 

O amendoim forrageiro (Arachis pintoi) é uma leguminosa de porte baixo, com 20 cm a 40 cm de altura. Essa espécie se espalha pelo crescimento lateral de seus ramos finos e tenros (estolões). Pode ser intensivamente pastejada em sistemas rotacionados sem desaparecer da pastagem. Havendo umidade no solo, é capaz de rebrotar, emitir novos estolões e enraizar a partir dos abundantes pontos de crescimento, que não são totalmente removidos após o pastejo, garantindo sua sobrevivência e permanência nas pastagens.

 

Os consórcios formados com 20% a 30% do amendoim forrageiro são bastante estáveis e se mantêm produtivos por longos períodos (15 a 20 anos). Além de persistente, o amendoim forrageiro é bastante palatável, de forma que o consumo de uma dieta de qualidade reflete no aumento da produtividade animal. Além disso, não possui fatores antinutricionais como outras leguminosas e apresenta alta compatibilidade com diferentes espécies de gramíneas forrageiras tropicais. Atualmente, é a leguminosa mais indicada para consorciação em sistemas intensivos de produção no trópico úmido.

 

As gramíneas mais utilizadas no consórcio com amendoim forrageiro são a grama-estrela-roxa e os capins humidícola, tangola, braquiarinha, Marandu e Xaraés. Em pastagens consorciadas com Mombaça e BRS Zuri, o amendoim forrageiro ocupa os espaços deixados entre as touceiras dessas gramíneas. Nesses consórcios com gramíneas entouceiradas, de porte mediano a alto, deve-se ter mais atenção no manejo da pastagem para evitar o sombreamento excessivo do amendoim forrageiro por longos períodos. Quando bem manejada, a planta apresenta alta persistência também nessas condições.

 

O ganho de peso vivo costuma ser, em média, 30% superior em pastagens consorciadas com amendoim forrageiro, podendo ser até duas vezes maior em pasto consorciado quando comparado ao ganho de peso em pasto puro. Estudos realizados em diferentes regiões e países mostram que a resposta animal em pastagens consorciadas com essa leguminosa resulta em produtividades expressivas, sem adubação nitrogenada, que variam de 580 kg/ha/ano a 1.000 kg/ha/ano de peso vivo, com taxas de lotação de 2 a 4 unidades animais por hectare (uma unidade animal corresponde a 450 kg de peso vivo). A elevada produtividade animal ocorre principalmente em função do aumento da produtividade e longevidade da pastagem e do incremento da qualidade da dieta, que passa a contar com teores mais elevados de proteína.

 

No Acre, as pastagens consorciadas com amendoim forrageiro são formadas principalmente com a cultivar Belmonte. Sua propagação é feita por mudas, de forma que o produtor, primeiramente, estabelece um viveiro e, posteriormente, realiza o plantio na reforma ou recuperação da pastagem degradada. Existem diferentes métodos de plantio por mudas, inclusive o totalmente mecanizado, facilitando o estabelecimento das pastagens com gramíneas e leguminosas propagadas por mudas ou estolões. Recentemente, uma nova cultivar de amendoim forrageiro propagada por sementes, denominada ‘BRS Mandobi’, foi disponibilizada pela Embrapa. As orientações para aquisição de sementes podem ser obtidas pelo e-mail  cpafac.sipt@embrapa.br. O plantio do amendoim forrageiro pode ser realizado na reforma da pastagem, ou ainda, em pastagens já estabelecidas. Ambos os procedimentos se tornam mais fáceis pelo uso de sementes.

 

A época ideal para o plantio do amendoim forrageiro por mudas ocorre quando o solo já apresenta maior nível de umidade, geralmente no final do mês de novembro. O plantio precoce pode resultar na morte do material, caso haja um período, mesmo que curto, sem chuvas. A implantação pelo uso de sementes, por outro lado, pode ser feita mais cedo, normalmente no final do mês de outubro. A aplicação de determinados tipos de herbicidas, como os que contêm picloram ou aminopiralide, pode prejudicar ou impedir o estabelecimento do amendoim forrageiro nas áreas pulverizadas, pois tais substâncias possuem efeito residual prolongado. Portanto, a escolha e preparo da área adequados, assim como o emprego das recomendações técnicas de plantio e tratos culturais, são essenciais para o sucesso da implantação de pastagens consorciadas.

 

Informações mais detalhadas sobre o amendoim forrageiro, sua implantação e utilização em pastagens consorciadas podem ser obtidas por meio do aplicativo Pasto Certo (https://play.google.com/store/apps/details?id=br.embrapa.pastocerto) e de uma gama de publicações sobre resultados de pesquisas sobre o uso dessa leguminosa na atividade pecuária, incluindo os documentos Cultivar BRS Mandobi (https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/206000/1/26918.pdf); Semeadura do BRS Mandobi (https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/170910/1/26466.pdf); Cultivar Belmonte (https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/CPAF-AC/12187/1/cirtec43.pdf); Plantio Belmonte (https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/CPAF-AC/9709/1/comunicado152.pdf); Plantio mecanizado por mudas (https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/160646/1/26267.pdf), entre outros conteúdos, disponíveis no Portal da Embrapa.

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