18/05/22 |   Produção animal  Transferência de Tecnologia  ILPF

Produtores e estudantes conhecem estratégias para sistemas de ILPF na Caatinga

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Foto: Adilson Nóbrega

Adilson Nóbrega - Pesquisador Rafael Tonucci (à direita) apresenta plantio de sorgo e capim Massai na área do ILPF Caatinga

Pesquisador Rafael Tonucci (à direita) apresenta plantio de sorgo e capim Massai na área do ILPF Caatinga

Um grupo de 54 pessoas, entre produtores rurais, estudantes de Zootecnia e técnicos, conheceu, na manhã da terça-feira (17), estratégias para implantação e incremento de sistemas de integração Lavoura-Pecuária-Floresta para a Caatinga, em Dia de Campo na Embrapa Caprinos e Ovinos, em Sobral (CE). Os participantes visitaram a área experimental de sistema ILPF adaptado para o bioma e conheceram experimentos com o desenvolvimento de adubo nematicida para controle de verminose (Econemat) e de plantas forrageiras (gramíneas e sorgo), com potencial para uso em sistemas integrados de produção.

Entre os aspectos mais discutidos, na interação entre participantes e os pesquisadores expositores nas estações, estavam as possibilidades de melhor oferta de alimentos para rebanhos, a partir das potencialidades das forrageiras adaptadas e do uso sustentável de recursos naturais. Os participantes visitaram três estações no campo experimental: a área de implantação do ILPF Caatinga; área de experimento com adubação de gramíneas para controle de parasitas no solo; área de cultivares de sorgo para produção forrageira.

“É de grande aproveitamento a gente conhecer como se faz o manejo, como se planta, tirar dúvidas sobre os solos, para se ter uma forragem de qualidade para nosso rebanho”, avaliou Antônio Carlos Frota, produtor rural da Fazenda Oiticica, situada em Caracará, distrito de Sobral (CE). “Achei interessante presenciar três formas diferentes de sorgo que o produtor pode aproveitar, produzir e ficar menos dependente da compra de ração”, endossou Andressa Araújo, estudante de Zootecnia da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA).

Para o produtor rural Francisco Gomes, conhecido como “Edvar”, também de Caracará, a troca de conhecimentos foi muito produtiva e as informações também podem ser levadas para a produção local. “Pudemos melhorar nossos conhecimentos para nossa região e lá, quem estiver vendo o crescimento da nossa cultura, verá que essa nossa visita à Embrapa valeu a pena”, destacou ele. 

Os participantes do Dia de Campo visitaram a área de seis hectares do campo experimental onde foi implantado o sistema de produção ILPF Caatinga na primeira estação. Lá, foram implantadas faixas de vegetação conservada intercaladas com faixas desmatadas, com área útil de aproximadamente 2,8 hectares. O arranjo permitiu plantio de culturas como sorgo, milheto e feijão guandu, além do uso do capim Massai e da pastagem nativa.

“Aqui no sistema conseguimos produzir, em média, 7 toneladas de matéria seca por hectare por ano. Obtivemos 38 toneladas de silagem, que serviram como uma reserva para os períodos mais críticos, um material que foi todo consumido pelos nossos animais”, ressaltou o pesquisador Rafael Tonucci, que coordena os trabalhos de pesquisa com o ILPF Caatinga.

Nos testes no sistema, o manejo da pastagem para produção de alimento volumoso garantiu alimentação de rebanho com 21 ovelhas das raças Morada Nova, Santa Inês e Somalis, por um período de 90 dias, entre os meses de outubro e dezembro – período seco na Caatinga – somente com pastejo na área, sem suplementação no cocho, além de sal mineral e água.

Tonucci destacou também as potencialidades de mecanização de atividades no desenho do ILPF Caatinga, já em teste na área experimental. É o caso de máquina trituradora florestal, que gera serragem que pode ser usada para proteger solo e aumentar matéria orgânica, que está sendo desenvolvida em parceria entre a Embrapa e a empresa Tritucap.

“A cobertura do solo a partir da matéria resultante da trituração pode ser uma alternativa sustentável diante do preço dos adubos. Vemos com bons olhos essa parceria para desenvolver equipamentos específicos adequados às características da Caatinga”, afirmou o engenheiro agrônomo Eduardo Ferreira, gerente executivo da Tritucap, que esteve presente no Dia de Campo.

 

Adubação de forrageiras e controle de verminose

Na segunda estação do Dia de Campo, os pesquisadores Hévila Salles e Roberto Cláudio Pompeu abordaram estratégias de uso de adubos nematicidas [que combatem parasitas nematoides causadores da verminose em caprinos e ovinos] como estratégia para controle da verminose na chamada fase de vida livre – quando as larvas estão no solo, fora dos organismos dos animais. Os compostos, orgânicos, também podem ser usados para adubação de plantas forrageiras.

A estratégia do uso do adubo orgânico para controle de verminose, chamada de Econemat, é uma alternativa para reduzir o uso indiscriminado de vermífugos nos animais, que pode, inclusive, aumentar a resistência dos vermes aos medicamentos. “Cerca de 95% dos nematoides estão fora dos animais. A estratégia, então, se baseia em um adubo orgânico, aplicado no solo, que reduz o crescimento das larvas”, ressaltou Hévila.

Atualmente, estão em teste, no campo, adubos produzidos a partir de resíduos agroindustriais de mamona e abacaxi. Resultados de pesquisas preliminares com a aplicação de adubo a partir da torta de mamona mostraram resultados positivos, como a redução de OPG (contagem de ovos por grama de fezes) nos exames de animais, indicador usado para avaliar a infecção por parasitas. 

Durante a visita à estação, Roberto Cláudio apresentou a área de pesquisa com o capim BRS Tamani, cultivar da Embrapa que tem mostrado bom desempenho no Semiárido. “É uma gramínea de porte baixo, boa qualidade nutricional, que pode ser útil para enriquecimento da Caatinga e cobertura do solo”, frisou o pesquisador.

 

Produção de sorgo para forragem no Semiárido

Na terceira estação do Dia de Campo, os pesquisadores Fernando Guedes e Marcos Cláudio Rogério apresentaram características produtivas e nutricionais de diferentes tipos de sorgo testados no campo experimental da Embrapa Caprinos e Ovinos como recursos forrageiros. Eles detalharam as estratégias de uso do sorgo, de acordo com as finalidades desejadas pelos produtores.

Como alternativas para incremento de sistemas de produção no Semiárido, foram apresentados tipos para produção de silagem de alta qualidade (BRS 658 e BRS Ponta Negra); com alta quantidade de energia, apropriadas para consumo como forragem fresca (BRS 511); adequados para produção de biomassa (BRS 716 e o Agri 002E – desenvolvido na Bolívia e conhecida como “sorgo boliviano”).

O Dia de Campo foi realizado pela Embrapa, em parceria com as empresas Tritucap e Agreenvir. O evento contou com participação da Universidade Estadual Vale do Acaraú, que trouxe estudantes de graduação para a visita, como atividade de campo da sua Semana de Zootecnia 2022.

Adilson Nóbrega (MTB/CE 01269 JP)
Embrapa Caprinos e Ovinos

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