24/02/23 |   Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação

Dia de Campo sobre soja reúne produtores rurais do Norte Fluminense

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Foto: William Pereira/UFRRJ

William Pereira/UFRRJ -

No último ano, a área plantada com soja em Campos do Goytacazes saltou de 350 para cerca de 1000 hectares. O crescimento de mais de 300 % é resultado de um trabalho intenso nos últimos quatro anos envolvendo instituições de pesquisa, ensino, extensão e poder público estadual e municipal em torno de estudos e incentivos para a produção da commodity no Norte Fluminense. Em mais uma dessas ações, produtores, técnicos e estudantes conheceram no dia 16 de fevereiro as cultivares mais promissoras, os detalhes sobre o manejo e a viabilidade econômica da cultura em Dia de Campo realizado na Fazenda Santa Helena, em Campos do Goytacazes.

Além de cerca de 100 produtores da região, o evento atraiu a atenção de representantes de empresas nacionais e multinacionais que atuam na cadeia da soja, como vendedores de sementes, fertilizantes, defensivos, máquinas e inoculantes. A presença destes profissionais é um “termômetro” que mostra como a soja vem se tornando realidade na região, como bem ressaltou o Diretor Técnico da Pesagro-Rio, Sílvio Galvão, durante a abertura do evento. “Este é um sintoma positivo de que a economia está girando em torno da agropecuária local. Isso nos traz alegria e mostra que estamos no caminho certo”, disse Galvão.

Bactérias fixadoras de nitrogênio são o segredo do manejo

Em um solo pobre em matéria orgânica como os da região de Campos e Macaé, que no passado foi um grande centro produtor de cana-de-açúcar do país, o manejo da soja segue o script que fez do país o maior produtor mundial do grão. Nas lavouras do Norte Fluminense, a Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN) também é a responsável pelo vigor, crescimento e alta produtividade das plantas.

O pesquisador Jerri Zilli, da Embrapa Agrobiologia, ressaltou o papel da FBN e esclareceu aos produtores que aquela soja não recebeu nenhum grama de nitrogênio fertilizante. “A única coisa que recebeu foi a inoculação e as bactérias trabalharam de graça”, reforçou Zilli. O pesquisador explicou que se não fizer a inoculação, seria necessário utilizar o nitrogênio mineral e assim aumentar muito o custo de produção. “Desse jeito que foi feito aqui na Santa Helena, certamente vamos ter um valor de venda de 11 a 12 mil reais por hectare, mas se usássemos nitrogênio, iríamos para 3 mil reais a mais no mínimo, ou seja, o que está dando lucro são as bactérias. O que está dando lucro é o que a gente não enxerga”, complementou, destacando que o custo de produção total deve ficar entre 7-8 mil reais por ha.    

Apesar do interesse demonstrado pelos produtores, para a soja se concretizar como uma lavoura economicamente viável no Norte Fluminense serão necessários ainda alguns passos para melhorar o acesso a crédito, reduzir os custos de produção e transporte do grão. Neste sentido, a chefe de Pesquisa da Embrapa Agrobiologia, Claudia Jantália, colocou a necessidade dos estudos de *Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc) para a soja na região. “Isso vai possibilitar ao agricultor o acesso ao crédito rural e desta forma não vai depender única e exclusivamente do seu investimento”, explicou a pesquisadora.

Cláudia Jantália explicou ainda que o Zarc é um estudo que precisa ser demandado ao Ministério da Agricultura pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro. “As pesquisas já realizadas no passado e atualmente apontam nesse sentido, mas é preciso esse esforço do poder público em apoio aos produtores”, disse. É importante mencionar que os últimos dois anos foram marcados por boas chuvas no verão, típicas do fenômeno “La Ninã”, mas a tendência é que se instale o fenômeno “El Niño" no próximo ano e isso deve favorecer os temidos veranicos na região.

