Tecnologia de controle do oídio por leite faz 25 anos e continua atual
Tecnologia de controle do oídio por leite faz 25 anos e continua atual
Foto: Eliana Lima
Wagner Bettiol em um dos primeiros experimentos em casa de vegetação em Jaguariúna.
Em 1997 o pesquisador Wagner Bettiol da Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP) apresentou no XXX Congresso Brasileiro de Fitopatologia, realizado em Poços de Caldas, MG, o trabalho intitulado “Controle de Sphaerotheca fuliginea da abóbora com leite”. Esse estudo foi divulgado também no volume 22 da revista Fitopatologia Brasileira. Posteriormente, em 1999, Bettiol publicou o artigo “Effectiveness of cow’s milk against zucchini squash powdery mildew (Sphaerotheca fuliginea) in greenhouse conditions” na revista Crop Protection, volume 18.
De lá pra cá, essa tecnologia, de baixo custo e sem impacto ambiental, não parou mais de ser usada por agricultores do mundo todo. Além dos agricultores, também é largamente utilizada em plantas ornamentais nos jardins do planeta. Se alguém fizer uma busca na internet por “Milk for the control powdery mildew” verá que são 6 mihões de acessos até abril deste ano. Número expressivo para uma tecnologia desenvolvida para o controle de uma doença de planta.
Trata-se simplesmente de uma mistura de 5 a 10% de leite de vaca cru ou pasteurizado e 95 a 90% de água. Essa mistura está sendo utilizada para controlar o oídio – doença que ataca diversas culturas, como abobrinha, alface, caju, eucalipto, feijão, melão, melancia, pimentão, soja, tomate e uva, entre outras e também um grande número de plantas ornamentais. A doença reduz a produtividade, podendo inclusive matar as plantas, e, consequentemente, causando prejuízos aos agricultores. Um fato interessante é que a espécie do fungo que causa oídio em uma determinada planta é específica para essa planta, não atacando outra cultura.
Bettiol, que desenvolveu o método, testou o leite inicialmente para controlar oídio em abobrinha e pepino com eficiência semelhante ao fungicida químico. Contudo, após a publicação do artigo em 1999, outros pesquisadores passaram a testar o método para controlar oídios em diferentes plantas em diversas partes do mundo.
Segundo Bettiol, é muito fácil reconhecer o oídio, pois ele forma colônias esbranquiçadas de aspecto pulverulento sobre a superfície de partes aéreas de plantas vivas. Quando essas colônias se unem, toda a folha fica esbranquiçada. O fungo tem um crescimento bem fino na superfície da folha formando uma fina rede de micélio sobre ela. Os prejuízos são decorrentes da absorção de nutrientes das folhas pelo fungo e também pela redução da área fotossintética da planta.
"Os fungicidas químicos indicados para o combate ao oídio são caros. Com a mistura leite e água se gasta praticamente metade do que o agricultor costuma gastar com fungicida", diz ele. Ainda de acordo com Bettiol, “um sério problema do uso de fungicidas químicos para o controle de oídio é a seleção de linhagens resistentes aos fungicidas, pois o fungo esporula abundantemente e rapidamente se tornam resistentes, com necessidade de aumentar as dosagens ou trocar de produto”.
A mistura leite com água é também totalmente inócua para o meio ambiente e para o aplicador, não causando nenhum impacto ambiental, o que não se pode dizer dos fungicidas utilizados para o controle da doença. Uma curiosidade contada por Bettiol é que, possivelmente, o oídio seja a doença de planta que mais aumentará com as mudanças climáticas, pois as novas condições ambientais serão favoráveis a esse patógeno.
Bettiol concluiu que a alternativa é eficaz, após testar várias dosagens, inclusive leite puro. Ele explica que para uma solução de 100 litros, por exemplo, são necessários 95 litros de água e 5 litros de leite, que devem ser aplicados desde o início do aparecimento dos sintomas. "A mistura deve ser utilizada nas plantas pelo menos uma vez por semana, desde o início da ocorrência da doença", ensina ele.
Cristina Tordin (MTb 28.499/SP)
Embrapa Meio Ambiente
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