05/12/21 |   Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação

Artigo - O compromisso global do metano: um novo desafio para a pecuária brasileira

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Rodrigo da Costa Gomes

Zootecnista, pesquisador da Embrapa

 

A 26ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP26), realizada na Escócia, movimentou as discussões no meio pecuário em razão da participação do Brasil no chamado Compromisso Global do Metano. Sendo signatário do compromisso, o Brasil se comprometeu a reduzir 30% de suas emissões de gás metano até 2030, um acordo que pode colocar pressão adicional sobre a pecuária, em relação às metas de emissões de gases de efeito estufa.

 

Por mais que as emissões de metano também somem às contabilizadas em carbono equivalente, o fato de se comprometer em reduzir especificamente este gás é um desafio que coloca a bovinocultura de corte mais em evidência. No Brasil, não há outra atividade econômica que produza mais metano do que a criação de bovinos e os sistemas de produção atuais não possuem mecanismos para realizar sua remoção, diferente do que acontece para o carbono, pelo cultivo de florestas ou enriquecimento de matéria orgânica no solo. O cumprimento do compromisso do metano deverá, portanto, dar mais foco nos rebanhos, modificando a alimentação dos bovinos e evitando períodos e indivíduos de baixa produção.

 

Na perspectiva de que a produção a pasto é um grande trunfo da pecuária brasileira, é necessário entender que apenas o bom manejo e a recuperação das pastagens podem não ser suficientes para atingimento da meta. O bom manejo das pastagens continuará tendo que ser protagonista, para reduzir a idade ao abate e aumentar a produtividade dos rebanhos de cria. No entanto, a composição química do capim inevitavelmente favorece a produção de metano pela digestão dos bovinos, proporcionalmente à sua qualidade, o que exigirá eficiência ainda maior dos rebanhos e a integração de outras práticas complementares, com potencial de redução da produção do gás.

 

Para aplicação das práticas existentes na redução da produção do metano em bovinos, não se pode desconsiderar a heterogeneidade do meio rural brasileiro. Por mais que técnicas como suplementação energética, semiconfinamento e confinamento tenham poder em diminuir a produção do gás, é necessário considerar um contexto de altos preços de insumos e diferenças sociais, econômicas, territoriais e acesso à assistência técnica. No caso de aditivos alimentares, é importante que estes proporcionem contrapartidas em desempenho e lucratividade, compatíveis com os custos de seu uso e que se vença o desafio de ampliar a suplementação mineral, e demais modalidades de suplementação a pasto, para o máximo do rebanho brasileiro.

 

As projeções de cenários que relacionam produtividade, nível tecnológico do sistema de produção e a produção de metano apontam para oportunidades, mas também pontos de atenção. Em pesquisa realizada pela Embrapa, fica claro que grandes avanços poderão ser dados com a transformação de sistemas de baixa produtividade, que produzem abaixo de 5@/ha/ano, para sistemas de alta produtividade, acima de 15@/ha/ano. Para estes casos, esforços na extensão rural e na assistência técnica poderão ter efetividade. Já para sistemas que apresentam elevada produtividade, as oportunidades de redução da produção de metano podem ser menores e virem a custos maiores, a partir de refinamentos nos sistemas produtivos.

 

Ainda explorando o aumento da produtividade para diminuir a produção de metano, outro ponto de atenção diz respeito às especificidades das atividades de cria e de recria e engorda. É provável que a atividade de cria tenha maior dificuldade em ampliar sua produtividade em nível suficiente para reduzir as emissões de metano no nível da meta proposta.

 

Por mais que haja oportunidades em aumento de fertilidade e da produção de quilos de bezerros desmamados, a tendência é que a atividade de cria seja cada vez mais realizada em áreas de menor fertilidade natural, impondo desafios logísticos e nutricionais. Sendo o caso, tecnologias como aditivos alimentares podem ser compatíveis e abrangentes. Já para a atividade de recria e engorda, a oportunidade está no abate precoce, onde integra-se a intensificação das pastagens, a terminação intensiva, uso de cruzamento industrial, entre outras.

 

O compromisso global do metano necessariamente muda a forma que abordamos e tratamos o impacto da pecuária sobre as mudanças climáticas. É necessário que todo o setor passe a entender melhor o contexto, para uma atuação articulada, rápida e, principalmente cuidadosa para não se criar mais desigualdade entre o universo dos produtores.

 

A proposição de soluções do tipo “one size fits all” pode não ser eficaz no horizonte disponível para cumprimento da meta e pode exacerbar desigualdades hoje existentes. Ao se formular um plano nacional para atingimento da meta de redução de metano, é mandatório considerar a variabilidade socioeconômica inerente à atividade da pecuária bovina.

 

Embrapa Gado de Corte

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