Além disso, a soja no Rio de Janeiro não faz parte do “hall” de culturas com isenção de ICMS para sua movimentação. Assim, para comercializar o grão dentro do estado, atualmente o produtor precisa pagar 20% de ICMS e se optar por exportar os grãos via porto de Santos paga 12%. Para Jonas Kluppel, gerente de uma fazenda produtora de soja em Macaé, já passou da hora do  Governo do Estado equiparar a taxa de ICMS do produto com outros grãos no estado, como por exemplo o milho em que não há incidência do imposto. “É quase que um desestímulo, porque os 20% de imposto são sobre a receita bruta, e no final das contas reduz ainda mais o lucro que já é baixo”, disse Kluppel. 

O estudo que avalia a viabilidade da produção de soja no norte fluminense começou entre  2017 e 2018 a partir de uma demanda de produtores da região que buscavam alternativas à decadência da  lavoura canavieira.  Desde então já foram avaliadas mais de 60 cultivares e ao menos dez apresentaram bons resultados. No campo, os pesquisadores observam o comportamento de diferentes cultivares de vários detentores de germoplasma e nenhum detalhe escapa à observação.

Em meio às lavouras de soja da Fazenda Santa Helena, o pesquisador da Pesagro-Rio Benedito Fernandes revelou aos participantes como vem sendo feita a avaliação das cultivares na Fazenda Santa Helena. “Anotamos e acompanhamos tudo, como as datas de quando plantou, quando emergiu, altura da inserção da primeira vagem, pois todas as informações são importantes para a avaliação da cultivar”,  explicou. 

Na mesma direção, o Agrônomo da UFRRJ Josimar Batista, que recentemente concluiu curso de doutorado sobre a adaptação de cultivares de soja no Norte Fluminense, destacou que aquelas de maturidade próximas de 6.0 são as que estão se adaptando bem à região e fecham ciclo em até 120 dias. 

O produtor Aluísio Gonçalves, anfitrião na fazenda Santa Helena, destacou sua falta de experiência com a cultura. “Eu não sei nada, mas estou disposto a aprender com eles”, disse. Gonçalves afirmou que ele e os outros produtores estão dispostos a aprender e a receber informações de técnicos, consultores e pesquisadores, “tão fundamentais para o bom desempenho de suas lavouras”.

Na última etapa do Dia de Campo, os participantes conheceram uma unidade de beneficiamento de soja que está sendo concluída na Fazenda Santa Cruz, localizada ao lado da Santa Helena. O anfitrião José Ricardo Fulli, gerente da Agro Pretyman, apresentou um silo para armazenamento dos grãos que poderá ser utilizado inclusive por novos produtores da região. “Este ano, produzimos 24 mil sacos de soja, mas vamos dobrar essa quantidade na próxima safra”, revelou com entusiasmo os planos da empresa.

Instituições de Pesquisa acreditam no potencial 

São diversas instituições que atuam na pesquisa e essa diversidade pode ser uma das razões para o sucesso dos estudos. A Zootecnista Elizabeth Fonseca Processi, diretora do Campus da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, em Campos dos Goytacazes, enfatizou esse comprometimento das instituições. "Ninguém faz nada sozinho, foram muitas instituições e pessoas que acreditaram no projeto”, lembrou.  

 

O Dia de Campo Pesquisa e Desenvolvimento da Soja no Norte Fluminense foi organizado pela Embrapa Agrobilogia, Pesagro-Rio, UFRRJ e Secretaria Estadual de Agricultura do RJ. E teve o apoio da FAPERJ, Acero Agronegócios Ltda, Apoio Agrícola, Casa do Adubo, AGG Agro Grãos e Agro Pretyman, Pianna Rural, TPDRONES, Casa Agrícola Irmãos Ferreira, Doutor Agro e Água Viva Com. e Rep. 
 

* ZARC
O Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC) é um instrumento de política agrícola e gestão de riscos na agricultura. O estudo é elaborado com o objetivo de minimizar os riscos relacionados aos fenômenos climáticos adversos e permite a cada município identificar a melhor época de plantio das culturas, nos diferentes tipos de solo e ciclos de cultivares. A técnica é de fácil entendimento e adoção pelos produtores rurais, agentes financeiros e demais usuários. Alguns agentes financeiros condicionam a concessão do crédito rural à observância aos indicativos do ZARC.

Ana Lucia Ferreira (MTb 16913/RJ)
Embrapa Agrobiologia

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