Artigo - Que capim eu planto?
Artigo - Que capim eu planto?
Haroldo Pires de Queiroz, zootecnista
Analista de Difusão de Tecnologia da Embrapa Gado de Corte
A primavera chegou e com ela as chuvas. Por isso outubro será um ótimo mês para plantar pastagens em quase todo o País. E logo vem a pergunta: “Que capim eu planto?”
Diferentemente das culturas anuais que permitem a escolha da cultivar a cada safra, a pastagem vai ocupar a área cultivada durante muito tempo, no mínimo dez anos. Se a cultivar for bem escolhida, a implantação da pastagem bem-feita, o pasto manejado corretamente e o solo receber a adubação anual de manutenção, o pasto pode durar mais de 40 anos. Temos em Campo Grande (MS), na Embrapa Gado de Corte, uma pastagem de capim-marandu de 1980 e que ainda vai longe.
O número de cultivares para a escolha do seu capim é cada dia maior; só as forrageiras lançadas em Campo Grande somam 15 materiais – seis coloniões, seis braquiárias e três estilosantes. Então, o primeiro passo para responder à pergunta inicial é conhecer as cultivares ao nosso alcance. Isto pode ser feito consultando um técnico.
Basicamente temos três grupos de capim: o grupo dos coloniões, o das braquiárias e o dos complementares. Os coloniões são o filé mignon dos capins. Apropriados para os solos férteis, suportam de 4 a 10 *UA/ha e proporcionam até 1.200 g/animal/dia (ali em dezembro ou janeiro). Para alcançar este desempenho, exigem altas doses de fertilizantes e manejo preciso, conduzido por quem entende do riscado. Entre eles, temos o mombaça, o zuri, o tamani e o quênia, cada um com sua especificidade.
As braquiárias são o arroz-com-feijão da pecuária de corte e ocupam cerca de 80% da área de pastagens cultivadas no Brasil. São capins menos exigentes em fertilidade do solo e em habilidade de manejo, aguentam mais desaforo, como dizem por aí. Mas não abusem que termina em degradação das pastagens. Em contrapartida, elas suportam uma lotação mais baixa (1 a 4 UA/ha) e proporcionam ganhos de peso que variam de baixo – 350 g/cab./dia na humidícola – a modesto - 750 g/cab./dia nas brizantas.
O último grupo é o dos capins menos plantados, mas nem por isso de menor importância para otimizar a produção de forragem numa fazenda. Temos a setária, bem adaptada a solos encharcados; o massai, que enfrenta as estiagens mais longas do Tocantins; e o buffel, que pode ser cultivado em áreas com precipitação pluviométrica anual de 400 a 700 mm.
Os quesitos a serem ponderados, ou critérios de escolha, podem ser agrupados em questões gerenciais e questões zootécnicas. As primeiras questões determinam o grau de intensificação do sistema de produção e dizem respeito a: perfil do gestor (corre mais riscos, investindo alto em fertilizantes?); qualificação da mão-de-obra (é capaz de lidar com a arte de manejar diariamente um pasto de tamani?); disponibilidade de recursos para compra de insumos; e acesso à fazenda (fica no Pantanal do Leque, onde uma carreta de calcário não chega ?).
As questões zootécnicas dizem respeito ao clima e à biologia do sistema de produção e envolvem perguntas sobre o clima (quanto chove por ano na fazenda, quanto dura a seca, tem geada?) e o solo (é fértil, pedregoso ou encharcado?). Depois cabe considerar as exigências nutricionais e hábito de pastejo dos animais, pois é muito difícil engordar boi na dictioneura e sai muito caro manter um pasto de quênia para vacas vazias.
Também é preciso ponderar se o capim a plantar tem características favoráveis que equilibram o defeito de outras áreas de pastagens. O paiaguás, por exemplo, pode render uma boa pastagem para a época da seca para quem tem muito xaraés, pois ele passa do ponto e perde muito da qualidade nessa época.
E só pra dar um fim na conversa, que ainda poderia ir longe, é preciso pensar nos usos do capim: é só para pastejo? É para pastejo e fenação? O mombaça, muito taludo, não serve. É para o gado e cavalos – a setária fica de fora. Para desmamar bezerros um pastinho de quênia vai muito bem, e assim por diante...
Para ajudar a encaixar um capim novo no seu sistema de produção, é possível contar com algumas ferramentas, como o PastoCerto ou o site Tropical Forages (tropicalforages.info). O PastoCerto (pastocerto.com), desenvolvido pela Embrapa, pode ser baixado gratuitamente nas lojas virtuais de aplicativos e usado no computador ou no celular.
Se você quiser se aprofundar na resposta da pergunta “Que capim eu planto?”, podemos ainda sugerir, para finalizar, o curso gratuito “Fazendo Certo: A Escolha da Forrageira”, ele se encontra o e-Campo, a plataforma de ensino à distância da Embrapa (embrapa.br/e-campo).
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